A publicação de um estudo na revista “The Lancet”, uma das mais conceituadas do mundo, comprovou a segurança e resposta imune da CoronaVac em crianças a partir de 3 anos.

O ensaio clínico, que teve fases 1 e 2 com crianças de 3 a 17 anos, foi realizado pelo laboratório Sinovac com mais de 550 crianças na China. Segundo os estudos, mais de 96% dos participantes que receberam as duas doses desenvolveram anticorpos contra o Sars-CoV-2.

As crianças foram divididas em três grupos: 219 receberam doses de 1,5 micrograma da CoronaVac, 217 tomaram doses de 3 microgramas e 114 ficaram no grupo controle (ao qual foi designado um placebo).

Na primeira fase dos testes, realizada com poucos voluntários, todos os 27 participantes que receberam 1,5 micrograma do imunizante geraram anticorpos contra a Covid-19 apresentando títulos médios geométricos (GMTs) – eles indicam a quantidade de anticorpos capazes de neutralizar o vírus -, de 55.

Ainda na primeira etapa, 26 jovens tomaram 3 microgramas e produziram uma reação imune mais forte: GMT de 117.

Na etapa seguinte dos ensaios clínicos, dos 186 participantes do grupo de 1,5 micrograma, 180 (97%) desenvolveram defesas contra o Sars-CoV-2, com GMT de 86. Dos 180 integrantes do grupo de 3 microgramas, todos mostraram forte resposta imune, com GMT de 142.

Em praticamente todos os casos foram vistas diferenças significativas entre os GMTs resultantes de doses de 1,5 micrograma e 3 microgramas. Diante disso, os pesquisadores recomendam que sejam administradas duas doses de 3 microgramas da CoronaVac para crianças e adolescentes de 3 a 17 anos.

O trabalho concluiu que apenas um quarto delas apresentou algum tipo de reação à aplicação, mas sempre sintomas leves, como dor e inchaço no braço após aplicação. Apenas uma reação adversa grave foi relatada no grupo de controle – um caso de pneumonia; no entanto, não estava relacionado à vacinação.

Após 28 dias da segunda dose, os GMTs variaram entre 78 e 146. “Nossa descoberta de que CoronaVac foi bem tolerada e induziu fortes respostas imunológicas é muito encorajadora, e sugere que estudos adicionais em outras regiões, envolvendo populações multiétnicas maiores, podem fornecer dados valiosos para estratégias de imunização envolvendo crianças e adolescentes”, afirma o pesquisador Qiang Gao, da Biofarmacêutica Sinovac.

Gao ressalta que, apesar de crianças e adolescentes geralmente não desenvolverem quadros graves de Covid-19, ainda podem transmitir o vírus, o que explica a importância da imunização dos mais novos.

O estudo ainda está na fase 2. Só será possível constatar eficácia da vacina nesta faixa etária no próximo estágio. Na fase 3, os pesquisadores verificarão qual o nível de proteção contra casos graves, hospitalizações e mortes.

A CoronaVac utiliza a tecnologia do “vírus inativado”. Vacinas inativadas são compostas pelo vírus morto ou por partes dele. Esses vírus não conseguem nos deixar doentes, mas isso é suficiente para gerar uma resposta imune e criar no nosso organismo uma memória de como nos defender contra uma ameaça. A tecnologia é bastante tradicional e foi desenvolvida há cerca de 70 anos.

No início de junho, o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, já havia anunciado o pedido de registro do uso da CoronaVac em crianças e adolescentes com base nos estudos realizados na China.

De acordo com Dimas Covas, “a vacina do Butantan, a CoronaVac, também teve a sua aprovação para o uso em crianças a partir de 3 anos, de 3 a 17 anos, na China, e essa documentação está sendo incorporada aqui também pela nossa Anvisa”, disse Covas.