Nunca é demais relembrar o que a ciência nos ensina: quando não se reage ao arbítrio em algum momento todos nós seremos vítimas dele, inclusive os que eventualmente praticaram o arbítrio.
Por Eron Bezerra*

Moro hoje reclama de que o site The Intercept Brasil divulgou a trama que ele e os procuradores da lava-jato armaram para retirar Lula do pleito e impedir que a chapa Haddad (PT) – Manuela (PCdoB) fosse eleita. Não deveria reclamar. Deveria saudar a “liberdade de imprensa”, como fez quando vazou, criminosamente, conversas privadas da presidenta Dilma Rousseff.

Na época, o então juiz Sérgio Moro grampeou, ilegalmente, a presidenta Dilma Rousseff e vazou essas conversas privadas aos meios de comunicação. E, após comemorar o crime que havia praticado como se tivesse feito a melhor das boas ações, ainda ousou justificar seu arbítrio argumentando que a liberdade de expressão e do direito à informação se sobrepunha a qualquer outro preceito legal.

Tamanha arrogância e ousadia jamais poderia ser compreendida por quem não tivesse o verdadeiro alcance do que acontecia no país. O Brasil, como os demais países emergentes, estavam (e estão) no alvo de uma cruzada da extrema direita para interromper o ciclo progressista e de avanços sociais que a maioria desses países estavam experimentando. Moro e sua trupe da Lava Jato, portando, nada mais eram do que um instrumento que a CIA e a apodrecida burguesia brasileira lançaram mão para tentar destruir esses países, interromper a nascente democracia brasileira, voltar a aplicar plenamente a política de desmonte do estado nacional e suprimir, mais ainda, os direitos sociais da população.

Isso compreendido, fica claro que a arrogância de Moro e os seus da Lava Jato nada tinha de bravura e muito menos de motivação republicana. Agiam ao arrepio da constituição motivados pelo sentimento de impunidade que essa retaguarda obscurantista sugeria lhes assegurar, bem como pela rede de proteção criminosa que os aparelhos de estado (legislativo, executivo e judiciário) e seus braços operacionais, dentre eles os meios de comunicação, ofereciam ao seu espetáculo midiático.

Qual a punição aos criminosos?

As notícias divulgadas pelo site The Intercept Brasil são iniciais, como eles mesmo fizeram questão de enfatizar. São, digamos assim, a camada superficial do solo. Imaginem o que não tem embaixo. E certamente é isso que apavora Moro e os seus da lava-jato.

O fato, além de criminoso, é gravíssimo, revoltante, uma afronta a democracia e a vontade soberana do povo. Exige medidas duras, radicais, iniciando pela condenação dos criminosos e, após trânsito em julgado, a expulsão do serviço público, na medida em que eles, tanto Moro quanto os procuradores da lava-jato, não mais reúnem condições éticas e morais para atuarem no serviço público.

Alguns servidores públicos são punidos e afastados de suas funções por 10% dos crimes que Moro e os procuradores da lava-jato cometeram. Crimes, aliás, que em nenhum momento eles sequer ousaram negar. Reclamam apenas de vazamentos e invasões, assuntos nos quais eles são especialistas.

A revolta popular é compreensível, assim como é gritante o desconforto dos que apoiaram as suas ações, muitos dos quais honestamente motivados pela melhor das intenções. Mas, diante dos fatos revelados, não há mais como sustentar a farsa. A caricatura está exposta, na mais cruenta de suas faces, e é exigida a justa punição para que o crime não seja compensado.

Imaginem o nível de justa revolta – podendo descambar para um compreensível ataque de furor – do qual seria tomado alguém que foi eliminado, digamos, de um concurso público e posteriormente constata que isso ocorreu por manipulação da banca examinadora?

Imaginem a explosão de ódio que incendiaria uma torcida de futebol ao constatar que seu time foi eliminado do campeonato porque o árbitro e os bandeirinhas estavam combinados com o adversário?

E então imaginem qual é o sentimento de 200 milhões de brasileiros que agora acabam de descobrir que nem o ministério público acreditava na denúncia que faria contra Lula; ao constatarem que tudo não passou de uma farsa na qual juiz e procuradores acertavam como proceder e como “arrumar” evidências para incriminar adversários; e, principalmente, de tomarem conhecimento que esse resultado eleitoral que aí está foi uma grande farsa.

* Professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB.