Dois terços dos reajustes salariais negociados em acordos e em convenções coletivas ficaram abaixo da inflação em setembro, de acordo com o boletim Salariômetro, divulgado nesta sexta-feira (22) pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Segundo a pesquisa, apenas 9,5% das negociações trabalhistas resultaram em ganhos reais (acima da inflação) e 23,5%, em tiveram reajuste igual ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

Registraram reajuste abaixo da inflação ou apenas a reposição do índice setores como comércio (atacado e varejista), indústria metalúrgica, confecções/vestuário, indústria química, fiação e tecelagem, bares e restaurantes, construção civil e educação.

Em setembro, o reajuste mediano negociado foi de 8%, enquanto o INPC no acumulado de 12 meses ficou em 10,4%. O piso salarial mediano foi de R$ 1.255 em setembro, enquanto o piso médio foi de R$ 1.396.

Hélio Zylberstajn, professor sênior da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP)e coordenador do boletim, afirmou que o desemprego em massa e a inflação recorde no país dificulta cada vez mais as condições para que o trabalhador consiga um reajuste salarial adequado.

“A perda salarial durante as negociações se deve a dois fatores: a desocupação que tira o poder de barganha do trabalhador e a inflação que corrói os salários. É o pior dos mundos”, explica o professor Hélio.

Além desse quadro a que se refere o professor Hélio, de desemprego e inflação que têm impedido que os trabalhadores tenham condições de barganhar até mesmo pela reposição da inflação sobre seus salários, temos ainda o aumento de pessoas em condições precarizadas de trabalho, com salário ainda menores.

Um estudo elaborado pela consultoria IDados, com base nos indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do segundo trimestre, 30,2 milhões de pessoas sobrevivem com até um salário-mínimo (R$1.100), dentre esses, dois terços são negros (66%).