Emissão de gases estufa caiu na pandemia. E se fosse o novo normal?
Como seria viver em uma cidade com menos poluição, menos engarrafamento e um transporte público eficiente? Nos meses iniciais da pandemia do novo coronavírus, em que houve uma quarentena mais rigorosa, os moradores de metrópoles ao redor do mundo provaram um pouco dessa experiência. Apenas os serviços essenciais funcionavam, o trânsito fluía e o céu estava limpo.
Na cidade de São Paulo, essa realidade se traduziu em números. Segundo dados divulgados pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente, a partir de março, com a diminuição do número de pessoas e veículos se deslocando pela cidade, o transporte público pôde circular de modo mais eficiente, reduzindo 52% das emissões de dióxido de carbono (CO2), um dos causadores do aquecimento global, em um dia útil médio de abril comparado a um dia útil média de fevereiro.
A mobilidade também melhorou, com as pessoas chegando mais rápido a seus destinos. Devido às ruas vazias, os ônibus passaram a circular em maior velocidade. Segundo o Iema, na primeira semana após o início oficial da quarentena em São Paulo, dia 24 de março, a velocidade média dos ônibus no horário de pico, entre sete e dez da manhã, chegou a 22 km/h. Esse número chegou a ser 15 km/h, valor 32% menor, no início do ano de 2020, ainda no período pré-pandemia.
Para fazer um acompanhamento constante da sustentabilidade e eficiência do transporte público na maior cidade do país, o Iema lançou uma ferramenta para acompanhar as emissões de gases do efeito estufa e material particulado em São Paulo.
Além das emissões de CO2, óxido de nitrogênio (NOx) e material particulado, o Monitor de Ônibus SP traz informações como a tecnologia da frota, número de passageiros e a capacidade para transportá-los. Felipe Barcellos, pesquisador do Iema, explica que o objetivo é monitorar as metas de uma lei municipal que prevê redução de até 100% das emissões gerados por ônibus públicos.
“Entre outras diretrizes, a política municipal estabelece que as emissões diminuam 100% para CO2 e 90% para material particulado e NOx. O objetivo é ver se vão cair a um ritmo anual que permita atingir o previsto nessa lei. De forma geral, as emissões vêm caindo um pouco, principalmente de material particulado, porque há uma renovação gradual da frota de ônibus em São Paulo. Ônibus mais antigos estão sendo substituídos por mais novos, com outras tecnologias emissoras”, disse.
Como exemplo, Felipe cita os trólebus, que são ônibus elétricos cabeados por linhas aéreas. Atualmente, São Paulo tem 201 veículos desse modelo, que representam apenas 1% da frota.
De acordo com o pesquisador, a entidade pode vir a realizar monitoramento semelhante a nível nacional ou para outras cidades. Para isso, entretanto, seria necessário ter acesso aos dados. “A gente gostaria de fazer isso para outras cidades, mas também é importante que tenha dados abertos e transparência de informação”, afirmou.
Carros são responsáveis por maior parte das emissões
Segundo Felipe Barcellos, embora a ferramenta monitore apenas os ônibus, devido às metas previstas em lei, os carros são responsáveis pela maior parte das emissões de CO2 e outros compostos prejudiciais. “Os carros são responsáveis por dois terços de todas as emissões de São Paulo. Os principais poluidores em São Paulo e em outras cidades são os automóveis”, disse.
De acordo com o pesquisador, o caminho para um futuro mais parecido com os dias da quarentena em que houve melhora nos níveis de poluição e mobilidade é dar preferência ao transporte público.
“A solução é priorizar o transporte coletivo. Um ônibus emite menos, é mais eficiente porque tem mais pessoas. O carro elétrico pode até resolver parcialmente [o problema da] qualidade do ar. Só que uma cidade com muitos automóveis vai permanecer com esses problemas que vemos hoje, de congestionamento, acesso à cidade, acesso ao transporte. É preciso equilibrar tanto a qualidade ambiental da cidade, quanto a qualidade urbanística”, destaca.