Delegado Daniel Rosa comanda as investigações do Caso Marielle

Em nota conjunta, entidades de delegados de polícia de várias regiões do país repudiaram no domingo (03), em nota, as declarações de Jair Bolsonaro em relação à investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.
Além da Adepol do Brasil, assinam a nota a Fendepol (Federação Nacional dos Delegados de Polícia Civil do Polícia Civil), o Sindelpol-RJ (Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro), o Sindepol-AM Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Amazonas) e a Adepol-PA ( Associação dos Delegados de Polícia do Pará).
No sábado (02) Bolsonaro disse a jornalistas que o delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Daniel Rosa, responsável pelo caso, seria “amiguinho” do governador do estado, Wilson Witzel, e insinuou que o governador estaria manipulando as investigações do crime cometido em março do ano passado para envolver o nome do presidente.
“A minha convicção é de que ele (Witzel) agiu no processo para botar meu nome lá dentro”, afirmou o presidente, durante a compra de uma moto em pleno feriado de Finados, em Brasília.
A associação dos delegados destaca que o cargo de chefe do executivo não dá o direito a Bolsonaro a cometer “atentados à honra das pessoas”, principalmente das que desempenham funções no interesse da sociedade e não de qualquer governo.
“Valendo-se do cargo de Presidente da República e de instituições da União, claramente ataca e tenta intimidar o delegado de Polícia do Rio de Janeiro, com intuito de inibir a imparcial apuração da verdade”, diz a nota da Adepol. As entidades reafirmam o apoio irrestrito ao delegado responsável pela investigação e repudiam qualquer intimidação a ele e ao trabalho da Polícia Judiciária.
Bolsonaro havia afirmado que soube por Witzel, no dia 9 de outubro, que seu nome estava envolvido no processo de investigação da morte de Marielle e Anderson, depois que o porteiro do condomínio onde reside no Rio, o Vivendas da Barra, ter informado, em dois depoimentos no processo, que o acusado de ser um dos assassinos da vereadora, Élcio Queiroz, que está preso, teria procurado pela casa 58, de Bolsonaro, para ter acesso ao condomínio no mesmo dia do crime.
O porteiro anotou na planilha a casa 58 e relatou à polícia que, como Élcio Queiroz pediu para ir na casa 58 e se dirigia para a casa 65, de seu comparsa de assassinato, Ronnie Lessa, ele ligou novamente para a casa de Bolsonaro. Segundo ele, uma voz, que ele considerou ser do “seu Jair”, disse que sabia para onde Queiroz estava indo.
Promotoras do MP do Rio informaram, em entrevista coletiva, na quarta-feira (29), que periciaram o áudio dirigido à casa de Ronnie Lessa e constataram que ele, Ronnie Lessa, foi quem autorizou Élcio Queiroz a entrar no condomínio no dia do assassinato de Marielle.
Observou-se depois, que a perícia tinha sido feita de forma superficial, algumas horas antes da entrevista. Soube-se também que não foi feita perícia no equipamento do prédio. Especialistas consideram que este fato compromete a perícia e impede que se afirme categoricamente que o porteiro tivesse se equivocado ou mentido.
Uma das promotoras presentes na entrevista, Carmen Eliza Bastos de Carvalho, inclusive, acabou tendo que se afastar do caso por ter sido cabo eleitoral de Jair Bolsonaro.
No sábado (02), Bolsonaro informou que recolheu os áudios das ligações feitas entre a portaria e as casas do condomínio, segundo ele, “antes que elas fossem adulteradas”. “Nós pegamos, antes que fosse adulterada, ou tentasse adulterar, pegamos toda a memória da secretária eletrônica que é guardada há mais de ano. A voz não é a minha”, declarou Bolsonaro.
A medida está sendo considerada obstrução de Justiça e causou reação de parlamentares da oposição, que pretendem acionar o presidente na Procuradoria Geral da República (PGR).
A família Bolsonaro mantém relações antigas com integrantes das milícias do Rio de Janeiro, principalmente com o grupo envolvido diretamente no assassinato de Marielle.
O filho de Bolsonaro, Jair Renan, por exemplo, namorou a filha do pistoleiro Ronnie Lessa. Adriano Nóbrega, atualmente foragido, chefe de Ronnie Lessa no Escritório do Crime, espécie de central de assassinatos da milicia, foi homenageado duas vezes por Flávio Bolsonaro, inclusive com a Medalha Tiradentes, e tinha mulher e mãe empregadas em seu gabinete.
E, por fim, Bolsonaro tem foto abraçado com Élcio Queiroz. Muita coisa ainda precisa ser explicada neste episódio do porteiro e da visita de Queiroz a Ronnie Lessa na casa vizinha a de Bolsonaro.