Eleição em Hong Kong isola separatistas pró-EUA
Com a participação de 1,35 milhão de votantes e de dezenas de entidades e organizações da sociedade civil, Hong Kong escolheu 90 novos legisladores no domingo (19), na primeira eleição sob a pandemia e as novas leis eleitorais da região autônoma chinesa – formuladas sob a consigna “patriotas governam” -, deixando para trás um período de caos em 2018, onde não faltaram sequer cartazes de “Make Hong Kong Great Again”, bandeiras norte-americanas, apelos à rainha britânica e conclamações ao secessionismo, na segunda tentativa de ‘revolução colorida’ em cinco anos. E que incluiu até mesmo uma senhorita da CIA flagrada passando instruções aos ‘líderes dos protestos’.
Hong Kong foi subtraída da China a canhonaços no século XIX na Guerra do Ópio, movida pela Inglaterra para impor seu tráfico à milenar nação, e só foi devolvida em 1997 após longas negociações com Londres. Como a China já reiterou, “os dias de colônia já acabaram” e Hong Kong é um assunto interno chinês.
Desde a deliberação do Congresso Nacional do Povo de restaurar em Hong Kong a convivência democrática e a prosperidade, sob “um país, dois sistemas”, e a ação das autoridades que se seguiu para acabar com a ingerência estrangeira, a tranquilidade está de volta à cidade-porto, como visto durante as eleições.
Ainda em agosto desse ano o Consulado dos EUA em Hong Kong pressionou empresas norte-americanas a deixaram a região e teve o repúdio de lideranças chinesas, a exemplo do estudioso Tian Feilong, membro da Associação Chinesa de Estudos de Hong Kong e Macau, com sede em Pequim: “A ação dos EUA mais uma vez expôs a trama americana para interferir nos assuntos de Hong Kong, semear o caos na cidade e prejudicar a soberania e os interesses de segurança da China”.
Agora, figurinhas carimbadas no álbum de preferidos dos consulados britânico e norte-americano acharam conveniente fazer as malas. Com a eleição, redobraram-se as chamadas, direto de Washington, Londres e Bruxelas, e em paralelo a outras acusações contra a China, do tipo “Taiwan”, “Xinjiang” e “Tibet”, acusarando Pequim de “violar a democracia” em Hong Kong.
A China classificou de “hipócritas” essas alegações. “Todas as críticas são infundadas e expõem a hipocrisia e as intenções maliciosas no sentido de provocarem instabilidade em Hong Kong”, disse Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Pequim, durante uma conferência de imprensa.
“Alguns países, sem vergonha nenhuma, falam de preocupações democráticas. Para começar, Hong Kong nunca usufruiu de um sistema democrático sob o domínio colonial britânico e nenhum destes países supostamente democráticos expressou preocupação sobre isso”, afirmou o porta-voz.
Zhao exigiu respeito pela “soberania da China” e exortou a que cesse a interferência externa nos assuntos internos da China.
“Hong Kong faz parte da China e as últimas eleições foram democráticas, seguras, justas, limpas e inclusivas. O novo sistema eleitoral pressupõe uma melhoria e foi elaborado segundo as características de Hong Kong. Se é bom ou não, tal deve ser julgado avaliando se permite a Hong Kong gozar de uma maior prosperidade, estabilidade e segurança, a longo prazo”, disse Zhao.
O porta-voz chamou ainda de “ridículas e ilegais” as novas sanções decretadas pelos EUA sob o pretexto de “Hong Kong” e refutou os comentários depreciativos do alto representante da União Europeia para política externa, Josep Borrell, que, aliás, por ser espanhol, deveria antes se explicar sobre a democracia na Catalunha.
O quorum de 30,2% – que não é muito distante do que acontece em eleições intermediárias nos EUA rotineiramente -, acabou sendo um passo importante, embora a superação da divisão que foi gerada na sociedade de Hong Kong ainda vá levar certo tempo.
O porta-voz Zhao Lijian considerou que a abstenção se deveu às “interferências estrangeiras” e à “sabotagem das forças desestabilizadoras ‘anti-China’”.
No momento em que a China se vê sob a guerra ao seu desenvolvimento, especialmente na alta tecnologia, aberta pelo governo Trump e continuada pelo governo Biden, com indícios claros de violação do princípio de “Uma Só China” em relação a Taiwan, provocações quase diárias no Mar do Sul da China e campanha racista sobre o ‘vírus chinês’, é óbvio que Pequim não permitiria que Hong Kong – o símbolo maior do ‘século de humilhação’ – fosse transformada num trampolim para os intervencionistas norte-americanos e seus vassalos.
“Indivíduos como os infames secessionistas Jimmy Lai Chee-ying e Joshua Wong Chi-fung, que frequentemente visitavam outros países para pressionar pela aprovação de projetos de lei relacionados a Hong Kong, faziam lobby por sanções americanas contra a China e se reuniam com funcionários do consulado dos EUA em Hong Kong para ‘negócios sujos’”, registrou o Global Times.
O jornal chinês lembra que a lei de segurança nacional de Hong Kong entrou em vigor em 30 de junho de 2020 e a reforma eleitoral, em 30 de março de 2021, que comparou à “espada e escudo” para encerrar a era em que as forças externas e seus representantes políticos “intervinham nos assuntos de Hong Kong. As duas etapas revelaram uma nova página para uma governança local eficaz, de acordo com autoridades e especialistas chineses”.
No sistema instituído pela primeira vez quando acabou a ocupação de Hong Kong pelos britânicos, o conselho legislativo, de 70 cadeiras, 20 eram eleitas pelo voto direto e as outras 50, representando vários setores da sociedade civil, que disputavam entre si. Depois, evoluiu para 35 eleitos nos distritos e 35 representando os setores da sociedade civil.
Agora, o conselho foi ampliado para 90, sendo que o total de eleitos nos distritos geográficos voltou ao patamar de 20, e mais representantes de setores da sociedade civil são escolhidos. Nessa eleição, 153 candidatos disputaram as 90 cadeiras.
Integração plena Shenzhen, Hong Kong e Macau
A questão de fundo é que Washington e a antiga potência colonial vêm tentando frear a integração plena de Hong Kong à China como forma de atrasar o avanço nacional da China e do multilateralismo e restauração do direito internacional, no lugar do “excepcionalismo” norte-americano que impera no mundo desde o fim do socialismo no Leste europeu.
Do ponto de vista próprio de Hong Kong, isso se traduz na integração cada vez maior entre Shenzhen, Hong Kong e Macau.
“Para o futuro desenvolvimento da cidade, Hong Kong deve ser totalmente integrado ao desenvolvimento da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau (GBA) e usar o posicionamento de Hong Kong como um centro de inovação internacional para promover indústrias em Hong Kong, com ênfase no desenvolvimento de manufaturas de alto valor agregado”, observou ao Global Times o legislador Andrew Leung Kwan-yue.
Sobre o novo Conselho Legislativo, ele acrescentou que o que se espera é que “seja caracterizado por ampla representação, inclusão política, participação equilibrada, justiça e competitividade”. A denominação de “patriotas governam” envolve diferentes pontos de vista.
Para Leung, Hong Kong deve formular “uma política industrial sólida. Além de apoiar as pequenas empresas, devemos promover o desenvolvimento de indústrias locais avançadas, ajudar as empresas de Hong Kong a expandir sua presença na área da Grande Baía e explorar oportunidades no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota”.
De acordo com Leung, há mais de 4.200 empresas do continente operando em Hong Kong com ativos acumulados de mais de US$ 1,41 trilhão. Nesse grupo, 40 têm ativos de mais de centenas de bilhões de dólares de Hong Kong, com
mais de 80.000 funcionários em Hong Kong. Mais de 1.100 empresas do continente estão listadas em Hong Kong, respondendo por metade das ações de primeira linha e dois terços do valor total de mercado.
Ele propôs a formulação de “uma ampla visão e estratégia para definir a estratégia de reindustrialização da cidade – Indústria 4.0 – e incluir a pesquisa, desenvolvimento e fabricação de microeletrônica, assim como fabricação de medicamentos tradicionais chineses, processamento de alimentos e reciclagem”.