Por iniciativa da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), vinte entidades encaminharam uma carta ao presidente da República, na sexta-feira (3), onde pedem a Bolsonaro “a revisão do seu posicionamento e a defesa clara da manutenção do isolamento social para o enfrentamento à pandemia da COVID-19”.
“Em todos os países em que há transmissão comunitária desse vírus, a combinação da quarentena, do isolamento social mais abrangente possível e da ampla testagem diagnóstica da população está demonstrando ser a ferramenta mais adequada para a contenção da disseminação do coronavírus”, afirmam os especialistas.
“O perigo representado por ela é real e talvez seja o maior desafio sanitário desta geração, como já reconhecido recentemente pelo Comandante do Exército Brasileiro”, ressaltam.
A seguir, publicamos a íntegra da carta, onde as associações e sociedades científicas da área de saúde afirmam: “A vida dos brasileiros, independentemente de suas faixas etárias, sociais ou profissão, deve estar acima de visões e interesses políticos e/ou econômicos. Ela depende de um esforço conjunto entre todas as esferas de governos federal, estaduais e municipais, do Ministério da Saúde, dos médicos e profissionais da saúde, dos pesquisadores e técnicos e de toda a população brasileira”,
“Excelentíssimo Senhor
Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO
Presidência da República
Brasília, DF.
Senhor Presidente,
Vimos solicitar, por meio desta carta, a revisão do seu posicionamento e a defesa clara da manutenção do isolamento social para o enfrentamento à pandemia da COVID-19. O perigo representado por ela é real e talvez seja o maior desafio sanitário desta geração, como já reconhecido recentemente pelo Comandante do Exército Brasileiro e, em 31 de março passado, por Vossa Excelência. Como médicos, enfermeiros, farmacêuticos, técnicos e outros profissionais de saúde, bem como pesquisadores de todas as áreas de conhecimento, estamos ativamente engajados na batalha contra esta pandemia. Nossas atividades vão desde a atuação dos bravos profissionais na linha de frente do atendimento, expostos ao risco diário, em condições precárias e com falta de equipamentos de proteção individual, até cientistas, técnicos e estudantes que atuam diuturnamente para contribuir com o diagnóstico laboratorial e buscar opções terapêuticas para o combate à COVID-19.
A transmissão sustentada do novo coronavírus (SARS-CoV-2) é, hoje, uma realidade em todo o território nacional. Como ainda não há tratamento com comprovada eficácia para o vírus, nem a perspectiva da produção de uma vacina a curto prazo, restam-nos as medidas de higiene pessoal e de isolamento social para a prevenção do contágio. Em todos os países em que há transmissão comunitária desse vírus, a combinação da quarentena, do isolamento social mais abrangente possível e da ampla testagem diagnóstica da população está demonstrando ser a ferramenta mais adequada para a contenção da disseminação do coronavírus.
O isolamento social tem por objetivo reduzir a velocidade de contaminação da população e a sobrecarga do sistema de saúde, já que o contato social leva muitas pessoas a adoecer em um curto período de tempo e provoca grande ocupação de leitos, especialmente em Unidades de Terapia Intensiva. O resultado desse processo será o provável colapso do nosso Sistema de Saúde, como já foi previsto pelo Ministro da Saúde, Dr. Luiz Henrique Mandetta.
Com os dados coletados no Brasil e em outros países, hoje está claro que, embora a letalidade seja mais alta em idosos, esta não é negligenciável em adultos abaixo de 60 anos e casos graves e óbitos têm ocorrido mesmo em jovens e crianças. Devemos ressaltar que o perfil epidemiológico do novo coronavírus (SARS-CoV-2) no território brasileiro se diferencia dos países do Hemisfério Norte, com o acometimento da população abaixo de 60 anos em quase 50% dos casos confirmados até o momento.