Imagem mostra o momento da atracação do módulo Tianzhou-3 com a estação Tianhe

A espaçonave de carga Tianzhou-3, que decolara a bordo de um foguete Longa Marcha-7 Y4 do centro espacial de Wenchang em Hainan, no sul da China, na segunda-feira (20), já realizou a manobra de encontro e atracação com a estação espacial chinesa Tianhe.

Dois dias antes, retornaram em segurança os três astronautas chineses (taikonautas, como chamados na China) que estavam há 90 dias na estação espacial, batendo o recorde chinês de permanência em órbita, o comandante da missão Nie Haisheng, Liu Boming e Tang Hongbo.

Em outubro, nova tripulação irá até à Estação Espacial chinesa para uma permanência de seis meses. O encontro e atracação da Tianzhou-3 com a cabine principal de Tianhe foi “ultrarrápido, mas suave”, descreveu o jornal Global Times: apenas 6,5 horas após o lançamento.

Com o envio da espaçonave de carga, completa-se a quarta das 11 missões programadas para completar até 2022 a construção da estação espacial de três módulos da China.

Causa comum

Na sexta-feira, em uma conferência de imprensa, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, reiterou a posição de Pequim de abertura e inclusão na cooperação espacial internacional.

“Explorar o espaço é uma causa comum da humanidade. A China sempre se comprometeu com o codesenvolvimento pacífico, igualitário e mutuamente benéfico do espaço, buscando o engajamento na cooperação internacional”, sublinhou.

“A estação espacial da China entrou em sua fase de construção completa. A China continuará a ampliar a profundidade e a amplitude da cooperação internacional, para tornar a estação espacial da China um laboratório espacial internacional que beneficiará a todos”, observou Zhao.

O retorno ocorreu no aniversário de Liu Boming, um dos três espaçonautas chineses. “Este é um aniversário inesquecível. Pisar mais uma vez no vasto espaço é meu privilégio e felicidade”, disse Liu depois de sair da cápsula de retorno.

Por volta das 20h40 de sexta-feira, a tripulação da Shenzhou-12 chegou em segurança a Pequim, seguindo-se uma breve cerimônia de boas-vindas no aeroporto. Os três passarão por quarentena e repouso de rotina.

Todo o processo foi tão tranquilo que Tang Hongbo foi visto brincando com uma caneta durante a volta à Terra. “O ouro verdadeiro não teme o fogo”, brincou Nie Haisheng com seus companheiros de tripulação ao reentrar na atmosfera terrestre, citando um provérbio chinês.

Outubro

A Tianzhou-3 levou suprimentos, equipamentos e propelente para deixar a Tianhe pronta para a próxima missão tripulada Shenzhou-13. A espaçonave de carga se separou do foguete e entrou em órbita pré-definida após um tempo de voo de quase 600 segundos. Às 15h22, os painéis solares se desdobraram suavemente, com todas as funções em condições normais de operação, segundo a Agência Espacial Tripulada Chinesa CMSA.

Yang Sheng, projetista-chefe do sistema de espaçonaves, disse ao Global Times que “como a missão Tianzhou-3 sustentará a estada de 6 meses dos astronautas no espaço, a densidade da carga é maior em Tianzhou-3 do que em Tianzhou-2, e a capacidade de carga da Tianzhou-3 também é superior à da Tianzhou-2. O número de pacotes a bordo da Tianzhou-3 é 25% maior do que em Tianzhou-2.”

Em maio, a Tianzhou-1 precisara de 8 horas para completar a aproximação e atracação, o que era um enorme avanço em relação aos dois dias que outra nave chinesa gastou em 2017.

A China tem se empenhado em intercâmbio e cooperação com agências espaciais internacionais, incluindo a russa Roscosmos e a Agência Espacial Européia (ESA), que desempenharam um papel positivo na construção da estação espacial chinesa. “Estamos dispostos a trabalhar com quaisquer institutos espaciais que sejam amantes da paz e devotados ao uso pacífico do espaço”, disse Hao Chun, diretor da Agência Espacial Tripulada da China.

A China precisou criar sua própria estação espacial após ter sua participação na Estação Espacial Internacional (ISS) vetada por uma lei norte-americana. Estima-se que a vida útil da ISS se esgotará por volta de 2024.

Hao também revelou que “haverá astronautas estrangeiros participando de voos espaciais tripulados da China, trabalhando e permanecendo na estação espacial da China”. Ele acrescentou que a China fará “um trabalho para selecionar astronautas estrangeiros para missões de vôo conjuntas à medida que a construção da estação espacial for avançando”.

Analistas previram que, em comparação com a ISS dominada pelos EUA, a estação espacial da China será mais inclusiva no envolvimento dos países em desenvolvimento e fornecerá uma plataforma para qualquer um com base na igualdade, cooperação ganha-ganha e mútuo respeito.

Já está definido o primeiro lote de um total de nove experimentos científicos internacionais de 17 países e 23 organismos de pesquisa selecionados para serem realizadas a bordo da estação espacial da China. O primeiro lote inclui polarimetria de explosão de raios gama proposta conjuntamente por Suíça, Polônia, Alemanha e China e uma investigação espectroscópica de gás das nebulosas, apresentada pela Índia e Rússia.

Em Marte, o veículo robótico (rover) Zhurong – o nome é de um antigo deus chinês do fogo -, completou 100 dias de operação em solo marciano e já percorreu mais de 1.000 metros, um deslocamento colossal em termos de pesquisa em outro planeta.

O Zhurong e o orbitador Tianwen-1 serão colocados no modo de segurança em função da conjunção solar, quando Marte e a Terra estarão em lados opostos em relação ao Sol, o que trará interferências para a comunicação de rádio com a equipe em solo.

O pouso do Zhurong aconteceu em maio e desde então o rover segue se afastando de seu módulo de pouso enquanto se desloca na direção sul, analisando diferentes rochas, dunas e outras formações de interesse dos cientistas.

Uma vez por dia o orbitador passa pelo veículo para transmitir dados ao centro de controle da missão, na China, e faz o registro em câmera de alta resolução.

O pouso do Zhurong sinaliza o avanço do programa espacial chinês, quando a taxa de sucesso nas naves com destino a Marte é historicamente de apenas 50%, já que tudo tem que ser realizado autonomamente devido à distância entre a Terra e o planeta vermelho.

Foi tudo perfeito na primeira missão a Marte da China, do lançamento às manobras para entrada em órbita correta, até a descida do Zhurong.

Como salientou o cientista italiano Roberto Orosei, com a Tianwei-1/Zhurong, a China fez “de uma só vez, o que a NASA levou décadas para conseguir”.