Dezenas de documentos que passaram mais de 30 anos guardados nos arquivos da reitoria demonstram como, em plena década de 1980, após a anistia e no final da ditadura, os militares interferiam na vida administrativa da UFPE.

Por Inácio França*

O dossiê revela como o coronel Clidenor de Moura Lima, diretor do SNI em Pernambuco, e seus agentes davam ordens na UFPE, recomendando cancelamento de bolsas de residência médica, modificando programação de seminários, cancelando eventos, requisitando dados pessoais de estudantes que tinham acabado de passar no vestibular e até garantindo a transferência de um aluno “do seu interesse”.

“(…) Com os dados nas mãos, os agentes passavam a acompanhar de perto a vida acadêmica desses estudantes, muitos dos quais viriam a exercer mandatos políticos ou se tornaram figuras públicas.

Foi o caso do vereador e ex-prefeito do Recife João da Costa, deputado federal Renildo Calheiros, do procurador Aguinaldo Fenelon, do advogado e professor Jayme Benvenuto, do advogado e ex-empresário Maurício Rands, do médico e cineasta Wilson Freire, e do jornalista Vandeck Santiago, atual editor-executivo do Diário de Pernambuco.

“Ainda temos muito o que caminhar na pesquisa. Ainda é nebuloso o comportamento da administração central da UFPE frente aos órgãos de repressão de 64. Mas esses documentos nos revelam a ingerência direta e gritante da DSI (Divisão de Segurança e Informações) e da Delegacia do MEC na UFPE, particularmente, na gestão de Geraldo Lafayette. Ele cumpria rapidamente ordens de cima. Os outros faziam a mesma coisa? O que se sabe, pela pesquisa, é que o reitorado de Marcionilo Lins fora elogiado como colaborador da ditadura de 64 quando acionado. Esses documentos são os mais incisivos e diretos quanto à ingerência dos órgãos de informação na administração da UFPE.”

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