O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) realizou seu 7º Encontro Nacional Partido e Juventude, neste final de semana de 5 a 7 de abril, com foco especial na juventude. Gustavo Petta, secretário de Juventude do partido, fez a apresentação inicial do evento, destacando a presença de importantes lideranças e quadros políticos.

O encontro tem como objetivo principal fortalecer o PCdoB no debate das ideias, com uma programação densa do ponto de vista político e teórico. Petta ressaltou a importância de revisar e atualizar constantemente o trabalho do partido junto à juventude, destacando o sucesso na formação de quadros políticos e na participação em movimentos sociais.

Após a apresentação de Petta, a presidenta do PCdoB, Luciana Santos, fez uma mensagem de abertura do encontro, dando início aos debates e reflexões sobre o papel do partido na juventude brasileira.

Ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos proferiu uma saudação inspiradora durante o 7º Encontro Nacional do Partido e Juventude. Em sua mensagem, Luciana destacou a importância da juventude como protagonista na busca pelo conhecimento e compreensão dos fenômenos sociais, econômicos e naturais.

“Nós somos porta-vozes, nada mais nada menos, de uma perspectiva para o Brasil e para o mundo, que é a perspectiva do socialismo”, afirmou. Ela ressaltou que a inquietação e a busca pelo conhecimento são características fundamentais da juventude, e que é essa perspectiva socialista que os mobiliza e organiza para contribuir com o desenvolvimento da nação e o bem-estar das pessoas.

As turbulências internacionais

A presidenta do PCdoB enfatizou que a felicidade coletiva é essencial, e que é impossível alcançá-la sem pensar no bem-estar de todos. Ela situou o Brasil no contexto internacional, destacando as transformações profundas e as múltiplas crises que caracterizam a ordem internacional atual.

A dirigente partidária citou a experiência chinesa como uma referência de êxito da perspectiva socialista, ressaltando as lições teóricas e políticas que podem ser aprendidas com a trajetória do país asiático. Ela destacou que não existe um modelo único de socialismo, e que os movimentos socialistas devem ser moldados pela realidade concreta de cada nação.

“A China hoje se afirma com essa perspectiva. É um país que tem o maior poder de paridade de compra, erradicou a pobreza no ano passado, nada mais nada menos, no país tem 1 bilhão e 400 milhões de habitantes”, destacou Santos, mencionando também a influência econômica da China no cenário internacional, especialmente por meio da iniciativa do Cinturão e Rota da Seda.

A ministra destacou a importância da perspectiva socialista em um cenário geopolítico complexo durante o 7º Encontro Nacional do Partido e Juventude.

Em sua saudação, ela ressaltou o papel da tecnologia como elemento central na disputa geopolítica atual. Ela mencionou a China como um exemplo notável de domínio tecnológico, citando sua participação no desenvolvimento do 5G, semicondutores, desde a produção de adereços para o carnaval do Rio de Janeiro.

Além da China, Luciana destacou outras experiências socialistas, como o Vietnã e a União Soviética, como pontos de referência na afirmação do desenvolvimento do socialismo. Ela observou o crescimento significativo do PIB no Vietnã e a reeleição de Vladimir Putin na Rússia como exemplos do fortalecimento dessas nações no cenário mundial.

No entanto, Santos também enfatizou a defensiva estratégica que ainda permeia o movimento socialista desde o fim da União Soviética. Ela alertou para a ascensão das forças de extrema-direita em todo o mundo e destacou a necessidade de compreender esse fenômeno dentro do contexto da crise estrutural do capitalismo, evidenciada pela crise financeira de 2008-2009.

“A ascensão gigantesca das forças de extrema-direita é um debate que precisamos pautar para compreender o fenômeno”, afirmou Santos. Ela enfatizou a importância da perspectiva socialista como uma alternativa diante das crises e desafios enfrentados pela sociedade contemporânea.

Durante sua participação no evento, Luciana também fez uma análise contundente do cenário político atual, destacando os desafios enfrentados pelo movimento socialista em meio a uma onda de ascensão da extrema-direita.

A dirigente ressaltou a divisão das forças capitalistas, observando que as correntes que antes defendiam o Estado mínimo perderam espaço para a extrema-direita, que prega o ultraliberalismo e o autoritarismo como formas de impor suas políticas. Ela enfatizou a relação entre o neoliberalismo e o autoritarismo, argumentando que o último é necessário para impor o primeiro.

A líder comunista também apontou exemplos internacionais, como a ascensão de partidos de extrema-direita em países europeus como Portugal, Alemanha e Áustria, bem como nos Estados Unidos, onde Donald Trump recuperou força política mesmo após seu mandato. Santos destacou a dificuldade dos governos progressistas, como o de Joe Biden, em enfrentar o crescimento do populismo de direita, mesmo diante de conquistas econômicas.

Além disso, ela abordou questões internacionais, como o conflito na Ucrânia e o genocídio do povo palestino, condenando veementemente tais atrocidades e defendendo a necessidade de solidariedade internacional para combater essas violações dos direitos humanos.

Por fim, ela ressaltou os desafios enfrentados pela América Latina, caracterizando o contexto atual como de retrocessos. A ministra enfatizou a importância de se posicionar contra esses retrocessos e de continuar lutando por uma agenda progressista na região.

Santos destacou a mudança no cenário político internacional desde o primeiro período em que Luiz Inácio Lula da Silva era presidente do Brasil. Ela ressaltou a derrota recente na Argentina, com a ascensão do ultraliberal Javier Milei, evidenciando um cenário adverso para as forças progressistas na região, especialmente entre a juventude.

Por outro lado, a ministra enalteceu a política externa brasileira, que, desde o governo Lula, tem sido ativa e progressista. Ela mencionou as diversas viagens internacionais do ex-presidente e destacou a liderança do Brasil na agenda do G20 e no bloco BRICS. Além disso, a dirigente partidária elogiou a postura corajosa de Lula em questões internacionais, como o posicionamento em relação à Faixa de Gaza e a suspensão do acordo do Mercosul com a União Europeia.

A manipulação tecnológica das ideias

No entanto, ela também alertou para os desafios enfrentados pelo Brasil, incluindo as consequências da crise econômica de 2008-2009 e a guerra cultural em curso. Ela ressaltou a importância de enfrentar a manipulação digital e a luta de ideias sofisticada que ocorre nas redes sociais, destacando a necessidade de investir em estratégias de inteligência artificial para lidar com esses desafios.

Luciana ainda discutiu a ascensão dos dados e a suposta “morte da política”, conforme mencionado pelo autor Evgeny Morozov em seu livro. Ela ressaltou a importância de compreender esse fenômeno e suas implicações na política atual, especialmente diante da influência de figuras como Steve Bannon, que desempenharam papéis-chave em eventos como o Brexit, o movimento 5 Estrelas na Itália e a eleição de Bolsonaro no Brasil.

A ministra também abordou a mobilização da extrema-direita no Brasil, liderada por Bolsonaro, destacando suas tentativas de deslegitimar as eleições e as ações do governo Lula. Ela mencionou a resposta progressista à tentativa de golpe e enfatizou a importância da frente ampla e do isolamento da extrema direita como estratégias eficazes.

“No que diz respeito a uma movimentação das forças, a extrema-direita liderada pelo Bolsonaro no Brasil busca demonstrar força e se reagrupar”, observa. “Houve uma disputa de narrativa durante o ano todo, que nós ganhamos, seja porque eles montaram uma CPMI, e Jandira Feghali cumpriu um papel extraordinário, porque eles deram um tiro no pé porque a CPMI, serviu pra desmascarar ainda mais que aquilo era golpe mesmo”, avaliou. 

Além disso, abordou a influência da religião na política brasileira e o crescimento rápido de grupos religiosos conservadores. Ela alertou para a necessidade de compreender esse fenômeno e destacou a importância de atualizar o programa socialista do partido, que permaneceu inalterado desde 2009.

“Eles se viram nas cordas e reagiram. Convocaram uma mobilização em fevereiro com uma grande força, com muito dinheiro, com máquina de estado, com dinheiro da igreja, do agronegócio, com muito recurso, então uma força de mobilização e um discurso com eles. Então eles fizeram a fotografia que precisava para reanimar a sua potência”, ponderou Luciana. “Então, é uma simbiose assim, política, religião e reacionarismo. E também o interesse por conta da disputa de 2024, porque Ricardo Nunes e Caiado, são caras que só vão pra praça pública porque têm interesse de disputar o eleitorado em torno da liderança de Bolsonaro”. 

No seu discurso, a ministra ressaltou os desafios contemporâneos, incluindo a manipulação da informação, o uso de algoritmos e o poder de mobilização. Ela destacou a importância de compreender esses desafios e buscar saídas progressistas para enfrentá-los.

O que dizem as pesquisas de opinião?

A líder partidária também abordou as complexidades enfrentadas pelo governo e pelo país diante das pesquisas de opinião e dos desafios políticos.

Ela destacou a aparente contradição entre os avanços nas políticas públicas implementadas pelo governo Lula e a queda na avaliação do governo em pesquisas de opinião. Ela ressaltou o crescimento do PIB, a superação da balança comercial, a redução da inflação, a queda do desemprego e a valorização do salário mínimo como conquistas significativas, apesar da queda na popularidade do governo.

A ministra chamou a atenção para as principais preocupações apontadas pelos entrevistados nas pesquisas, incluindo corrupção, saúde, inflação e segurança pública. Ela destacou que essas preocupações refletem as demandas da população e a necessidade de o governo abordar essas questões de maneira eficaz.

Além disso, Santos ressaltou a importância do enfrentamento ideológico e da elaboração de novas políticas públicas que atendam às necessidades de todos os brasileiros. Ela enfatizou a necessidade de o governo transmitir preocupações com saúde e segurança, especialmente diante de eventos como a fuga espetacular de presos em Mossoró, que evidenciaram desafios na segurança pública.

A ministra também abordou a disseminação de desinformação nas redes sociais e a manipulação de narrativas políticas para prejudicar o governo. Ela alertou para a importância de combater a disseminação de informações falsas e destacou a necessidade de construir uma narrativa sólida e baseada em fatos.

“É possível que o nosso governo não consiga estar transmitindo suas preocupações com saúde e segurança. A fuga de Mossoró tentou ser um carimbo de governo incompetente na segurança pública. Assim também como o escândalo nas redes sociais por conta da falta de vacina da dengue, chegando a dizer que o Bolsonaro fez a vacina para a Covid e o governo Lula não faz para dengue”, exemplificou ela as distorções informativas. 

Luciana destacou a capacidade da extrema-direita de utilizar métodos, conteúdos e estratégias bem definidas para engajar seu público-alvo nas redes sociais. Ela ressaltou que, há tempos, a extrema-direita investe significativamente em dinheiro e recursos para disseminar sua narrativa, enquanto a oposição carece de uma estratégia unificada e de produção de conteúdo para enfrentar essa realidade.

A ministra citou o exemplo da economia dos aplicativos, onde o presidente Lula tem enfrentado desafios para explicar a necessidade de regulamentação e proteção dos trabalhadores, enquanto parte da população é persuadida pela narrativa de empreendedorismo, apesar da exploração do trabalho. Ela ressaltou que cerca de 20% da população brasileira constitui um núcleo duro que se mantém fiel a determinadas fontes de informação, mesmo fora da racionalidade.

A comunicação de governo com a juventude

Luciana Santos alertou para a importância de dialogar com a parcela da população que está em disputa e buscar estratégias adequadas para alcançá-la, destacando a necessidade de construir uma narrativa sólida baseada em fatos e evidências para combater a desinformação e a polarização.

A dirigente partidária destaca a pressão imposta pela política do déficit zero, enfatizando a importância de impulsionar a agenda do desenvolvimento por meio da industrialização e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ela ressaltou a necessidade de investimentos na agricultura familiar e na indústria para fortalecer a formação de capital bruto fixo, visando diversificar a economia além do agronegócio.

Além disso, a ministra elogiou a decisão corajosa em relação à Petrobras e à divisão de dividendos, reconhecendo o papel crucial da empresa estatal como patrimônio do povo brasileiro.

Um dos pontos enfatizados por ela foi a importância de cuidar da juventude brasileira, especialmente daqueles que nem estudam nem trabalham. Ela destacou que cerca de 10 milhões de jovens se encontram nessa situação, com uma parcela significativa sendo mulheres negras e pardas envolvidas na chamada política de cuidados. Santos ressaltou a necessidade de políticas públicas específicas para atender às necessidades dessa população.

A ministra também abordou as preocupações com a educação no país, ressaltando que ainda há um longo caminho a percorrer para a universalização da educação infantil e para garantir que todos tenham acesso à educação básica.

Ao final de sua intervenção, Luciana Santos convocou a juventude a se engajar na política e nas eleições municipais de 2024, destacando a importância de eleger jovens vereadores e prefeitos. Ela enfatizou a necessidade de fortalecer a frente ampla de forças democráticas para enfrentar a direita e a extrema direita, além de debater políticas públicas, regulação das plataformas e garantir a mobilização social.