Os estudantes universitários do Equador exigiram que o presidente L. Moreno suspenda o pagamento da dívida com o FMI e destinar ao combate ao coronavírus os 325 milhões de dólares que o governo se propõe entregar ao organismo internacional.

“Esse pagamento significa uma alta traição ao povo equatoriano e demonstra o caráter servil do governo de Moreno e seus colaboradores em relação ao FMI”, declarou o presidente da Federação de Estudantes Universitários do Equador, FEUE, Mauricio Chiluisa, à agência Sputnik.

O líder universitário enfatizou que “há que priorizar a vida antes que a dívida, isso é um consenso entre as pessoas decentes que respeitam o povo”, e transmitiu a exigência do movimento estudantil de que o governo faça uma “moratória” no pagamento do principal e dos juros da dívida e destine todos os fundos direcionados a pagar dívidas externas em 2020 para “fortalecer o sistema de Saúde Pública”.

A situação de calamidade causada pela propagação do Covid-19 no Equador está superlotando hospitais e clínicas, até multiplicando o número de corpos jogados e queimados no meio da rua, mesmo com o país restringindo a mobilidade e com toque de recolher. No sábado, 4, eram 3.368 os casos confirmados de Covid-19 e 145 mortes.

Porém, a prioridade de Moreno não é amenizar o sofrimento do povo em uma situação totalmente descontrolada. “Para não vulnerar as fontes de financiamento futuras, o Equador decidiu fazer o pagamento do capital dos bônus 2020”, disse como pretexto para pagar o ministro das Finanças, Richard Martínez, no final do mês de março. Sua suposição é que isso permitiria, na medida em que o país respeite os compromissos, acessar a outros recursos.

“O compromisso de Moreno é com o FMI e outros agiotas internacionais. Com o povo equatoriano, que não tem tratamento digno nenhum, o compromisso do governo é zero”, assinalou Jaime Vargas, presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie).

Os estudantes universitários têm um plano para os fundos da dívida: esse dinheiro deveria ser destinado à compra de insumos médicos necessários para combater a covid-19. Uma das prioridades nessa área é a aquisição de elementos de “biossegurança” — como roupas ou máscaras N95— que garantam que os trabalhadores da saúde não continuem se contagiando, disse Chiluisa.

A destinação de fundos é urgente em um contexto em que, segundo a FEUE, “o governo equatoriano não está atendendo com os recursos minimamente necessários. Não pode se brincar com a vida dos equatorianos” advertiu.

Ao redirecionamento do pagamento da dívida, os estudantes universitários acrescentam outras medidas diretamente focadas nos setores mais desfavorecidos da sociedade equatoriana. Propõem que o governo suspenda por três meses o pagamento de serviços de eletricidade, água, telefonia e internet e distribuam ‘kits alimentares’ e bônus de 100 dólares mensais para “1 milhão e meio de chefes e chefas de lar que não têm recursos”.

Para a FEUE, as medidas poderiam ter sua fonte de financiamento, além do Estado, na cobrança, por exemplo, “da evasão tributária de 500 grandes empresas” do Equador. Essa dívida, apontou Chiluisa, representa cerca de 1,4 bilhões de dólares.

“Exigimos que o governo de L. Moreno escute as propostas do movimento estudantil universitário. Somos filhos e filhas de donas de casa, de empregados, de camponeses, de trabalhadoras domésticas e conhecemos a realidade do equatoriano comum”, concluiu o dirigente estudantil.