Brasilienses enfrentam até 4km de filas para abastecer em posto de combustíveis que vende gasolina a R$ 2,98 como parte do Dia da Liberdade de Impostos (DLI).

A inflação no país continua em trajetória de alta, pressionada pelo aumento da energia elétrica e dos combustíveis, com aval do governo Bolsonaro, e corroendo a já minguada renda dos brasileiros. Em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), uma prévia da inflação oficial, avançou 0,83% – 0,39 ponto percentual acima da já elevada taxa de maio (0,44%). O índice foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (25), a partir de dados coletados do dia 16 do mês anterior ao dia 15 do mês de referência.

No ano, o indicador acumula alta de 4,13% e, em 12 meses, de 8,13%.

De acordo com o IBGE, mais de um terço do índice foi composto pelas altas derivadas do alto custo da gasolina e da energia elétrica. Mas não foi só: todos os grupos de produtos pesquisados tiveram elevação nos preços em junho, com destaque para a alta de 0,41% de alimentos e bebidas.

Resultado do IPCA-15 por grupos:

Alimentação e bebidas: 0,41%

Habitação: 1,67%

Artigos de residência: 1,38%

Vestuário: 0,88%

Transportes: 1,35%

Saúde e cuidados pessoais: 0,53%

Despesas pessoais: 0,32%

Educação: 0,03%

Comunicação: 0,15%

Conta de luz

Segundo o IBGE, o aumento da energia elétrica teve maior participação para a elevação da inflação da habitação (+1,57%) devido à mudança na bandeira tarifária de vermelha patamar 1, que é de R$ 4,169 a cada 100kWh consumidos, para bandeira vermelha patamar 2, cujo valor é de R$ 6,243. Diante da crise hídrica, que para especialistas do setor a culpa não é de São Pedro, o governo anunciou que vai fazer um reajuste na bandeira vermelha em julho, o que vai encarecer ainda mais a conta de luz e a medida deve vigorar até novembro. Além disso, Bolsonaro pressionou pela aprovação da medida provisória que autoriza a privatização da Eletrobrás – o que, segundo especialistas, empresários da indústria e do comércio, associações de consumidores e até representantes do mercado financeiro afirmam que vai encarecer ainda mais a conta de luz.

Gasolina e alimentos

Já o grupo de transportes respondeu pelo maior impacto sobre o IPCA-15 do mês, com alta de 1,35% puxado pelo aumento de 3,69% nos preços dos combustíveis. O preço da gasolina aumentou de 2,86% no mês, acumulando absurda alta de 45,86% nos últimos 12 meses. E Bolsonaro mantém o preço nas refinarias atrelado ao dólar e ao mercado externo.

Os preços dos alimentos e bebidas continuam subindo, registrando alta de 0,41% depois de crescer 0,48% em maio. Entre as principais altas de preços dos alimentos está a das carnes (1,14%), seguida pelo leite longa vida (2,57%) e de alguns derivados como o queijo (1,99%). Na alimentação fora do domicílio, o índice também acelerou: 1,08% em junho.

Em 12 meses contados a partir do início da pandemia do coronavírus, o preço dos alimentos subiu 15% no país, quase três vezes a taxa oficial de inflação do período.

Com o país mergulhado em crise, o desemprego recorde e a inflação corroendo as rendas, a fome no Brasil cresceu nos últimos meses. A pobreza extrema passou a ser realidade para 14,9 milhões de famílias brasileiras, enquanto 58 milhões de brasileiros correm o risco de deixar de comer por não terem dinheiro pelas contas da Ong Food for Justice.

Na última semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, que deixou milhões de brasileiros sem auxílio emergencial durante três meses, no auge da pandemia da Covid-19, declarou que a fome existe no país porque quem tem o que comer “exagera no prato” e disse que o problema seria resolvido distribuindo o “excedente” aos mais pobres.