Elisa Loncón, presidente da Constituinte, convoca a “refundar o Chile”
A Assembleia Constituinte do Chile iniciou seus trabalhos, no domingo (04), elegendo a professora de Linguística da Universidade de Santiago Elisa Loncón, representante do povo indígena mapuche, para sua presidência. Ela foi eleita com 96 dos 155 votosintern
“É um sonho de nossos ancestrais, e este sonho está se tornando realidade: é possível (…) refundar o Chile”, disse Loncón na sua posse.
“Esta convenção que agora me cabe presidir transformará o Chile num Chile plurinacional, num Chile intercultural, num Chile que cuide da ‘Mãe Terra’”, disse, enfatizando que ela trabalhará para estabelecer os direitos sociais, incluindo o direito ao trabalho para todos e à água. Como vice-presidente foi eleito o advogado e acadêmico Jaime Massa.
Elisa Loncón estava vestida com um traje típico, e carregando uma bandeira mapuche iniciou sua saudação falando em mapudungún, a língua de seu povo.
“Esta eleição foi a primeira demonstração do predomínio de forças transformadoras, sociais, progressistas dentro da Convenção, já que Loncon e Massa foram promovidos pela lista Eu Aprovo a Dignidade, a Frente Ampla e a Lista Popular”, assinalou o jornal El Siglo.
Durante a ditadura Elisa estudou pedagogia e atualmente é acadêmica do departamento de Humanidades da Universidade de Santiago do Chile. Loncón possui mestrado em lingüística pela Universidade Autônoma Metropolitana de Iztapalapa (México), doutorado em Humanidades pela Universidade de Leiden (Holanda) e em literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Chile.
As 77 mulheres e 78 homens que formam a Assembleia Constituinte, incluindo pela primeira vez na história do país 17 representantes indígenas, formam um plenário representativo de todos os setores e etnias do país. Cerca de 40% dos integrantes são cidadãos independentes, sem filiação partidária, mas de orientação política progressista.
Os setores alinhados com o governo estiveram unidos na votação realizada em 15 e 16 de maio, mas só conseguiram 37 (24%) das 155 vagas. As forças da esquerda tradicional conquistaram 53 cadeiras. O fato de que nenhum setor conseguisse um terço dos votos necessários para exercer o poder de veto aponta a que os constituintes terão de construir uma frente ampla. As deliberações devem ser aprovadas por maioria de dois terços. Os constituintes terão nove meses – prorrogáveis por mais três – para redigir o novo texto, que será submetido a um plebiscito com voto obrigatório.
A Constituição atual data de 1980, em meio aos tempos da ditadura de Pinochet (1973-1990).
A partir das sete da manhã de domingo, milhares de pessoas de diversos grupos sociais, indígenas, regionais, culturais, de direitos humanos, partidos políticos, grupos independentes, entre outros, iniciaram atividades, mobilizações e marchas para acompanhar a maioria dos convencionais, lotando as ruas centrais da capital chilena, e os acompanhado à sede da Convenção para a cerimônia de abertura às 10 da manhã.
Os membros da Assembleia interromperam brevemente a sessão por causa de confrontos entre manifestantes e policiais fora do prédio do parlamento. Alguns dos 155 delegados foram para as ruas e exigiram a retirada das forças especiais que reprimiam o ato que exigia do governo de Sebastian Piñera a libertação das pessoas que ainda estão presas por conta dos protestos que se iniciaram há mais de um ano.
Em um referendo histórico em outubro de 2020, mais de três quartos dos eleitores elegíveis no país sul-americano votaram a favor de uma nova Carta Magna.
As organizações da sociedade civil veem a antiga Constituição como a alavanca da profunda desigualdade social, de condições de entregam lucros excepcionais às multinacionais e das reduzidas oportunidades educacionais para uma grande parte da população.
Há cerca de um ano e meio, começaram protestos em todo o país, impulsionados pelo alto custo de vida, pela privatização das aposentadorias e pelos direitos trabalhistas inexistentes. Os protestos se expandiram para um movimento de reforma constitucional.