Manifestantes se chocaram com contingente policial em Quito - Ivan Casteneira - Reuters

O presidente da Frente Unitária de Trabalhadores (FUT), Messiah Tatamuez, convocou “trabalhadores rurais e urbanos, estudantes, aposentados, universidades” para participar de uma greve nacional na próxima quarta-feira.

Enquanto isso, o governo de Lenín Moreno tenta, com a decretação do estado de exceção e desenfreada repressão, fazer retroceder o movimento nacional contra a medida imposta pelo FMI – de corte nos subsídios que são mantidos há 40 anos, o que fez o preço dos combustíveis ser elevado em 123%.

Desde o início das manifestações que levaram a confrontos com contigentes policiais, quando os participantes do protesto fechavam estradas e cruzamentos com barricadas e colchões e pneus em chamas, até o fechamento da edição desta matéria, já há, entre os manifestantes, 73 feridos e 379 detidos.

Embora as federações de transporte do Equador tenham suspendido, na noite da sexta-feira, 4, a greve que apoiaram diante do aumento dos preços dos combustíveis, segue a revolta popular, os protestos continuam.

O movimento indígena, outros sindicatos e estudantes alertaram que as mobilizações não vão parar. O presidente da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), Jaime Vargas, anunciou uma mobilização aberta em protesto contra as decisões do governo e censurou as prisões de centenas de ativistas praticadas desde quinta-feira.

O levante popular começou depois que, sem resposta para o endividamento extremo e a falta de liquidez numa economia dolarizada, o presidente Moreno acertou um programa com o Fundo Monetário Internacional, FMI, para conseguir 4 bilhões e 209 milhões de dólares.

O pacote de medidas em troca do empréstimo inclui o já citado fim de subsídios aos combustíveis, que aliviavam a população que sofre com salários baixos e serviços precários. Essa medida fez subir os preços do galão americano (3,78 litros) de diesel de 1,03 (R$ 4,18) a 2,30 dólares (R$ 9,33) – ou seja, 123% –  e de gasolina comum de 1,85 (R$ 7,50) a 2,39 (R$ 9,69) dólares. O país não tem moeda própria e usa o dólar.

Embora não se conhecem em detalhe as medidas que foram fechadas com o Fundo, há informações de que importantes direitos trabalhistas estão para ser cortados – a exemplo da redução das férias em 15 dias e ainda a ameaça de demissões em massa entre os servidores públicos, assim como o rebaixamento do teto salarial dos que ficarem. Também está previsto o aumento de impostos indiretos, tudo como imposição do FMI para a garantia de saldo para pagar bancos e o endividamento.

Na quinta e na sexta, as ruas de Quito foram tomadas por manifestantes com faixas e cartazes exigindo “Abaixo o Pacotaço” e “Não à Dívida com o FMI”. Os trabalhadores do transporte pararam em vários pontos; taxistas bloquearam com seus carros muitas ruas da capital e outras cidades, enquanto que com caminhões, pedras e pneus em chamas motoristas bloquearam a circulação em estradas, na maior mobilização no Equador desde 2007. Também foram suspensas as aulas no país.

A situação se repetiu com maior ou menor intensidade em cidades como Guayaquil, Ibarra, Cuenca e Ambato.

Em resposta, ao invés de negociar com os manifestantes, Moreno decretou por 60 dias “estado de exceção”, o que habilita o governo a suspender ou limitar direitos como livre circulação, além de fechar portos, aeroportos e passagens de fronteira. O Exército foi às ruas para conter as manifestações.

“Não queremos desestabilizar o país, mas lamentavelmente neste momento o que está se tratando é de sobreviver”, disse à imprensa o presidente da Federação Nacional de Transportes Pesados, Luis Vizcaíno que, tentando um apaziguamento propôs: “Se for possível baixar um pouco as tarifas do combustível acho que pode haver uma saída para que o Equador volte a ter paz. Moreno já disse que não recua nenhum milímetro da medida imposta pelo FMI.