Andrés Arauz lidera o 1º turno com 32,44% enquanto Perez e Lasso disputam o 2º lugar

Realizadas no último domingo (7), as eleições presidenciais do Equador serão decididas em segundo turno, dia 11 de abril, com o economista Andrés Arauz (32,44%), da União pela Esperança (UNES), líder da oposição ao neoliberalismo do governo de Moreno aguardando o adversário.

E disputando voto a voto, com 99,5% das urnas apuradas, encontram-se o indigenista Yaku Perez (19,65%), do Movimento de Unidade Plurinacional Pachakutik. e o banqueiro Guillermo Lasso (19,60%), membro da Opus Dei.

É que pela Constituição equatoriana para vencer no primeiro turno o candidato deve obter 50% dos votos mais um ou mais de 40% dos eleitores, com 10% de vantagem sobre o segundo colocado.

Para a Assembleia Nacional, composta de 137 membros, nenhuma força política conseguiu obter a maioria absoluta. Serão cinco os blocos legislativos que integrarão a Casa, com os defensores da UNES – partidários de Arauz, identificados com o ex-presidente Rafael Correa – ficando com 31,21%, seguidos pelo Movimento de Unidade Plurinacional Pachakutik (17,97%), Esquerda Democrática (12,26%), Movimento Creo (9,67%) e Partido Social Cristão (9,18%).

Após ter se projetado como continuador da “Revolução Cidadã” iniciada por Rafael Correa – de quem foi vice – o presidente Moreno se rendeu à política de submissão ao Fundo Monetário Internacional (FMI), pró-banqueiros e transnacionais, e não conseguiu sequer ser candidato. O carimbo de traidor ficou bem presente na mente dos equatorianos, assim como as ruas e praças ficaram tangidas pelo sangue vertido nos protestos que se ergueram contra a flexibilização dos direitos trabalhistas, demissão de servidores públicos, privatização de empresas e serviços do Estado, redução de subsídios aos setores populares e às áreas sociais, como saúde e educação.

Também jamais esquecerá o grau de degeneração e subordinação aos Estados Unidos, que chegou ao ponto de o governo Moreno entregar o ativista Julian Assange, do WikiLeaks, aos seus algozes, em flagrante despeito aos direitos humanos, à liberdade de expressão e em afronta a uma ampla campanha de solidariedade internacional.

Ex-ministro do presidente Rafael Correa, Andrés Arauz é um economista de 36 anos que coloca a geração de emprego e do fortalecimento do poder aquisitivo como centrais para a reconstrução do mercado interno. Sua imagem está identificada com os avanços socais conquistados no período em que, entre 2007-2017, o crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 3,4%.

Arauz tem denunciado que “o governo de Moreno – que durante o ano de 2020 despencou -9% (dados da Cepal) – tem sido nefasto para a grande maioria da população equatoriana, baseado em um modelo de economia política que concentra a riqueza em muito poucas pessoas e prioriza os especuladores estrangeiros, em meio a um processo de perseguição política, necessário para implementar esse modelo neoliberal”. Além disso, condenou, “em meio a uma absoluta destruição do aparato estatal que torna vulnerável os direitos da maioria da população em matéria de saúde e educação, entre outros”. A redução do investimento estatal em obras públicas em janeiro, de apenas US$ 33 milhões, foi a menor da última década para um começo de ano.

Para Arauz, a pandemia tornou ainda mais evidente o abandono do sistema de saúde e a falta de investimentos no sistema educacional”. “Tudo isso mostra como o governo havia abandonado estes temas e o equatoriano comum sentiu isso diretamente. O fato é que se aproveitaram de um momento de crise para aplicar a doutrina do choque e, em vez de gerar alivio ou mais direitos para os cidadãos, se utilizaram para aprofundar a precarização dos direitos trabalhistas e fomentar as privatizações”, ressaltou.

E no meio de todo este quadro de pandemia e entrega da soberania, frisou o candidato da União pela Esperança, “temos um processo de perseguição política aberto que significou a proscrição da principal força política do país. Apesar de tudo isso, graças às portas abertas de outros movimentos, estamos participando e vamos ganhar”.

Na avaliação de Arauz, “os principais desafios, claramente, estão ao redor da pandemia. A urgente necessidade de recuperar o poder aquisitivo dos equatorianos, liberando mil dólares a um milhão de famílias já nas primeiras semanas de governo. Em segundo lugar, encontrar soluções mediante a vacina para fortalecer o sistema público de saúde. E terceiro, retomar o modelo de desenvolvimento baseado na Constituição, relacionado com uma forte presença do Estado, liberando recursos aos governos locais para que façam obras e recuperem o setor público de qualidade, mediante o retorno humano que foi demitido”.

Comemorando a margem expressiva de votos recebida, Arauz disse que “a vitória do povo equatoriano neste domingo serve de estímulo à integração regional”. “Vamos relançar a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), vamos recuperar a integração não só entre os governos, entre os Estados, mas entre os povos, entre todos os movimentos sociais”, sublinhou.

ABUTRE

Como recordou a jornalista Cynthia García, do Página 12, entre 1999 e 2002, o Equador viveu a crise financeira mais importante em décadas, período em que Lasso deixou suas digitais. “No dia 8 de março de 1999, o governo declarou um feriado bancário de 24 horas que acabou durando cinco dias. Todas as operações financeiras foram suspensas. Enquanto isso, o presidente na época, Jamil Mahuad, decretou um congelamento dos depósitos por um ano. Mesmo assim, os bancos ‘quebraram’. Quando o dinheiro dos poupadores foi congelado, as pessoas não puderam sacar o seu dinheiro. Os bancos emitiram então certificados de depósito (CDR), comprovante de que a pessoa tinha uma determinada quantidade de dinheiro em sua conta, mas não podia retirá-lo. Os banqueiros começaram a especular com essa desgraça social e os bancos recompraram os certificados por 40% ou 50% do seu valor de face. Beneficiário dessa usura, Lasso foi um abutre interno contra os mesmos equatorianos aos quais pede agora o voto”, concluiu.