O professor de Economia da UnB José Luís Oreiro avalia que as tensões na Ucrânia terão consequências sobre o câmbio, com desdobramentos negativos na economia do Brasil, que na atual conjuntura, enfrentará uma inflação maior bem como um encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022.

“Toda vez que ocorre uma crise internacional, principalmente, um conflito bélico, existe uma tendência natural dos investidores mundo afora de buscarem refúgio no dólar americano, que é a moeda de reserva internacional por excelência. Então o que vamos ver nos próximos dias vai ser uma valorização do euro frente às principais moedas dos países em desenvolvimento e, nesse caso, frente ao real”, explica Oreiro, em vídeo.

O professor, que é fundador e coordena o Structuralist Development Macroeconomics Group (grupo de pesquisa no âmbito da Macroeconomia do Desenvolvimento Estruturalista), ressalta que a variação cambial impacta diretamente os preços: “O dólar já se valorizou na manhã de hoje quase 2% com respeito ao real. Isso, óbvio, tem impactos sobre a inflação, pois como nós sabemos a política de preços da Petrobras atrela o preço da gasolina à paridade internacional. Então, você valorizando o dólar, você tem consequentemente um aumento dos preços dos combustíveis e um aumento da inflação no Brasil”.

Oreiro acrescenta que, além disso, a Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo. “A depender da extensão das sanções comerciais que os Estados Unidos e os países da União Europeia vão adotar contra a Rússia, nós deveremos observar também o aumento do preço do petróleo internacional, o que irá jogar mais lenha na fogueira na inflação brasileira”, observa.

Outro aspecto importante, afirma ele, é que os preços das principais commodities que o Brasil exporta, como soja, minério de ferro, carne, estão todos indexados em dólar. “Então, se o dólar se valoriza frente às outras moedas os preços das commodities internacionais cotadas em dólar também vai aumentar e isso vai se refletir diretamente sobre a inflação de alimentos no Brasil, de tal maneira que eu acho muito pouco provável que a inflação no ano de 2022 fique abaixo de 7%”, estima.

Na prática, segundo o economista, isso significa queda dos salários reais e redução do consumo. “Dadas as perspectivas que já eram ruins para a economia brasileira no ano de 2022, com muitos analistas prevendo um crescimento entre 0,5% e 0,6%, como foi o caso do último boletim FGV Macro do Ibre, a economia brasileira nesse cenário vai entrar em recessão, ou seja, vai ter um crescimento negativo”, afirma Oreiro, que considera esta uma péssima notícia para a tentativa do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, de se reeleger. “A economia este ano vai ser uma economia que vai encolher de tamanho. Portanto, vamos ter mais desempregados em vez de menos, e a inflação vai permanecer em níveis elevados, conclui.

Assista ao vídeo com o comentário do professor José Luís Oreiro clicando aqui.