A entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), como almejam Bolsonaro e Paulo Guedes, significaria perda de autonomia na política econômica pelo próximo governo. A advertência é feita pelo professor de Economia da Universidade de Brasília José Luis da Costa Oreiro, que é fundador e coordena o Structuralist Development Macroeconomics Group, grupo de pesquisa no âmbito da Macroeconomia do Desenvolvimento Estruturalista.

O economista ressalta que a OCDE é uma organização que tem praticamente nenhum poder deliberativo e que não dispõe, por exemplo, de linhas que possam ser usadas para o financiamento econômico. “É mais uma espécie de clube dos países ricos que os países ricos estão convidando alguns países que não são ricos a se associar. Mas existem regras para se associar”, alerta.

Dentre as regras está a adoção pelo país da plena conversibilidade da conta de capitais, motivo de maior preocupação para o economista. “Se nós adotarmos a plena conversibilidade da conta de capitais, vamos perder o último resquício que resta de autonomia na formulação da política cambial no Brasil. Então, se o próximo governo quer mudar o regime cambial, não vai poder fazer”, afirma.

Segundo explica Oreiro, se o Brasil aderisse à OCDE, o próximo governo não poderia adotar, por exemplo, medidas de controle à entrada ou à saída de capitais: “O óbvio objetivo disso é limitar as opções de política econômica que estarão à disposição do próximo governo que, ao que tudo indica, será do presidente Luís Inácio Lula da Silva, que irá, então, governar pela terceira vez. Então eu acho isso um absurdo”.

Para o economista, a participação do país na organização não tem nenhuma vantagem para o Brasil. “Pelo contrário, só tem desvantagens, principalmente, no que se refere à perda de autonomia na formulação e execução da política cambial. Portanto, isso não é do interesse nacional brasileiro. É só uma espécie de selinho. O Guedes disse há alguns anos que, se o Brasil entrar na OCDE, ele se transforma em um país rico. Isso é realmente confundir causa e efeito. É de uma estupidez monumental”, critica.