Indústrias

Empresários denunciam que as medidas emergenciais para manutenção das empresas e dos empregos, anunciadas pelo governo Bolsonaro para enfrentar a crise do coronavírus, não chegaram às empresas de médio porte, com faturamento acima de R$ 10 milhões, que ficaram de fora do pacote anunciado há uma semana.
Além disso, as empresas estão tendo dificuldades de ter acesso a recursos nos bancos, ainda que o Banco Central tenha reduzido o compulsório.
Hoje (1°), Bolsonaro veio a público novamente para anunciar medidas que não traziam nada de novo e que foram anunciadas no dia 27 de março, como a linha de crédito de R$ 40 bilhões à pequenas e médias empresas para pagamento da folha de salários por dois meses, por exemplo, medida essa que não atinge empresas com faturamento abaixo de 360 mil anuais e receita acima de R$ 10 milhões por ano, deixando as de médio porte de fora.
A postergação de Bolsonaro em dar andamento às medidas emergenciais que já foram aprovadas pelo Congresso Nacional e o vai e vem de anúncios que não saem do papel tem irritado empresários e cidadãos que precisam de ajuda imediata.
Até às 15h e 20m, Jair Bolsonaro não sancionou o auxílio emergencial mensal de 600 reais para trabalhadores informais de baixa renda, que foi aprovado na segunda-feira (30) pelo Senado Federal.
“Já estamos na terceira semana, vai virar o mês e não sei o que fazer com a folha de pagamento”, afirmou o presidente da Enjoy Hotéis e Resorts, Alexandre Zubaran, segundo reportagem de Renée Pereira e Cleide Silva no Estadão.
O presidente da Associação Brasileiras da Indústria de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, disse que muitas companhias do setor, que emprega 270 mil funcionários diretos, temem o risco de não ter tempo hábil para conseguir pagar os salários de março integralmente.
“O grande receio que temos é de ocorrer uma convulsão social, caso as empresas não consigam pagar os salários nos próximos dois meses”, afirmou Ferreira, defendendo que o pacote de ajuda para pagamento salarial não deveria ter teto. Segundo Haroldo, 38% das empresas do setor são de micro ou pequeno porte.
O presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), Jamal Jorge Bittar, declarou que a cadeia produtiva do Distrito Federal pode sair dos trilhos de vez em 30 dias. “Em âmbito local, temos visto medidas mais enérgicas e que têm sido favoráveis para a indústria e o setor produtivo. Só que, no âmbito federal, temos sentido dificuldade de como acessar, por exemplo, as linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A operacionalização ainda está muito pouco esclarecida. Não temos conhecimento da regulação desses benefícios emergenciais nem como alcançá-los”.
O presidente do Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas (Sindepat) e do Beach Park, Murilo Paschoal, também pede ajuda. “Precisamos de medidas que ajudem a pagar o salário dos funcionários, já que o faturamento das empresas zerou”, declarou Paschoal.
André Ricardo Telles, presidente da Ecosan, companhia que desenvolve e produz equipamentos e sistemas para tratamento de água e efluentes, afirmou ter caixa para pagar os funcionários, “que são prioridade no momento”, mas também disse temer pela falta de recursos. “Em uma única semana, vários fornecedores cancelaram contratos. Grandes empresas que tinham pagamentos agendados já não estão pagando; não sei se estão preservando dinheiro ou, pelo fato de estarem trabalhando em home office, há dificuldades técnicas para o pagamento”, disse Telles, ao afirmar que tem tentado falar com clientes, e que nenhum deu explicação sobre quando poderão realizar os pagamentos.