Enquanto em Pernambuco profissionais de saúde estão inclusivos na testagem, em São Paulo, ficaram em segundo plano.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou a segunda fase dos testes em massa de covid-19 em São Paulo, deixando os profissionais de saúde, linha de frente e mais vulneráveis à contaminação, em segundo plano. Os programas piloto de teste priorizaram servidores da segurança pública e praticamente ignoraram os profissionais de saúde.

Segundo observa a reportagem da Rede Brasil Atual, o Instituto Butantan, responsável pela realização dos programas de testagem, incluiu 229.843 agentes de segurança pública, entre policiais militares (PMs) e guardas civis metropolitanos (GCMs) nos dois programas lançados, mas não soube informar quantos profissionais de saúde foram testados.

A primeira fase do programa de teste para detectar a covid-19 em São Paulo foi iniciada em 15 de maio, com a previsão de aplicar 1 milhão de exames, utilizando os testes rápidos – que detectam a presença de anticorpos contra o coronavírus no organismo, indicando se a pessoa já teve a doença e foi assintomática, por exemplo. Nesse processo foram incluídos 35 mil policiais militares que atuam na capital paulista e seus familiares, totalizando 145 mil pessoas. No entanto, não há informações de quantos profissionais de saúde foram testados.

O Brasil é o triste recordista mundial de profissionais de saúde e enfermagem mortos pelo novo coronavírus: 52% dos casos ocorreram aqui. De acordo com o Conselho Federal de Enfermagem quase 22.081 enfermeiros, técnicos e auxiliares se infectaram, e 220 morreram. 85% dos casos são do sexo feminino, assim como a totalidade dos óbitos também é de mulheres. O Amapá foi o estado com a maior proporção de profissionais de saúde mortos pela doença.


Públicos-alvo da segunda fase de testagem em massa lançada pelo governo Doria
Para a presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (SindSaúde), Cleonice Ribeiro, Doria não respeita os profissionais do setor. “Na mídia é uma coisa, por trás das câmeras é outra”, diz ela, destacando que a grande maioria dos profissionais de saúde não foi testada, apensar das do governo de SP.

Cleonice considera correto testar os profissionais de segurança, pois eles estão na rua diariamente. “Mas não se pode excluir os profissionais de saúde dessa forma. Só quem teve sintomas está sendo testado. O correto seria testar a todos. É muito ruim a forma como o governador vem tratando os trabalhadores da saúde”, afirmou, em entrevista à RBA.

A infectologista Juliana Salles, diretora do Sindicato dos Médicos de São Paulo, aponta uma motivação política, que ela considera muito grave, para não haver testes em massa entre profissionais de saúde. Ela avalia que há uma tentativa de omitir os casos na saúde para evitar um grave déficit de profissionais, pois se testados positivamente, terá que ser afastados.

“Os testes são insuficientes e temos denúncias das unidades de que não estão sendo aplicados os testes rápidos para não ter de afastar funcionário. Devia ter teste para todo mundo. Se não tem para todos, para aqueles que estão trabalhando, como saúde, Samu, cemitérios e segurança pública”, sugere. Além disso, acrescenta ela, estes profissionais deveriam ser testados com frequência, mas isso não está acontecendo.

Testar todos

Já na fase atual, lançada no último dia 19, o governo Doria pretende testar 233.785 pessoas. Destas, 25 mil serão direcionados ao município de São Bernardo do Campo, no ABC, 22 mil são servidores das GCMs municipais, 172.843 são policiais militares que atuam no interior e policiais civis, 2 mil são profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da capital paulista e 12 mil são profissionais de saúde do Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto – totalizando 14 mil testes na saúde (cerca de 6%). Os exames restantes serão aplicados no sistema prisional, na Fundação Casa, e em asilos.

O governo Doria informou que, até a última segunda-feira (22), 10.718 profissionais de hospitais estaduais chegaram a ser afastados por suspeita ou confirmação de covid-19, desde o início da pandemia. Destes, 7.258 profissionais se recuperaram e já tiveram alta e 3.460 ainda estão afastados. Além disso, houve confirmação da morte de 40 profissionais da rede estadual por coronavírus.