Edilson Silva: Brasil deve reagir com frente contra Bolsonaro
O Brasil viveu mais um domingo (3) de insanidade coletiva e de afronta à democracia, incentivadas pelo presidente Bolsonaro. Em Brasília, uma aglomeração de seus apoiadores serviu de palanque para o presidente intensificar sua escalada autoritária.
Por Edilson Silva*
Com bandeiras dos EUA e Israel ao fundo, misturadas com as do Brasil, numa cena ao mesmo tempo servil e patética, o clima de histeria pedia o fechamento do STF, do Congresso, teve direito a agressão física a jornalistas, e um presidente sem agora disfarçar sua sintonia com as ilegalidades e inconstitucionalidades exigidas e ostentadas em fartas faixas.
Bolsonaro literalmente ameaçou as instituições. Teria chegado ao limite e não mais aceitaria interferências, disse ele. Insinuou que o povo e as Forças Armadas estariam com ele em suas aventuras autoritárias.
A situação é tão surreal que o fato desta aglomeração acontecer em meio a uma pandemia que exige distanciamento social, por bom senso e determinação de medidas sanitárias, torna-se um detalhe secundário, um requinte de insanidade.
Na semana em que seu governo perdeu o apoio de Sérgio Moro; em que o STF vetou sua indicação para a Diretoria Geral da PF; em que Moro foi convocado a depor em prazo de cinco dias, sobre suas denúncias contra o presidente, encurtando o pavio que leva à explosão de uma crise talvez sem precedentes em seu governo; em que a decisão do presidente de expulsar o corpo diplomático da Venezuela do Brasil foi também bloqueada pelo STF, Bolsonaro precisava dar sinais de que o pulso ainda pulsa.
O presidente está institucionalmente isolado, acuado, sofrendo sucessivas derrotas, e precisa constantemente dar sinais de alguma vitalidade política. Para tanto, usa e abusa de seus impressionantes 30% de aprovação junto à população, aferido em pesquisas de opinião.
Em sua fala durante o ato, Bolsonaro diz textualmente com quem está contando: com o “povo” e com as forças armadas. Omitiu, por óbvio, que conta também com forças milicianas, base do Estado que está conscientemente construindo. Este é o caminho estreito e único que sobrou ao presidente: instigar a sua base de apoiadores a irem pra rua, transformando-os em instrumento fascista de pressão; e tentar levar para o seu lado o comando das Forças Armadas para dar um auto-golpe e sustentar à fórceps seu governo antidemocrático e anticivilizatório.
A situação é gravíssima para o povo, que enfrenta uma pandemia mortal e está sendo incentivado e obrigado pelo governo de Bolsonaro a se expor ao risco da morte. Para a nossa democracia, que está sendo duramente testada e afrontada.
Que fazer? Primeiro, assumirmos a gravidade da situação e construirmos uma saída política pra isto, uma amplíssima frente de salvação nacional. Quem cabe nesta frente? Absolutamente todos que estejam contra esta aventura insana e autoritária. É importante unir institucionalmente e politicamente todos os governadores dispostos, o Congresso, o STF, ex aliados de Bolsonaro, as Forças Armadas. Não é tarefa apenas para forças progressistas, mas para todos que tenham um mínimo de bom senso. Esse é o critério.
Isolar e derrotar Bolsonaro, por fim ao seu governo, é a prioridade máxima. O dia seguinte à isto exigirá de nós a coerência da defesa intransigente de nossas pautas e compromissos históricos. Mas “cada dia com sua agonia”. E o dia de hoje é pra derrotar este mensageiro da morte.
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