O governo Jair Bolsonaro levou a economia do Brasil à “pior situação possível”. A opinião é do economista Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Chamado pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT) de “guru”, Marconi afirma, em entrevista à revista CartaCapital, que o presidente não tem condições de se eximir da culpa da crise brasileira.

“A gente está vivendo um desequilíbrio muito forte do ponto de vista macroeconômico. Estamos na pior situação possível, que é a situação da inflação alta com uma queda no nível de atividade”, analisa. “Mas o pior problema é a forma como o governo federal faz política econômica. Já há alguns anos, o governo vem tratando a política macroeconômica como compreendesse o Estado como o problema da economia.” Para Marconi, o encolhimento do Estado “tem provocado um crescimento muito baixo, de um ponto de vista conjuntural”.

O enfrentamento à inflação é igualmente errático. A alta generalizada dos preços é causada, segundo Marconi, “pela política de preços na Petrobras, pelos erros do governo na política energética, pela destruição de estoques reguladores de alimentos e por uma pressão externa”. Em sua resposta, porém, “o governo está dando um tiro na demanda pelos dois lados: sem uma política de crescimento e sem uma política de combate à inflação. Com isso, a economia infelizmente não sai do buraco”.

O economista pondera, no entanto, que alguns problemas do País são anteriores à chegada de Bolsonaro à Presidência da República. “A partir dos anos 1980, fizemos uma opção por crescer nos endividando. Reforçamos isso nos anos 1990, quando provocamos uma abertura financeira muito grande, o que foi muito ruim para o País. Essa abertura financeira, junto com a estratégia de crescer com endividamento, foi se perpetuando por todos os governos”, critica Marconi.

Essa política, diz ele, “tem como um de seus pilares atrair capital externo, com taxas de juros altas e moeda apreciada. E a moeda apreciada cria um falso sentimento que está ‘indo tudo muito bem’. Mas os juros altos atrapalham o crescimento e, a moeda apreciada contribui para facilitar importações. Então, o que acontece é que a gente entrega nosso mercado interno para produtores de outros países e aí o investimento não cresce, nem a economia”.

Em síntese: “O problema no longo prazo é a achar que é preciso recursos externos para crescer e que o Brasil não tem capacidade de se desenvolver de forma, digamos, autônoma (…). Temos outros problemas, como infraestrutura, estrutura tributária. Tudo isso conta também, mas a raiz – a diretriz geral – é essa”. O agravante atual é que, “com Paulo Guedes, temos juros altos e câmbio um desastre”.

Se o longo prazo ainda interfere, o que pode, então, ser debitado na conta do presidente? “Bolsonaro tem responsabilidade nesta crise – e muita. É óbvio que a inflação é culpa da política deles”, afirma Marconi. “Se montarmos um gráfico mostrando a evolução do preço médio da gasolina nos postos e da evolução do preço do petróleo no mercado internacional multiplicado pela taxa de câmbio, vai ver que os gráficos andam juntos. Isso, portanto, é responsabilidade da política de preços do governo federal.”

“O desmonte dos estoques reguladores é responsabilidade do governo federal. A política energética é responsabilidade do governo federal. As barbaridades que Bolsonaro fala e que têm impacto no comércio internacional e na credibilidade do País, que puxam a taxa de câmbio para cima, são de responsabilidade do governo”, continua Marconi. “Os recursos saem do país ou deixam de entrar, causando um desequilíbrio total. Isso é reflexo da política econômica de Bolsonaro e Guedes – culpa, portanto, do governo federal.”