Segundo pesquisa Datafolha (FSP 27.06.2020) a população brasileira entende que Bolsonaro é autoritário, incompetente, despreparado, só governa para os ricos, odeia pobre e é burro.

Por Eron Bezerra*

 

Ademais, 75% desse mesmo povo diz que defende a democracia e acham que Bolsonaro e o seu governo defendem a ditadura, a qual eles repudiam. E para que não restem dúvidas, nada menos do que 78% da população acham que o regime militar foi uma ditadura.

É um diagnóstico avassalador e, como é sabido, expressa rigorosamente o conteúdo e a forma do atual governo. Mas, infelizmente, essa mesma enquete indica que 22% da população apoia a ditadura, seja afirmando que “prefere a ditadura”(10%) ou simplesmente dizendo que “tanto faz” (12%), o que explica o patamar entre 20 e 30% que o presidente ostenta de apoio.

Como já expliquei em artigo anterior, neste mesmo espaço, o desenvolvimento da sociedade se dá de forma diferenciada, o que explica porque uma determinada parcela da sociedade ainda defende ideias obtusas, como ditaduras, terraplanismo, etc.

Como é sabido, a humanidade passou por três diferentes etapas básicas no seu processo de desenvolvimento: selvageria, barbárie e civilização, cujas ideias básicas de cada uma dessas etapas não são eliminadas ao se “inaugurar” a nova etapa. Elas persistem e tentam negar as novas ideias. É o que explica porque Bolsonaro tem esse patamar de apoio entre 20 e 30%.

E é exatamente nessa parcela reacionária que os Estados Unidos, via CIA, encontra terreno fértil à sua pregação autoritária e de negação da soberania nacional, bem como a massa acrítica de apoio aos seus movimentos golpistas, aqui ou mundo afora. Assim foi em 1964, em 2016 contra Dilma Rousseff e na atual ofensiva golpista do governo Bolsonaro, cujo ímpeto foi momentaneamente contido graças a ampla frente que se construiu em contraposição aos delírios ditatoriais das hordas bolsonaristas.

Objetivos, pauta, tática e aliados dos golpes executados pela direita

A essência dos movimentos golpistas é sempre de natureza geopolítica. Em 1964 era motivada pela tentativa dos Estados Unidos da América (EUA) de impedir que os países aderissem ao campo socialista, então liderado pela União Soviética. Hoje, novamente, os EUA pretendem implodir qualquer arranjo geopolítico, como os BRICS, por exemplo, que crie embaraços à sua pretensão hegemônica, cada vez mais ameaçada pelo crescimento econômico e pelos êxitos sociais e científicos da experiência socialista na República Popular da China.

O objetivo dos golpes patrocinados pelos EUA, seja no modelo clássico de quarteladas militares ou na versão contemporânea de golpes legislativos, têm, invariavelmente, uma pauta e uma tática comuns.

A pauta central é buscar assegurar a hegemonia geopolítica dos EUA, impedir que os países façam experiências progressistas, se apropriar dos recursos naturais desses países (pré sal, no caso do Brasil), eliminar direitos sociais conquistados pelos trabalhadores (contrarreforma da CLT), impor contrarreformas que aumente ainda mais a concentração de rendas (previdência), transferir ativos públicos (privatizações) ao capital privado, disseminar ideias obscurantistas (terraplanismo, criacionismo, negação da pandemia, etc.) e impor governos fantoches (tipo Bolsonaro).

A tática varia pouco: criminalizar as forças progressistas; disseminar mentiras – na era da internet elevada a um patamar jamais visto – para explorar o conservadorismo das camadas médias; esgrimir, demagogicamente, contra a corrupção, quando se sabe que ela é a patrocinadora e principal beneficiária dessa ação criminosa; e semear o caos, que ela própria cria, como violência, desemprego, precariedade dos serviços públicos, etc., com o propósito de aterrorizar as camadas populares.

Apoia-se, sempre, nas classes dominantes reacionárias e nos seus operadores no aparelho de estado, seja no legislativo, executivo e judiciário. Mobiliza, a soldo, como mercenários, figuras grotescas e de capacidade intelectual limitada para fazer o “trabalho sujo”, os quais geralmente são acobertados ou ignorados pelo aparelho policial e promovidos a “militantes” pelos meios de comunicação aliados. E através da pauta moral e de costumes envolve segmentos religiosos, variando de tipo mas não de conteúdo. Em 1964 era a igreja católica que organizava as marchas “com deus e a família pela propriedade”, agora são os evangélicos que fazem a cruzada em “defesa da família e da vida”, paradoxalmente em apoio a um grupo que defende a pena de morte, uma flagrante contradição contra a vida e a família.

A razão pela qual essas barbaridades conseguem enganar, ontem como hoje, uma boa parcela da sociedade, se explica pelo desenvolvimento intelectual desigual da sociedade e pela ofensiva midiática, bancada com recursos não declarados, que aprisiona até mesmo pessoas de boa fé.