A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) das Fake News, que investiga a divulgação de notícias falsas nas redes sociais e assédio virtual, ouve jornalista, que é um dos fundadores do blog Terça Livre. rrMesa:rpresidente da CPMI das Fake News, senador Angelo Coronel (PSD-BA);rdepoente, fundador do blog Terça Livre, jornalista Allan dos Santos;radvogada do depoente, Dênia Erica Ramos Magalhães.rrFoto: Roque de Sá/Agência Senado

O blogueiro Allan dos Santos, dono do site Terça Livre, foi ouvido na terça-feira (5) pela CPI Mista das Fake News, que investiga notícias falsas nas redes sociais e assédio virtual.
Ele foi convocado a prestar esclarecimentos sobre a acusação de propagar notícias falsas e ataques virtuais difamatórios contra quem fizer oposição ao governo de Jair Bolsonaro.
Allan reiterou seu apoio a Bolsonaro, mas disse não receber financiamento do governo. O blogueiro chegou, inicialmente, a concordar com pedido da relatora da CPI, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), para autorizar a quebra do seu sigilo bancário e fiscal. Porém, voltou atrás alegando que “o ônus da prova é de quem acusa”.
Em um depoimento contraditório, pediu doações para o blog e debochou da comissão ao mandar beijos para uma colaboradora freelancer de seu site. “Um grande beijo para a Fernandinha”, chegou a dizer Allan dos Santos olhando para as câmeras.
Acusado pelo deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), que prestou depoimento dia 30, de integrar um dos núcleos operacionais de uma milícia virtual formada para dar suporte às ações e intrigas políticas do clã Bolsonaro, o dono do Terça Livre afirmou ter criado o site para defender o conservadorismo e atuar contra supostas “guerrilhas armadas do Brasil”.
Segundo o blogueiro, ele criou o site em 2014 para “vencer o comunismo, as Farc [Forças Revolucionárias Colombianas] e todo o trabalho de guerrilha armada no Brasil”.
Allan dos Santos se negou a responder perguntas de Frota, alegando se considerar ofendido após ser chamado de “uma espécie de Sônia Abrão digital”. O parlamentar quis saber o motivo de Allan replicar postagens de perfis no Twitter conhecidos por espalhar fake news e fazer ataques a críticos do governo.
O blogueiro também negou que fizesse compartilhamento de fake news, mas admitiu compartilhar pensamentos de outras pessoas sobre determinadas situações, não sendo ele, desta maneira, o criador da fake news.
Allan se negou ainda a responder as perguntas feitas por membros da oposição. Quando questionado pelo líder do PT, senador Humberto Costa (PE), sobre sua relação com Tercio Arnaud Tomaz, assessor da presidência da República, o bolsonarista preferiu manter o silêncio.
Tercio é citado por parlamentares que romperam com o governo de ser um dos comandantes do chamado “Gabinete do Ódio”, instalado dentro do Palácio do Planalto, que seria responsável por disseminar notícias falsas e difamar adversários políticos a partir do governo.
O blogueiro alegou que são “as grandes empresas de comunicação que promovem desinformação”. Além disso, disse que ele próprio já foi vítima de notícias falsas, como a de que teria acompanhado Jair Bolsonaro em viagem ao exterior no avião presidencial.
Também negou que tenha carro de luxo e mansão com aluguel pago pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PLS-SP). O próprio deputado se pronunciou e defendeu o bolsonarista. Outros deputados da claque do governo na CPI mista das Fake News apoiaram o fundador do Terça Livre. Entre eles, Filipe Barros (PSL-PR) e a deputada Bia Kicis (PSL-DF).
A deputada Caroline de Toni (PSL-SC) criticou o uso do termo “milícia” para se referir à mobilização na internet de pessoas que se alinham raivosamente ao bolsonarismo. “O que a CPMI quer é calar a voz do povo. Qualquer pessoa pode se reunir digitalmente, são discussões digitais, sem impedimento para suas ideias e vontades. Esta comissão é para tentar criminalizar e perseguir pessoas”, disse.
Os trabalhos da CPMI devem se estender até abril de 2020. O presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (DEM-AP), acatou o pedido do presidente da comissão, senador Angelo Coronel (PSD-BA), que contestou a decisão da Mesa do Senado de encurtar para 23 de dezembro deste ano o prazo de trabalho do colegiado.
Segundo o senador baiano, uma Comissão Parlamentar de Inquérito tem um prazo regimental de 180 dias úteis de trabalho e, por isso, não precisa ser encerrada ao final do ano legislativo, como havia determinado a Mesa.
“Especificamente em relação aos prazos de CPIs, entendo ser necessária a observância do prazo do requerimento de criação do colegiado. Ou seja, o único limite é o fim da legislatura e não o fim da sessão legislativa em 23 de dezembro”, admitiu Davi Alcolumbre.
Ele reconheceu ainda que uma CPI precisa de um prazo razoável e necessário para atingir as finalidades para as quais foi criada.
Mais de 160 pessoas já foram convidadas ou convocadas a prestar depoimento sobre ataques virtuais. Entre elas, estão Joice Hasselmann (PSL-SP), Delegado Waldir (PSL-GO), Gleisi Hoffmann (PT-RS), Felipe Neto, Luciano Hang, Caetano Veloso e alguns dos assessores do presidente Jair Bolsonaro.