Candidatos Lasso e Yaku decidem no CNE a recontagem, junto com OEA e sem o vencedor Arauz

A recontagem dos votos no Equador, aprovada na sexta-feira (12), é no mínimo mais um fato a causar estranheza e a colocar dúvida sobre a lisura do processo eleitoral conduzido pelo Conselho Nacional Eleitoral.

Um primeiro fator a gerar essa desconfiança é o processo de negociação e discussão que levou a essa recontagem: sentaram-se à mesa os dois candidatos colocados em segundo e em terceito lugar, junto com representantes do CNE e da OEA (a mesma que ao desqualificar um resultado eleitoral na Bolívia abriu espaço para o golpe de Estado que colocou no poder – sem votação – a Jeanine Àñez para tentar desfazer o processo de conquista de soberania naquele país).

O segundo é o próprio acordo entre um representante dos indígenas e o representante dos bancos (o indígena, Yaku Perez estava à frente em toda contagem dos votos, ainda que por pouca margem, e foi ultrapassado no último dia dessa contagem por Guillermo Lasso, representante dos bancos, que acabou chegando em segundo lugar com uma vantagem de 0,30% sobre o terceiro colocado), quando, antes do acordo, Yaku denunciava que o processo estava fraudado e que “a democracia está ferida”.

O terceiro problema é que o CNE não conseguiu terminar a contagem. A interrompeu repentinamente quando chegou a anunciar que já haviam sido computados 99,65% dos votos. Uma formula estranha de não anunciar o resultado final oficial.

Como resultado do acordo, não há mais anúncio de resultado e serão recontados 50% dos votos de 16 províncias (correspondentes a Estados entre nós) e na maior de todas a de Guayaquil (onde o candidato oposicionista e disposto a retomar o processo de reformas com base nos anseios populares, Arauz, teve a mais significativa vantagem: 41.82%, seguido de Lasso com 25.27%, Xavier Hervas com 9.94% e Yaku com 8.73%) serão recontados 100% dos votos.

Finalmente, como assinala artigo de Marco Teruggi, intitulado “Elecciones en Ecuador: el anticorreísmo pactó un recuento massivo” (Eleições no Equador: o anticorreísmo pactuou uma recontagem massiva), no dia anterior desembarcara – a pedido da Promotoria do Equador – um cidadão colombiano, Francisco Barbosa, promotor-geral da Colômbia, trazendo em sua pasta “informações” de que houve financiamento da campanha de Arauz por parte da organização guerrilheira ELN (Exército de Libertação Nacional) a vertente guerrilheira que, ao contrário das FARC, se recusa a entrar em acordo de pacificação com o governo colombiano.

Na mesa de negociações houve uma insólita troca de amabilidades. O banqueiro Lasso, aliado do atual governante L. Moreno (tão desgastado o seu desgoverno que não se apresentou à reeleição), declarou ao aceitar a recontagem que não teria “nenhuma sombra de dúvida” quanto ao processo eleitoral, mas estaria disposto a ceder à demanda de Pérez: “Peço ao CNE, independente da lei, em homenagem ao pedido do candidato Pérez, que abram 100% das urnas na cidade de Guayaquil, e que contem voto a voto”.

Das negociações sobre recontagem não participou o primeiro colocado, Andrés Arauz, que chegou a obter 32,2% dos votos contra pouco menos de 20% dos segundo e terceiro colocados. Também não foram chamados à discussão sobre a recontagem anunciada na sexta-feira nenhum dos demais 13 candidatos a presidente.

À saída do recinto onde se realizaram as “negociações” com o CNE, o candidato Yaku declarou que “com a recontagem, Arauz ficará em terceiro lugar”. Vamos acompanhar os próximos passos de mais essa tumultuada eleição.