"Tentaram me sequestrar", denunciou o deputado Fagioli, chefe da delegação de observadores argentinos (Reprodução)

giO governo boliviano de fato, presidido por Jeanine Áñez, impediu na noite de sexta-feira (16) a entrada ao país do chefe da delegação integrada por deputados argentinos convidados oficialmente, pela Assembleia Legislativa da Bolívia, como observadores para as eleições presidenciais de domingo (18).

O deputado Federico Fagioli foi retido ilegalmente no aeroporto de La Paz-El Alto, durante sua chegada como observador internacional em representação da República Argentina. Fagioli, que precedia a delegação formada ainda por outros dois deputados nacionais da Frente de Todos, Leonardo Grosso e Paula Penacca, recuperou a liberdade e pôde ingressar no país, permanecendo na Embaixada junto ao resto da equipe de observadores. O deputado disse que foi “marcado” pelo governo boliviano por ter denunciado as violações dos direitos humanos no país.

O episódio, que evidenciou o risco de ingerências e fraudes no processo eleitoral boliviano, teve fortes repercussões, particularmente envolvendo um intenso trabalho do governo argentino, da sua Chancelaria.

O presidente Alberto Fernández, se pronunciou em um tweet sobre a arbitrariedade e instou o governo de fato da Bolívia a agir como responsável pela “preservação da integridade” da comitiva de deputados de seu país.

“Legisladores argentinos foram maltratados ao chegar a La Paz para cumprir com suas tarefas de observadores das eleições do próximo domingo. É direta responsabilidade do governo de fato de Jeanine Añez preservar a integridade da delegação argentina”, afirmou Fernández.

Nesse contexto, o Ministério de Relações Exteriores da Argentina denunciou a “detenção ilegal” do deputado Federico Fagioli, e responsabilizou o governo pela saúde do representante da Embaixada argentina, Lucas De María, que teve um ataque respiratório em meio ao conflito.

“O governo argentino exige que o governo de fato seja responsabilizado pela detenção ilegal do deputado Fagioli que viajou ao Estado Plurinacional de Bolívia em caráter de observador das próximas eleições”, declarou o Ministério.

Já o Bloco de deputados e deputadas nacionais da Frente de Todos também registrou, em comunicado, que houve maltrato e ameaças contra a comitiva argentina, da qual Fagioli foi o primeiro a desembarcar na Bolívia, ressaltando que eles foram convidados oficialmente como observadores nas eleições presidenciais de domingo.

A função dos observadores internacionais é a de participar na abertura do ato eleitoral nos distintos sítios de votação, percorrer centros de votação e estar presentes para o fechamento das eleições.

“Tentaram me seqüestrar. Quiseram me enfiar numa camionete que não estava identificada para me levar a um lugar que não nos queriam dizer onde era. Ainda bateram num companheiro diplomático, que nos estava cuidando. Eles tentaram me tirar do país fazendo-me assinar uma declaração dizendo que cometi crimes contra a humanidade “, declarou o deputado.

“O governo de fato dá a entender que estão dispostos a qualquer coisa. Claramente vêem um apoio muito massivo ao MAS e não querem que haja observadores internacionais”, denunciou. “Ontem vivi um atropelo e um maltrato impressionante, mas nada que não se possa esperar de um governo de facto. Me preocupa que possa haver fraude ou que não se reconheçam os resultados”, alertou.

O candidato presidencial do MAS, Luis Arce, afirmou: “Exigimos ao governo de facto que respeite os direitos das pessoas que formam as delegações e missões internacionais que chegam, e estão na Bolívia para acompanhar e velar pela transparência no processo eleitoral”.

“Conversamos com Michel Dóczy, embaixador da União Europeia na Bolívia, a quem solicitamos sua máxima atenção na jornada eleitoral de amanhã. Alertamos a falta de transparência no sistema de contagem preliminar que impede ver as fotografias das atas de votação. Denunciamos a perseguição política às e aos candidatos do MAS, a falta de garantias constitucionais e a violência exercida pelo governo contra a missão argentina que chegou ao país para acompanhar as eleições”, acrescentou o candidato.

Por sua parte, a presidente da Assembleia Legislativa Plurinacional (ALP), Eva Copa, assegurou que o governo de fato tem obstaculizado ainda o ingresso de muitos outros representantes de instituições convidados para acompanhar as eleições.

Nesse quadro de ameaças, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu aos bolivianos que “se comprometam com a realização de eleições pacíficas” e que respeitem “os resultados finais da votação”.

Guterres destacou, ainda, que as eleições devem ser “transparentes, confiáveis, participativas e inclusivas, em um quadro de pleno respeito aos direitos civis e políticos”, segundo um comunicado da ONU.

A Alta Comissionada da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, expressou sua “profunda preocupação pela linguagem incendiária e as ameaças proferidas por alguns atores políticos nas últimas semanas, assim como pelo crescente número de agressões físicas registradas” na campanha. Manifestou seu desejo de que as eleições de domingo se desenvolvam “de maneira pacífica, participativa e inclusiva, em um ambiente que garanta o respeito dos Direitos Humanos de todas as pessoas.

De uma população total de pouco mais de 11,35 milhões de bolivianos, 7.332.925 pessoas foram habilitadas para que participem como eleitores do presidente, vice-presidente, 130 deputados e 36 senadores. Do total de habilitados, 301.631 votarão no exterior.