O Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB, Eron Bezerra, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, afirmou ao Portal PCdoB que a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas (COP26), encerrada no dia 12 de novembro, pressionou a pauta ambiental mundial. Para além dos discursos do ministro brasileiro do Meio Ambiente, a realidade nacional é de retrocesso ambiental, disse o dirigente. “Enquanto o mundo caminha para políticas limpas, Bolsonaro se empenha para recuperar indústrias poluentes como a de carvão”.

Na entrevista, Eron, que preside o PCdoB-AM, analisou também a política de crédito de carbono como tema estratégico e reforçou a necessidade de investimentos na geração de energia eólica e solar. Recentemente, projeto coordenado pelo dirigente na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde ele atua como docente, inaugurou o primeiro edifício solar do estado. “Uma demonstração clara de que existem alternativas e soluções para um ambiente sustentável, o que é importante para fundamentar e basear o desenvolvimento sustentável”, argumentou.

Política ambiental brasileira é predatória

O Brasil optou pelo caminho contrário ao da sustentabilidade, disse Eron. Segundo ele, Bolsonaro tem buscado financiamento privado para recuperar a indústria de carvão no sul do país. “O próprio BNDES, que é um instrumento oficial do governo, sequer pode aportar dinheiro nisso porque são proibidos por regras de compliance assinadas mundialmente. Ele procura recuperar indústrias altamente poluentes enquanto o mundo inteiro caminho para outra direção”, explicou.

“Passar a boiada é a expressão acabada de uma política predadora, concepção predominante e dominante no atual governo, que entende que a natureza é apenas um depósito de recursos para eles tirarem, se aproveitarem e degradarem todo o ambiente em detrimento das gerações futuras e das gerações presentes”, ressaltou Eron.

Os números apontam a gravidade da tragédia ambiental vivida sob o governo Bolsonaro, ressaltou Eron. A intensificação do desmatamento passou de 5 mil km por ano, registrado nos governos de Lula e Dilma, para mais de 11 mil km por ano no governo Bolsonaro. “É a expressão acabada dessa política predadora, dessa política de destruição dos recursos naturais. É também uma atuação de absoluto desrespeito pelas populações nativas e também ao ambiente como um todo. O prejuízo é para toda a população mundial”, completou o dirigente.

Amazônia e as consequências mundiais

Ele explicou que a mudança do clima na Amazônia afeta o mundo. “Esse grande desmatamento, as grandes queimadas estão na Amazônia. É a região que possui, felizmente, o maior estoque de florestas do mundo. Isso significa dizer que se continuar esse desmatamento nós não apenas deixamos de ser sumidouro de carbono, quando tiramos o carbono do ar para fazer a fotossíntese das plantas, como passamos a ser um grande emissor de carbono, quando você queima a floresta”, esclareceu.

“Os mais prejudicados nessa história são as populações que dependem diretamente da natureza dos recursos naturais para viver. São os indígenas, pequenos agricultores, castanheiros, ribeirinhos, ou seja, a população nativa é a grande prejudicada. Portanto, é a visão predadora do capitalismo em curso e cuja lógica é apenas usar recursos sem nenhum tipo de manejo sem nenhum tipo de controle”, analisou Eron.

Crédito de carbono: Política estratégica

Um tema estratégico destacado por Eron é a política de crédito de carbono. “Ainda não está resolvida e não vai ser resolvida tão cedo. A chamada política de carbono, o famoso crédito de carbono nada mais é para mim do que a questão mais sensível desse debate mundial ambiental de natureza estratégica”, afirmou.

A lógica da política de carbono autoriza um país a continuar poluindo desde que ele compre carbono em países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, explicou Eron. “Você pode continuar poluindo desde que você impeça que outros poluam”, disse. Na opinião dele, acontece uma transferência de responsabilidade dos países com capitalismo avançado para países da América do Sul e África, por exemplo.

“Isso é uma coisa perigosa porque é simpático aos ouvidos de muita gente, mas por outro lado essa política não alcança os que efetivamente precisam parar de poluir que são os grandes predadores per capita como Estados Unidos e Arábia Saudita”, afirmou Eron.

Ele contestou as afirmações de que a China estaria entre os grandes poluidores per capita. “Não é que a China não tenha poluição, mas quando você coloca isso em efeito per capita o país praticamente desaparece da estatística. A China tem 1 bilhão e 400 milhões de habitantes”.

Tecnologia

Eron defendeu o uso de tecnologia para pequenos produtores recuperarem áreas degradadas sem abrir novas áreas. “Se eu abro novas áreas eu estou provocando desmatamento e, na maioria dos casos, queimada. Se eu recupero áreas já degradadas simplesmente estou utilizando uma área que já foi afetada, já foi alterada. É menor o prejuízo do impacto ambiental”, comparou.

Ele defendeu o desenvolvimento de tecnologias para manejos apropriados para a Amazônia. De acordo com Eron, atualmente se cria um boi por hectare na região. Com a introdução do pastejo rotacionado é possível criar cinco bois em um hectare. “Portanto, não tem razão para se continuar fazendo pecuária de forma extensiva. Você pode criar outros mecanismos mais apropriados, mais tecnologicamente racionais que permitam a um só tempo aumentar, inclusive, o crescimento econômico e reduzir o impacto ambiental”, disse Eron.

“A política deles é tão estúpida que prejudica o próprio agronegócio apoiador do atual governo. Eles não têm critério nenhum”, concluiu.

Por Railídia Carvalho