Quanto mais avança a investigação da família Bolsonaro mais vai se descobrindo que era useiro e vezeiro entre eles o uso de dinheiro vivo em suas transações financeiras. Carlos financiava sua campanha em cash, a loja de chocolate de Flávio na Barra praticamente só recebia em dinheiro e, agora, um levantamento mostra Eduardo Bolsonaro pagando R$ 150 mil numa transação imobiliária em espécie.

Fabrício Queiroz era o operador do esquema de lavagem de dinheiro montado no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Segundo relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) ele movimentou R$ 7 milhões em sua conta entre 2014 e 2018. Era muito dinheiro vivo.

Os funcionários fantasmas do gabinete devolviam parte dos salários que eram embolsados pelo caixa do deputado. Com a quebra de sigilos bancários, determinada pela Justiça do Rio de Janeiro, descobriu-se, entre outras coisas, por exemplo, que Queiroz fez 21 depósitos na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro, no valor total de R$ 89 mil.

Vem daí a prática de usar dinheiro vivo nas transações. O objetivo era esconder a origem da dinheirama, grande parte dela desviada da Alerj.

Um levantamento de informações registradas em dois cartórios do Rio, feito pelo jornal O Globo, mostra que os filhos e outros familiares do presidente Jair Bolsonaro compraram vários imóveis com dinheiro vivo. Eduardo Bolsonaro pagou R$ 150 mil em espécie por 2 apartamentos; um deles custou 30% menos que valor de referência.

Segundo o Globo, em 2011, quando ainda não era deputado, Eduardo Bolsonaro já tinha comprado outro imóvel usando dinheiro vivo. Como registrado na escritura, ele pagou R$ 160 mil por um apartamento em um endereço de Copacabana: R$ 110 mil foram pagos no ato com cheque administrativo e os outros R$ 50 mil, em espécie.

A escritura do apartamento de Copacabana revela também que o imóvel foi comprado por um valor inferior ao que a prefeitura avaliava na época. No documento está descrito que a Secretaria Municipal de Fazenda, para efeitos fiscais, avaliou o imóvel em R$ 228 mil. Eduardo Bolsonaro pagou 30% a menos do que o valor de referência da prefeitura.

Na compra mais recente, em 29 de dezembro de 2016, quando estava no primeiro mandato como deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) pagou R$ 1 milhão por um apartamento em um prédio em Botafogo, na Zona Sul do Rio. A escritura revela que ele já tinha dado um sinal de R$ 81 mil pelo imóvel e – pelo registrado no documento – estava pagando mais R$ 100 mil no ato em “moeda corrente do país, contada e achada certa”.

Jacqueline Burger, uma das vendedoras do apartamento à época, perguntou: – Poderia me passar o contato do Eduardo? – e, em seguida, emendou: – Qualquer informação pergunte a ele. Não tenho nada a declarar – afirmou Jacqueline. O apartamento fica na Avenida Pasteur, em um prédio de frente para a Baia da Guanabara, e possui 102 metros quadrados.

Rogéria Bolsonaro – a primeira mulher do presidente Jair Bolsonaro e mãe de Flávio, Eduardo e Carlos – comprou um apartamento na Zona Norte do Rio em 1996, também, com dinheiro vivo. A escritura registra que o preço “certo e ajustado de R$ 95 mil foi recebido integralmente no ato (…) Através de moeda corrente devidamente conferida, contada e achada certa e examinada pelos vendedores”. Em valores de hoje, atualizados pela inflação, são R$ 621 mil.