Medidas de arrocho de Lasso e carestia levam trabalhadores às ruas do Equador

Amplas manifestações convocadas pela Frente Unitária dos Trabalhadores (FUT), pela Frente Popular (FP), e pela Confederação das Nacionalidades Indígenas (Conaie) iniciaram, na madrugada da terça-feira (26), um dia de protestos no Equador contra a devastação da economia pelas políticas do presidente Guillermo Lasso.

Organizações como a Federação de Estudantes Universitários e a Confederação Nacional de Organizações Camponesas, Negras e Indígenas, entre outras, também aderiram ao movimento.

Estradas de várias províncias do país, incluindo Pichincha, cuja capital é Quito, foram bloqueadas de acordo com o Sistema Integrado de Segurança ECU911. O governo reprimiu os protestos prendendo 18 pessoas.

Segundo as organizações que convocaram a mobilização, os manifestantes exigem políticas econômicas e sociais justas, tanto para os trabalhadores quanto para os setores de baixa renda.

Entre as reivindicações estão o congelamento do preço do combustível que tem sofrido aumentos mensais desde 2020, e o apoio ao projeto do Código do Trabalho recentemente apresentado ao Legislativo pela FUT rejeitando a proposta governamental da Lei denominada de Criação de Oportunidades, que abre espaço para reduzir salários e piorar as condições de trabalho, já precárias.

No sábado (23), o preço do galão de diesel (3,8 litros) subiu para US$ 1,90, contra US$ 1 há um ano. A gasolina comum chegou a US$ 2,55. Logo depois, diante da rejeição ao aumento, Lasso congelou os novos preços e suspendeu os reajustes mensais. Mas não conseguiu reduzir o descontentamento popular.

“Não somos cegos. O governo anuncia um congelamento com um novo aumento que atinge a economia popular. Ações unitárias vão continuar”, afirmou da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) em sua conta no Twitter.

Leonidas Iza, presidente da Conaie, considerou que na pior hipótese deveria ter sido congelado a US$2,00 para gasolina extra ou ‘eco-country’ e US$1,50 para o diesel.

Os protestos desta terça-feira são os maiores desde que Guillermo Lasso assumiu o poder em maio último e acontecem em desafio ao estado de exceção de 60 dias decretado há uma semana com o argumento de apoiar os policiais na luta contra o crime.

“Creio que esta forma de responder ao povo não é adequada, é zombar do povo”, declarou o presidente da FUT, Ángel Sánchez, acusando Lasso de “jogar fora tudo o que pode ser feito em termos de querer dialogar com a população”.

Apenas cinco meses após assumir o cargo, Lasso acumula vários problemas. Ao conflito social e econômico se soma a crise carcerária, a onda de insegurança e as denúncias de manobras com suas empresas offshore reveladas na investigação Pandora Papers, divulgada por um grupo internacional de jornalistas, e pelas quais o presidente enfrenta três investigações paralelas.

De acordo com os Pandora Papers, Lasso controlava 14 empresas offshore – a maioria com sede no Panamá – e as teria fechado depois que o ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) aprovou uma lei em 2017 que proibia candidatos à presidência de possuir empresas em paraísos fiscais.

O presidente respondeu que anos atrás tinha “investimentos legítimos em outros países” e que se livrou deles para disputar as eleições presidenciais de 2021. Também alegou ter se desfeito do Banco Guayaquil, um dos mais importantes do país. A investigação também vai apurar as relações familiares e de negócios com Lasso daqueles a cujas mãos foi transferida sua fortuna pessoal e ilegítima.

O Congresso unicameral do Equador aprovou no domingo (10) a abertura de investigação para determinar se o presidente Guillermo Lasso violou a lei ao manter dinheiro em paraísos fiscais. “O plenário da Assembleia Nacional com 105 votos afirmativos – dos 137 possíveis -, resolveu levar adiante a correspondente investigação”, anunciou o parlamento.

Os Pandora Papers foram revelados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), e envolve cerca de 600 jornalistas de dezenas de meios de comunicação. As informações estão fundamentadas em cerca de 11,9 milhões de documentos de 14 empresas de serviços financeiros em todo o mundo.