Economista critica a falta de transparência na definição da Selic
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a Selic (taxa básica de juros da economia brasileira) de 10,75% para 11,75%, nesta quarta-feira (16), mesmo dia em que o seu análogo nos Estados Unidos, o Fomc, subiu as taxas do país para o patamar de 0,25% a 0,50% pela primeira vez desde 2018. Com mais esta alta (a nona consecutiva), a Selic alcançou o maior nível em quase cinco anos. Professor de Economia da UnB, José Luis Oreiro afirma que a diferença na dose do aumento é inexplicável.
“O Banco Central americano aumentou a sua taxa de juros em 0,25%. O Banco Central do Brasil aumentou a Selic no mesmo dia em um ritmo quatro vezes maior, sendo que a inflação nos Estados Unidos está rodando em torno de 8% ao ano e aqui no Brasil está rodando em torno de 11%. Por que essa diferença? É inexplicável”, considera Oreiro, para o qual o comportamento lógico seria o oposto.
“Devia ser o contrário, porque se os Estados Unidos estão partindo de uma taxa de juros próxima de zero, então, eles é que deveriam fazer um aumento muito forte da taxa de juros, mas não fizeram. Nós estamos partindo de uma taxa de juros já elevada, de 10,75%, o que faz com que a taxa de juros real seja positiva. Os americanos estão partindo de uma taxa de juros real extremamente negativa e aumentando em 0,25%, enquanto nós aqui partimos de uma taxa de juros real próxima de zero e aumentamos a nossa taxa nominal em um ritmo quatro vezes maior do que o Federal Reserve. Eu não consigo entender”, frisa.
O economista argumenta ainda que a situação do mercado de trabalho nos EUA é muito mais favorável do que no Brasil. “Os Estados Unidos já recuperaram o nível de emprego pré-pandemia. O Brasil, não. Eu não consigo entender a lógica. Foram eventos que ocorreram no mesmo dia. O Federal Reserve aumentou a taxa de juros em 0,25 ponto e o BCB aumentou quatro vezes mais, em um ponto percentual. O Banco Central tem que abrir a caixa preta desse modelo que eles usam para fazer as suas previsões. Isso é obrigação dados os objetivos do regime de metas de inflação entre os quais a transparência na comunicação com o público. Eles têm que abrir esse modelo, senão eles podem justificar o que quiserem com base nos interesses de sabe-se lá quem eles estão representando”, critica.
De acordo com Oreiro, os integrantes do Copom fizeram o que ele define como “contorcionismo para justificar uma decisão que já tinham em mente, que era aumentar o juro em 1 ponto percentual”. “Por que eu chamo de contorcionismo? Porque na nota eles colocam duas hipóteses que são discutíveis: a primeira é de que o comportamento do PIB no último trimestre de 2021 sinaliza um crescimento forte da economia para 2022. Os números que saíram no início de 2022 não mostram isso, pelo contrário: as expectativas dos agentes de mercado sobre o crescimento da economia brasileira em 2022 são de que será um crescimento anêmico, próximo de zero por cento, senão negativo”, opina.
A segunda premissa, segundo ele, é que eles estão supondo que o barril de petróleo vai encerrar o ano em US$ 100. “Há alguns dias, ele já tinha caído abaixo de US$ 100. Esse patamar nós alcançamos e ultrapassamos quando ocorreu a invasão da Ucrânia pela Rússia, mas eu duvido muito, acho muito pouco provável que essa crise na Ucrânia vai durar até o final do ano. Pelo contrário: mais 30 dias e isso deve estar resolvido e o preço do petróleo vai se normalizar, vai ficar abaixo de US$ 100 o barril, não sei quanto, mas você vai ter um cenário muito mais próximo do início do ano, que é o barril do petróleo a US$ 70 o barril. Dadas essas hipóteses o Banco Central fez essa previsão com base em um modelo que ele nunca divulgou. Ele é uma caixa preta porque nós não conseguimos rodar o modelo e saber se as conclusões se deduzem das premissas. Mas ele diz que é adequado aumentar a taxa de juros em um ponto percentual”, questiona.