Autoridades de países europeus reconheceram nesta quarta-feira (23) a fragilidade das suas economias diante da importância do fornecimento de gás russo. O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou que um corte repentino das importações de energia da Rússia como resposta à invasão da Ucrânia provocaria uma crise econômica na Alemanha e em toda a Europa. CEO da empresa francesa de petróleo e gás TotalEnergies, Patrick Pouyanne endossou a afirmação de Sholz e disse que não há substitutos para o gás russo na Europa e parte da economia europeia entrará em colapso sem o combustível.

“Fazer isso de um dia para o outro significaria mergulhar nosso país e toda a Europa em uma recessão. Centenas de milhares de empregos estariam em risco. Setores inteiros da indústria ficariam ameaçados”, disse o premiê alemão em um discurso no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, segundo relata o portal do Valor Econômico.

“As sanções não devem atingir mais os países europeus do que a liderança russa”, acrescentou Scholz, que argumentou que as sanções já estão prejudicando os alemães. Além dos preços mais altos dos combustíveis, algumas fábricas estão alertando que podem ter de suspender suas operações por causa dos custos da energia, segundo ele.

A Alemanha é um dos países mais dependentes da energia russa — mais da metade do gás natural e grande parte do carvão consumido no país têm a Rússia como origem, frisa o Valor Econômico. O CEO da TotalEnergies, ao anunciar ontem que deixará de comprar petróleo e derivados da Rússia, ressaltou que considera o gás do país imprescindível, segundo relata a agência de notícias russa Sputnik.

“Conheço a maneira de substituir o petróleo russo e o diesel, mas o gás não sei como fazer. Se eu decidir interromper as exportações de gás russo, não sei o que pode substituí-lo. Sem o gás russo, uma parte da economia europeia entrará em colapso. O gás é importante para a Europa”, disse Pouyanne à rádio RTL.

Segundo ele, se o continente encerrar por completo a importação de gás da Rússia, enfrentará sérios problemas no inverno de 2023. O CEO destacou ainda que, não só a TotalEnergies pretende continuar no segmento, como rivais de negócios da empresa mantêm suas operações no país devido a obrigações contratuais.

“Não, não vou fazer isso [retirar-se completamente do mercado russo] e vou explicar o porquê. Hoje não tenho nenhuma operação na Rússia, mas tenho investimentos em fábricas de quase 13 bilhões de dólares [cerca de R$ 63,6 bilhões]. Mas não se trata do dinheiro, trata-se do fato de que essas usinas continuarão operando independentemente da minha retirada, e os russos são bons em gerenciar usinas”, contou Pouyanne à emissora.

Pagamento em rublos

O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou nesta quarta-feira que a decisão de converter os pagamentos de fornecimento de gás à Europa em rublos. “Não faz sentido receber o pagamento em dólares e euros pelo fornecimento de nossos produtos aos EUA e à UE”, declarou Putin, segundo informa a Sputnik.

Neste cenário, a moeda russa já apresentou sinais de recuperação em relação ao dólar. De acordo com Putin, a Rússia seguirá fornecendo gás em quantidade e pelos preços fixados nos contratos firmados anteriormente, já que “valoriza sua reputação”.