“Estamos rezando e esperando pelo Messias que chegará antes da Páscoa, o tempo de redenção. Estou seguro de que o Messias chegará e nos salvará, assim como Deus nos tirou do Egito. Em breve estaremos livres e o Messias nos redimirá dos males do mundo”, declarou o ministro da Saúde de Israel, Yakov Litzman.

A declaração do líder religioso judeu foi uma resposta ao jornalista Yaniv Kalif, do portal Hamal que, em coletiva do dia 19 de março, perguntou se os israelenses seriam obrigados a permanecer em quarentena durante o Pessach (a Páscoa judaica) que começa no dia 8 de abril.

A ignorante resposta do ministro Litzman não foi recebida como um escândalo em Israel, até que agora (no dia 1º) ele próprio e sua esposa foram detectados com a doença. O ministro foi submetido ao teste quando o casal apresentou sintomas do mal.

A declaração do ministro da Saúde do governo de Netanyahu mostrou a visão que predomina nas comunidades ultraortodoxas israelenses e que levaram o governo, submisso a esta corrente, a negligenciar as aglomerações em sinagogas nos bairros onde os integrantes dessa corrente residem.

Litzman não está só. O rabino, Chaim Kanievsky, de 92 anos de idade, líder e o mais velho dos rabinos vindos da Lituânia, que tem papel determinante na ideologia e costumes religiosos entre os dessa corrente, declarou, 4 dias antes da desastrosa fala do ministro da Saúde, que “um dia sem o estudo da Bíblia é mais perigoso do que o coronavírus para a sobrevivência do povo judeu e até de todo o mundo”.

Por conta disso, até a terceira semana de março, as Yeshivot (escolas religiosas judaicas) permaneceram abertas ainda que todo o sistema educacional israelense já estivesse suspenso.

Somente diante dos alarmantes resultados referentes aos judeus ultraortodoxos é que o rabino Shmuel Rabinovitch, responsável pelo Muro das Lamentações, pediu, no dia 16 de março, que os religiosos parassem de beijar o muro.

Diante da constatação de que o ministro da Saúde está doente, Netanyahu, que esteve em contato recente com o ministro, assim como o chefe do Mossad (serviço secreto israelense), Yossi Cohen, também estão em quarentena.

As últimas pesquisas com testes realizados no bairro Bnei Brak, Tel Aviv, o maior bairro de ultrarreligiosos de Israel constataram uma proporção de infectados de 1 a cada 3 testados no bairro. Estes dados já mostram que metade dos mais de 6.000 casos já detectados em Israel são de moradores dos bairros destas vertentes. Uma projeção divulgada pelo jornal israelense Haaretz indica que o número de infectados, só no bairro Bnei Brak, pode chegar a 75 mil.

Agora, em um despertar tardio para a dramática situação, as aglomerações em sinagogas foram limitadas a 20 pessoas de cada vez e já se fala em medidas restritivas a entrada e saída de pessoas no bairro que se torna o epicentro de propagação do vírus em Israel.