Economia da China cresce 12,7% no primeiro semestre
A recuperação da China pós-Covid-19 continua ganhando força com sua economia registrando crescimento em todos os setores no segundo trimestre e o PIB expandindo 12,7 % no primeiro semestre do ano, na comparação com igual período do ano passado, de acordo com dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas (NBS) na quinta-feira (15). No segundo trimestre, pelo mesmo critério, o crescimento foi de 7,9 %.
O crescimento contínuo no período de janeiro a junho indica que a China será capaz de cumprir todas as metas econômicas estabelecidas no início do ano, afirmou em entrevista o ex-economista-chefe do NBS, Yao Jingyuan.
Os dados do NBS retratam a resiliência da economia chinesa, a única entre os grandes países a crescer no ano anterior. Assim, as vendas totais no varejo de bens de consumo aumentaram 23% no primeiro semestre de 2021. O investimento em ativos fixos cresceu 12,6% de janeiro a junho. A produção industrial aumentou 15,9%. Já o comércio exterior da China cresceu 27,1% no período.
“O crescimento mostra que a economia da China saiu do impacto do coronavírus e já voltou aos níveis anteriores à Covid-19″, disse Dong Dengxin, diretor do Instituto de Finanças e Valores da Universidade de Wuhan, ao jornal chinês Global Times.
“O consumo e o investimento, que costumavam ficar atrás da manufatura em termos de recuperação, também estão subindo mais rápido”, mostrando que esse desequilíbrio está “diminuindo”, disse Wu Chaoming, economista-chefe da Chasing Securities, ao GT.
Aliás, esse é um objetivo explícito da adoção da “dupla circulação”, reequilibrando o desenvolvimento do mercado interno com a presença no mercado externo.
Esse crescimento é, ainda, uma consequência da enorme capacidade da China de fazer frente à pandemia, saindo da situação de paralisia da economia em grande parte, para essa retomada, que tem se mostrado cada vez mais sustentável, apesar das políticas hostis de Washington de ‘contenção’ do desenvolvimento chinês, especialmente da alta tecnologia.
Os dados do NBS mostraram que os valores agregados da manufatura de alta tecnologia da China aumentaram 22,6% no primeiro semestre do ano, com a produção de veículos de energia limpa e robôs industriais crescendo respectivamente 205% e 69,8 %.
Analistas do outro lado do Oceano Pacífico, mais chegados à fábula de que as uvas estão verdes, optaram por ver nos números do NBS um resultado “mais fraco do que o esperado”, o que estaria demonstrado por 7,9% de alta do PIB no segundo trimestre [na comparação com igual período do ano anterior] ser abaixo dos “8,1%” estimado pelos apostadores de índices.
O que não impediu que os mesmos analistas registrassem que, na comparação com o trimestre anterior, o PIB chinês expandiu 1,3% entre abril e junho, contra “expectativa de alta de 1,2%”.
Já quanto às vendas no varejo, essa análise destaca que “avançaram 12,1% sobre o ano anterior em junho, contra expectativa de 11,0% depois de alta de 12,4% em maio”.
A verdade sobre a ‘desaceleração da atividade industrial’ é que em junho as montadoras de Wuhan reduziram o ritmo devido à falta de semicondutores, o que, aliás, aconteceu no mundo inteiro e persiste sem solução.
O que confirma a análise da NBS de que há “muitas instabilidades externas e fatores de incerteza” e de que é preciso “ver como a epidemia global continua a evoluir”.
O ex-economista-chefe do NBS, Yao, enfatizou que a China tem “um enorme mercado interno, com cerca de 400 milhões na categoria de renda média – equivalente à população combinada dos EUA e Japão. Com base em um mercado consumidor vigoroso nos primeiros seis meses, é importante liberar ainda mais esse consumo potencial no segundo semestre”.
O ex-vice-chefe do NBS, Xu Xianchun, disse ao Global Times na quinta-feira que o PIB da China continuará crescendo a uma taxa “relativamente alta” no terceiro trimestre, em parte devido a um efeito de base baixa e à medida que mais potenciais de desenvolvimento se revelam. Mas essa taxa “certamente” diminuirá em relação ao segundo trimestre.
O efeito de base baixa se deve a que, como no primeiro trimestre do ano passado a pandemia congelou a atividade econômica da China, a alta do PIB nesse período em 2021 alcançou 18,3%. (Na comparação, 6,4% nos EUA no mesmo período).
Esse crescimento de 18,3% teve como base de comparação o trimestre em que a economia chinesa esteve mais afetada pela paralisia decorrente da pandemia, o primeiro de 2020, em que o PIB encolheu 6,8%. No trimestre seguinte, já refletindo as drásticas medidas de enfrentamento da pandemia, a economia voltara a crescer, em 3,2%. Desde então, esse crescimento não parou.
A tendência de avanço na economia chinesa também fica patente na comparação trimestre sobre trimestre, com o PIB chinês crescendo 0,4% no primeiro trimestre de 2021, na comparação com o quarto trimestre de 2020. No segundo trimestre de 2021, o PIB cresceu 1,3% na comparação com o trimestre anterior. Como Xu assinalou, o valor percentual do crescimento do PIB vai diminuir gradualmente à medida que o efeito da base baixa de comparação diminuir e no segundo trimestre ele previu que a economia como um todo avançará “cerca de 3 pontos percentuais, sustentando o crescimento do ano inteiro entre 8,5 a 9 por cento, um ritmo alto”.
Quanto às “incertezas” à frente, ele apontou que, por exemplo, as exportações da China podem diminuir no segundo semestre, à medida que a retomada da fabricação no exterior – em meio ao controle global efetivo da pandemia – venha a desviar pedidos redirecionados para a China.
Para Yao, os aumentos nos preços das matérias-primas, que criaram um fardo para os fabricantes chineses, foram a maior dificuldade no primeiro semestre. “A situação pode ser amenizada no segundo semestre, já que a China prometeu estabilizar os preços e mais medidas para ajudar as fábricas são esperadas”.
Outro fator importante da recuperação econômica chinesa é que, ao contrário da que vem prevalecendo em países como os EUA, não se baseia na criação de bolhas financeiras e tem como dínamo o desenvolvimento produtivo e tecnológico, aliado ao crescimento da massa salarial.
No primeiro semestre do ano, 6,98 milhões de novos empregos urbanos foram criados na China, respondendo por 63,5% da meta anual. Já a taxa média de desemprego foi de 5,2%, uma queda de 0,6 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o NBS.
Como salientou o GT, com a recuperação sustentada e constante da economia, a situação do emprego na China manteve-se estável, impulsionando o crescimento relativamente rápido da renda salarial, garantindo o crescimento da renda disponível per capita e impulsionando o consumo.
Para o porta-voz do NBS, Liu Aihua, “à medida que a economia continua a se recuperar de forma constante, o mercado de trabalho continua a se recuperar e a procura de emprego também está crescendo”. Ele observou que os formados neste ano chegaram a 9 milhões, outro recorde de alta, “colocando uma enorme pressão sobre o emprego”.
Ao final do segundo trimestre, o número total de trabalhadores migrantes rurais era de 182,33 milhões, basicamente o nível pré-COVID-19, de acordo com o NBS.
“À medida que a situação de prevenção e controle da epidemia melhorou gradualmente, as atividades comerciais foram sendo retomadas, resultando em empregos estáveis, o que aumentou a renda per capita disponível”, enfatizou Liu. A renda salarial cresceu 12,1% ano a ano nos primeiros dois trimestres, em comparação com uma média de dois anos de 7,2%, de acordo com o NBS.