Enquanto Trump tenta desviar a atenção dos norte-americanos sobre a tragédia em curso no país com a pandemia e sua incompetência e obscurantismo ao enfrentá-la, culpando a OMS e a China, novo estudo feito por pesquisadores norte-americanos revelou que em Nova Iorque, que é o epicentro do coronavírus nos EUA, as cepas de vírus identificadas, até o momento, em nível local, chegaram da Europa.

A cidade de Nova Iorque sozinha já tem mais mortes pela Covid-19 que a China, e o estado de Nova Iorque já tem mais contágios do que qualquer país, após superar a Itália. Os EUA são, agora, recordistas mundiais absolutos de contágios, 465 mil, e estão em segundo lugar em número de mortes, 16,5 mil, só atrás da Itália (18,3 mil) – e piorando.

“Até agora a maioria [das cepas de coronavírus] parece proceder da Europa”, disse à AFP Adriana Heguy, geneticista da NYU Grossman School of Medicine que liderou a pesquisa. Ela acrescentou que entender a rede de transmissão do vírus irá ajudar os dirigentes a realizar “melhores intervenções” no futuro diante da Covid-19.

Heguy e sua equipe de cientistas determinaram o sequenciamento viral de 75 amostras colhidas das fossas nasais de pacientes dos hospitais Tisch, NYU Winthrop e NYU Langone do Brooklyn.

“As descobertas da pesquisa podem explicar a avalanche de casos de uma pneumonia misteriosa que médicos de Nova York trataram antes do início da onda de testes de detecção da Covid-19 na cidade”, acrescentou a pesquisadora.

Para ela, uma explicação possível para essa procedência da Europa se deva, em parte, “ao fato de os esforços terem se concentrado em conter os voos da China”, indicou.

PACIENTE INGLÊS

O primeiro paciente que estudaram não havia viajado para o exterior. “Pelas mudanças específicas que seu vírus sofreu, podemos dizer, com alto grau de probabilidade, que veio da Inglaterra”, assinalou Heguy.

O método de determinação da origem do contágio tem como base que todos os organismos vivos acabam sofrendo mutações com o tempo, mas os vírus ARN, como o novo coronavírus, introduzem erros em cada ciclo de sua reprodução. O que explica porque o vírus da gripe é tão distinto de uma temporada para a outra e precisa de novas vacinas.

Embora o coronavírus não pareça sofrer mutações tão rapidamente quanto o da gripe, há suficientes mudanças para que os cientistas rastreiem sua origem.

Para fazer isso, os pesquisadores de Nova Iorque incluíram as amostras que colheram em uma base de dados gerida pelo Global Initiative on Sharing All Influenza Data, projeto em que pesquisadores de todo o mundo compartilham dados sobre doenças como a Covid-19.

Além do interesse científico em entender as redes de contágio, pode haver aplicações clínicas dessa pesquisa. Como, por exemplo, determinar quais cepas provocam formas da doença mais graves, ou menos. O que poderia derivar em tratamentos adaptados a cada tipo de cepa.

Ainda na primeira etapa do projeto, a equipe espera sequenciar em breve cerca de 200 amostras por semana, a fim de ampliar a abrangência do estudo.

Após o Washington Post revelar que o presidente norte-americano recebeu em janeiro relatório dos serviços secretos sobre o risco do coronavírus, que na época o presidente bilionário via como uma “gripe comum”, Trump passou a culpar a OMS e a China pela pandemia, sabotando a imprescindível cooperação das nações para vencerem a batalha da Covid-19.

Até quase o último minuto, Trump resistiu às medidas de quarentena e chegou a sonhar em “reabrir os negócios a partir da Páscoa” – oito governadores republicanos até hoje se negam a cumprir o distanciamento social.

O menosprezo de Trump pela Covid-19 está custando ao povo norte-americano um custo elevadíssimo em perda de vidas, devastação do sistema hospitalar e da economia, e desemprego em massa.

Além de tornar seu “Make America Great Again” um pastiche, na medida em que a Europa, que sempre olhou para os EUA ao longo dos últimos cem anos em busca da ajuda, vê agora os EUA incapazes de sequer fabricarem máscaras cirúrgicas e respiradores, apesar de se intitularem a ‘maior economia do mundo’, enquanto sequestram equipamentos de proteção destinados a outros países assolados pela pandemia e supostos “aliados”.

Enquanto isso, a China surpreende a muitos pela sua capacidade de conter a pandemia, realizando a quarentena e testando em massa, de reorganizar a economia no espaço de tempo mais curto possível, mantendo a guarda para evitar um repique da doença, e de ajudar outras nações a enfrentar o coronavírus, como vem sendo visto na Itália.