“Distribuição desigual das vacinas perpetua pandemia”, alerta OMS
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, denunciou a distribuição global de vacinas contra a Covid-19 como um “escândalo de desigualdade que está perpetuando a pandemia”. Segundo o biólogo etíope, 75% dos imunizantes aplicados até aqui foram ministrados em apenas dez países.
“Não há uma maneira diplomática de dizer isso: um pequeno grupo de países que fabrica e compra a maioria das vacinas do mundo controla o destino do resto do planeta”, assinalou em discurso na abertura da Assembleia Mundial da Saúde, na segunda-feira (24).
Tedros Adhanom sublinhou que o número de doses já injetado seria suficiente para imunizar todos os profissionais de saúde e idosos do mundo, se tivessem sido distribuídas de forma equitativa. E voltou a criticar os governos que iniciaram a vacinação de crianças e grupos de baixo risco, o que teria acontecido “às custas” de pessoas vulneráveis de outras regiões do planeta.
Ghebreyesus apontou que ao ritmo atual, dentro de três semanas se atingirá um número de mortes com Covid-19 superior ao total de 2020.
Do total de mortos, pelo menos 115.000 eram trabalhadores do setor da saúde, acrescentou.
De acordo com a agência das Nações Unidas para a saúde, a pandemia não está chegando ao seu final. Segundo Tedros, o mundo registrou mais casos em cinco meses de 2021 que em todo o ano de 2020.
O diretor-geral informou que o programa global para o acesso equitativo aos imunizantes, Covax, distribuiu 72 milhões de doses de imunizantes a 125 países, mas essa quantidade não é ainda suficiente. “Portanto, hoje estou pedindo aos Estados membros que participem de um grande esforço para vacinar pelo menos 10% da população de todos os países até setembro, e um impulso até dezembro para atingir nossa meta de vacinar pelo menos 30% até o final do ano”, conclamou.
Apoio à quebra de patentes
Em apelo a produtores, Tedros Adhanom pediu que as farmacêuticas reservem pelo menos 50% das doses produzidas este ano ao Covax. Ele elogiou a proposta da Índia e África do Sul de quebrar patentes de vacinas contra a Covid-19, que já foi aprovada pela China, pela Rússia e até pelos Estados Unidos. “Vários fabricantes disseram que têm capacidade para produzir vacinas se as empresas de origem estiverem dispostas a compartilhar licenças, tecnologia e know-how. Acho difícil entender por que isso ainda não aconteceu”, frisou.
Tedros Adhanom revelou ainda que o programa ACT Accelerator, que visa fomentar a pesquisa sobre a pandemia, precisa de US$ 18,5 bilhões adicionais. Ele agradeceu ao presidente americano, Joe Biden, por reverter a decisão de seu antecessor, Donald Trump, de sair da OMS e também por doar US$ 4 bilhões ao Covax.
O diretor da OMS não ficou alheio à questão dos bombardeios na Faixa de Gaza, alertando que estão causando danos aos estabelecimentos de saúde e afetando seus trabalhadores: “Já ocorreram dezenas de incidentes que envolveram trabalhadores e estabelecimentos de saúde”, disse.
O diretor da organização para Emergências de Saúde, Mike Ryan, acrescentou que “todos esses ataques às redes de saúde devem parar e o acesso às instalações deve ser garantido”, já que “a saúde dos civis deve ser protegida”.