Entidades reagem contra decisão do governo de reajuste zero a servidor
Diante das últimas indicações de que não haverá nenhum reajuste aos servidores públicos federais, em declarações feitas esta semana, tanto por Bolsonaro quanto por seu ministro da Economia, Paulo Guedes, representantes do funcionalismo federal reagiram com revolta e indignação e dizem que a mobilização vai se intensificar.
Depois de muita enrolação e um vai e vem de propostas em relação à reivindicação dos servidores por recomposição das perdas salariais, na tentativa de conter os protestos, greves e paralisações nos órgãos públicos, Bolsonaro admitiu, na última terça-feira, que provavelmente não haverá reajuste para nenhuma categoria de servidores, o que foi confirmado por Guedes na quinta-feira (9).
“Os servidores receberam com indignação a decisão do governo de não dar nenhum reajuste este ano. As perdas já somam mais de 30% desde a última restauração e a revolta é ainda maior porque vemos que o governo vai usar o dinheiro que seria para recompor o salário dos servidores públicos para a campanha eleitoral”, disse o presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas do Estado (Fonacate), Rudinei Marques.
Marques refere-se às constantes falas do governo de que não existe recurso para reajustes e a valorização dos servidores públicos, enquanto milhões de reais do chamado “orçamento secreto” foram rateados entre parlamentares aliados do governo no Congresso Nacional, e outra grande parte do Orçamento da União vai para os bancos e instituições financeiras.
Ao mesmo tempo, o governo federal registrou em abril a maior alta na arrecadação para o mês desde 1995, com um aumento de 10,9% sobre igual mês do ano passado, com mais 186,9 bilhões de reais.
“Os servidores receberam com indignação a decisão do governo de não dar qualquer reajuste neste ano. Agora os prazos são muito estreitos, a gente avalia que não daria mais tempo agora para o governo reforçar Orçamento e encaminhar medidas provisórias de reajuste, então vai nos restar denunciar para 1,2 milhão de servidores esse descaso total do governo Bolsonaro com o funcionalismo”, disse.
O presidente do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central do Brasil (Sinal), Fábio Faiad, que lidera uma das maiores greves já realizadas na instituição, classifica o recuo do governo como “infeliz”, e diz que o governo tem que negociar.
“Não aceitamos, isso é um absurdo. A negociação com servidores é um direito. O governo federal já foi denunciado na OIT (Organização Internacional do Trabalho) justamente por atacar a liberdade sindical. Vamos exigir a mesa de negociação”, destaca o sindicalista.
Segundo ele, “se [o governo] não consegue dar um índice maior, pode buscar alternativas sem custo, demandas não salariais dos servidores e tentar acordo”, afirmou.
Como o governo ainda tem até 30 de junho para mudar de ideia e conceder o aumento, sem ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal, as entidades de servidores prometem intensificar as mobilizações da categoria para pressionar ainda mais o governo.
“Essas posições do governo vão e voltam. Primeiro, falaram em aumento só para policiais, depois, o aumento (linear) de 5%. O governo não tem norte, não tem projeto político. A gente
sabe que pode ser mais um blefe, e isso significa que a gente tem que aumentar a pressão sobre o governo”, ressalta Luiz Henrique Blume, Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes).
Luiz Henrique, que informou que docentes e técnicos de 12 institutos federais e de uma universidade, a Universidade Federal do Pará, estão em greve em defesa do reajuste salarial, acredita que as paralisações nas instituições de ensino devem aumentar até o final do mês.
“O que as entidades vêm discutindo é a necessidade e a importância de intensificarmos esses processos de mobilização. Inclusive, para pressionar o governo a tratar com respeito os servidores e as servidoras e receber formalmente as representações e colocar com muita clareza quais são as propostas que ele tem para o funcionalismo”, afirmou o coordenador-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário e MPU (Fenajufe), Fabiano dos Santos.