Economista considera difícil redução de preços dos combustíveis
No início desta semana, o indicado de Jair Bolsonaro para presidir a Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, foi oficializado no Conselho de Administração da estatal junto com outros novos membros. O nome de Silva e Luna já havia sido aprovado pelo Comitê de Pessoas da Petrobras.
O novo presidente chega com a missão de conter a disparada dos preços dos combustíveis salvando, assim, a popularidade de Bolsonaro. A questão é como o militar fará isso, uma vez que a razão para os reajustes constantes sobre a gasolina, diesel, gás de cozinha e afins é bastante conhecida.
Desde que a Petrobras adotou a política de preços de paridade de importação (PPI), em 2017, os preços internos dos combustíveis acompanham os preços internacionais do petróleo – e, consequentemente, as oscilações do dólar. A fórmula é defendida pelo mercado, que argumenta que, por ser uma empresa de capital aberto, a Petrobras deve operar visando o melhor para os acionistas. Acontece que, por ser empresa pública, a estatal também tem, ou deveria ter, um papel social.
Jair Bolsonaro tem dito que não vai interferir na política de preços, mas, de forma ambígua, também tem afirmado que algo precisa mudar em relação ao reajuste dos combustíveis. O presidente reivindica, principalmente, mais “previsibilidade”. No início do ano, gasolina e diesel chegaram a sofrer reajustes semanais nas refinarias.
Marco Rocha, professor do Instituto de Economia da Unicamp, afirma que, por mais que Bolsonaro afirme que não mexerá na atual política de preços, muito provavelmente é o que vai acontecer.
“Embora tenha sido anunciado o contrário, é muito difícil um governo não interferir na política de preços. É uma questão política central, que tem repercussão sobre todo o sistema econômico. A decisão sobre a política de preços da Petrobras é uma decisão sobre política econômica. Dificilmente não haverá algum tipo de interferência, não se modificará de alguma forma, por conta, inclusive, do custo político que isso está causando ao governo e à popularidade do Bolsonaro”, diz.
O economista destaca algumas opções para controle dos preços, como repasse dos reajustes por médias móveis ou criando um fundo de estabilização. O uso de um fundo, inclusive, já foi citado pelo vice-presidente, Hamilton Mourão. Em matéria publicada hoje, a agência Reuters disse que a equipe econômica estuda a possibilidade de destinar a esse fundo estabilizador uma parte dos recursos levantados com o leilão de duas áreas do excedente da cessão onerosa. Os valores disponíveis poderiam somar entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões, segundo a Reuters.
Para Rocha, seja qual for a solução o governo deve buscar um meio termo, acenando também ao mercado. “Dificilmente o governo anunciará a política de preços sugerida pelo sindicato [dos petroleiros], que seria o preço de produção doméstico. Isso causaria atrito com o mercado financeiro. Provavelmente, vai acontecer o anúncio de uma saída intermediária”, aposta.
De qualquer forma, o economista acredita que o mercado não aceitará impassível a interferência. “A gente provavelmente vai ter mais um episódio de queda acentuada das ações da Petrobras quando for feito o anúncio”, diz.
Segundo o economista, as dificuldades de Bolsonaro, dividido entre dois grupos importantes para sua eleição – os caminhoneiros, prejudicados pelas sucessivas altas do diesel, e o mercado financeiro – vão se tornando mais pronunciadas na atual situação de crise. “O Bolsonaro foi eleito com uma plataforma muito pró mercado, endossada por Paulo Guedes, mas a realidade está se impondo. Não é simples fazer um governo atendendo integralmente o mercado”, comenta.
Já em relação à efetividade de uma política como um fundo estabilizador para reduzir os preços dos combustíveis, Rocha afirma que dependerá do grau em que o fundo será acionado para suavizar as oscilações do mercado internacional. Mas adianta considerar difícil uma redução de preços, em função do patamar elevado do dólar e do petróleo.
“A não ser que a Petrobras adote algum tipo de subsídio, o que acho muito difícil nesse governo. Pode ter um horizonte em que a taxa de câmbio baixe, mas não no curto prazo. E a alta dos combustíveis já causou um certo estrago na imagem dele [Bolsonaro]. Se ele conseguir conter [novas altas de preços], o que acontece é controlar uma certa sangria na popularidade”, conclui.