A prisão do pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Guilherme Franco Netto, dentro da Operação Dardanários, nesta quinta-feira (6/8), foi alvo de questionamentos de entidades de saúde pública.

Em nota, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) e o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) manifestam “enorme perplexidade e apreensão” sobre a prisão de Guilherme. “Exigimos transparência e imediato esclarecimento sobre as razões dessa medida extrema, bem como ressaltamos a importância da presunção de inocência”, defenderam as entidades.

Reportagem do portal Metrópoles, do Distrito Federal, ouviu profissionais que trabalharam junto a Guilherme em diversos órgãos, como a própria e também na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e na Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde. Segundo os entrevistados, “trata-se de uma pessoa honesta e que a prisão dele deve ser um mal-entendido”.

Guilherme Franco Netto foi acusado de ser o contato na Fiocruz no esquema de direcionamento de contratos.

Um diretor da Opas, segundo o portal Metrópoles, relembra que Guilherme estava há muito tempo afastado de cargos de gestão. Ele deixou a diretoria do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador da SVS em 2013.

A Operação Dardanários investiga desvios de recursos da saúde e teve como alvo principal Alexandre Baldy, secretário dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, por suspeita de fraudes em contratos da área de saúde no estado de Goiás ocorridas no ano de 2013.

O professor Ildeberto Muniz, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ressalta que ficou “espantado” e que mais do que um ataque ao profissional Guilherme Franco Netto, sua prisão é um ataque à própria Fiocruz. “Vivemos um momento em que o negacionismo e os ataques à ciência e ao trabalho de cientistas se tornaram generalizados”, diz o professor.

“Vejo o que aconteceu ao Guilherme nesse sentido. Não há mais o respeito às pessoas, para que possam se defender, de saberem do que estão sendo acusadas. Fico preocupado de ver que profissionais com o histórico de contribuição importante no campo da saúde pública e na produção de conhecimento relacionada à sustentabilidade e à defesa do meio ambiente, como o Dr. Guilherme, estejam sendo tratados dessa maneira”, completa Muniz.

Em nota, a Fiocruz disse ter sido “surpreendida” com a prisão de Franco Netto. A instituição ressalta que é rigorosa em seus mecanismos de controle e transparência inerentes ao sistema de integridade pública e que abrirá processo interno para apuração dos fatos.

Leia a íntegra da nota da Abrasco e do Cebes:

Causa-nos enorme perplexidade e apreensão a notícia recebida pela manhã desta quinta-feira, 6 de agosto, sobre a detenção do pesquisador da Fiocruz e Coordenador do GT Saúde e Ambiente da ABRASCO, Guilherme Franco Netto. Essa detenção, em condições até agora não esclarecidas, foi decorrente de ação conjunta do Ministério Público Federal e da Polícia Federal em operação que investiga desvios de recursos na área da saúde envolvendo órgãos públicos.

Guilherme Franco Netto possui uma longa trajetória de serviços públicos prestados ao país e relevante atuação acadêmica no âmbito da saúde pública brasileira e internacional. Formado em medicina na UFF com doutorado em Epidemiologia nos EUA. Atuou como Diretor do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde entre 2007 e 2013. A Abrasco e o Cebes reconhecem o seu vasto conhecimento e sua atuação no campo da saúde pública e da saúde ambiental é amplamente valorizado por seus pares não apenas da Fiocruz, mas da comunidade científica brasileira e internacional.

Exigimos transparência e imediato esclarecimento sobre as razões dessa medida extrema, bem como ressaltamos a importância da presunção de inocência. Chamamos a atenção de toda a sociedade brasileira, da comunidade acadêmica, dos profissionais de saúde, bem como dos órgãos de imprensa comprometidos com a verdade, a democracia e a justiça, para que fiquem especialmente atentos em relação ao ocorrido. Além disso, é essencial que acompanhemos, com firmeza e em busca de justiça, seus desdobramentos. Não devemos permitir que acusações e conclusões precipitadas atinjam a honra de instituições e pessoas comprometidas com o país.

Rio de Janeiro, 06 de agosto de 2020

Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde – Cebes

Leia a íntegra da nota da Fiocruz:

“A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foi surpreendida na manhã desta quinta-feira (6/8) com a informação veiculada pela imprensa sobre a prisão do pesquisador Guilherme Franco Neto. A Fiocruz é rigorosa em seus mecanismos de controle e transparência inerentes ao sistema de integridade pública. O pesquisador Guilherme Franco é concursado e é um especialista de referência das áreas de saúde e ambiente, com extensa lista de contribuições à Fiocruz e à saúde pública. Diante das circunstâncias e como procedimento regulamentar, a instituição instaurou procedimento apuratório interno. A Fiocruz defende o princípio constitucional de presunção de inocência, tem convicção de que os fatos serão devidamente esclarecidos e está dando todo apoio necessário ao seu servidor, em contato direto com a família”.

__