Scott Ritter, ex-oficial da Marinha dos EUA, foi inspetor de armas da ONU para o Iraque

O ex-inspetor de armas no Iraque e na implementação do Tratado de Proibição de Mísseis Intermediários (INF) EUA-URSS, o norte-americano Scott Ritter, afirmou que qualquer um que acabe na lista negra de “propagandistas russos” do regime de Kiev por falar a verdade deve se sentir “orgulhoso”.

“Tenho orgulho de estar associado a muitos daqueles que se juntam a mim nesta lista – Ray McGovern [ex-analista sênior da CIA], Tulsi Gabbard [ex-deputada norte-americana], Douglas MacGregor [coronel marine da reserva], John Mearsheimer [acadêmico] e muitos outros”, acrescentou.

Ritter registrou que seu nome foi incluído pelo “Centro de Combate à Desinformação” do Conselho de Segurança Nacional ucraniano em uma lista negra de pessoas por supostamente estarem espalhando “propaganda”.

“Meu nome está nessa lista. Meus ‘crimes’ incluem descrever a Ucrânia como uma base da OTAN, questionar a narrativa em torno do ‘massacre de Bucha’ e chamar o conflito em curso entre a Ucrânia e a Rússia de ‘guerra por procuração OTAN-Rússia’”, afirma Ritter, que acrescenta declarar-se “culpado de todas as três acusações e muito mais”. Mas – observa – “não sou um propagandista russo”.

Ritter se dedica então a demolir as imputações da lista negra contra ele. “Se a ‘descrição da Ucrânia como uma base da OTAN’ torna alguém um propagandista russo, então eu deveria ter feito dupla com Ben Watson, editor da notória revista online Defense One, que em outubro de 2017 publicou um artigo de título ‘Na Ucrânia, os EUA estão treinando um exército no oeste para com ele lutar no leste’”.

O ex-inspetor e ex-analista de inteligência assinala que o artigo de Watson “descreveu o trabalho do pessoal militar da OTAN e dos EUA dentro do Grupo Multinacional de Treinamento Conjunto no Centro de Treinamento de Combate da Ucrânia em Yavoriv, no oeste da Ucrânia. É literalmente uma base da OTAN no País. A cada 55 dias, um batalhão completo do exército ucraniano era treinado no centro de acordo com os padrões da OTAN para ser enviado ao leste da Ucrânia para combater os separatistas no Donbass”.

À ex-relações públicas de uma estatal do setor ferroviário ucraniano e atual responsável pela lista negra, Polina Lysenko, Ritter oferece uma “dica profissional”: “quando um país hospeda um contingente permanente de tropas da OTAN em seu solo, esse país está se tornando uma base da OTAN”.

Quanto à avaliação de Ritter de que o massacre de Bucha no final de março/início de abril foi um crime cometido pelas forças ucranianas, ele ironizou que, dessa feita, Lysenko estava em “boa companhia”, já que ele também foi “banido pelo Twitter”.

“Quatro meses após as atrocidades cometidas em Bucha, mantenho minha análise – os fatos não mudaram desde então. E eu estaria pronto a qualquer momento para debater essa questão com Lysenko e toda a sua equipe ao vivo na televisão ucraniana. Eu discutiria isso com qualquer pessoa, em qualquer lugar – é assim que permaneço confiante em minha análise original. A verdade é minha principal arma”, reiterou Ritter.

A última acusação contra ele, apontou o ex-inspetor, é por chamar o conflito em curso entre a Ucrânia e a Rússia de ‘guerra por procuração OTAN-Rússia’. Ironizando, Ritter se referiu a um artigo russófobo de Max Boot no Washington Post em que este chama o conflito na Ucrânia de “nossa guerra também”. “É uma das poucas vezes que concordo com Max Boot em qualquer coisa”, observa.

Ritter registra que Boot, no entanto, “apenas repetiu a declaração do secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, de que a política dos EUA sobre o conflito na Ucrânia é projetada para enfraquecer a Rússia ao apoiar a Ucrânia – o que se aproxima de uma definição de livro didático de um ‘conflito por procuração’”.

Mas, sarcasmos à parte, a divulgação pelo centro liderado por Lysenko de uma lista negra dos chamados “propagandistas russos” deveria ser “um insulto para quem acredita nos conceitos de liberdade de expressão”, acrescentou o ex-inspetor de armas da ONU.

Referindo-se aos já citados companheiros de lista negra, como McGovern e MacGregor, Ritter se disse “confiante de que todos dirão que sua motivação para sua posição sobre o conflito na Ucrânia é buscar a verdade – a verdade real, não a versão confusa propagada por Lysenko e seus analistas pagos pelos EUA”.

Nenhum dos “listados” se vê como ‘propagandistas russos’, destaca Ritter, mas sim “praticantes americanos da liberdade de expressão do tipo protegido pela mesma Constituição dos EUA que muitos dos citados, inclusive eu, juramos defender”.