Equatorianos realizaram manifestações e bloquearam estradas no protesto nacional contra a carestia

Impulsionadas por mais um aumento de até 12% nos combustíveis (com uma elevação dos preços acumulada de 90% desde 2020), as mobilizações de camponeses, estudantes e trabalhadores no Equador – as maiores em cinco meses de governo de Guillermo Lasso – se repetiram pelo segundo dia consecutivo, na quarta-feira (27).

Indignados com as repercussões desses aumentos nas condições de vida da população mais vulnerável, os manifestantes bloquearam estradas em 10 das 24 províncias do país contra a política econômica do governo que também envolve desemprego, condições precárias de trabalho e salários baixos.

O presidente, sem conseguir dar uma resposta às reivindicações, durante a noite da quarta-feira convidou a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), uma das principais organizações que organizam o protesto, para se reunir no Palácio Carondelet, sede do governo, no dia 10 de novembro.

Os bloqueios foram feitos com pedras, troncos, toras e pneus em chamas em vários pontos da Rodovia Pan-americana, na saída norte de Quito. Os manifestantes, muitos deles trabalhadores em greve, se reuniram em uma colina próxima para fortalecer as barricadas na artéria principal que conecta a capital equatoriana com a Colômbia através da área andina. “Fechamos as pistas com entulho reunido em caçambas. O governo fez besteira aumentando a gasolina o tempo todo e não vamos permitir”, disse Dennis Viteri, um operário têxtil de 28 anos.

O escândalo dos Pandora Papers, nos quais propriedades e contas do presidente equatoriano apareceram em paraísos fiscais, também pesou nas manifestações. “O atual ciclo de protestos se deve à reação social à crise social e econômica desencadeada pelas políticas neoliberais dos governos Lasso e Moreno”, resumiu em entrevista ao jornal Página / 12 Pablo Iturralde, líder social e coordenador da Assembleia Nacional Cidadã (ANC)

Foram registrados bloqueios de estradas em províncias como Chimborazo, Tungurahua, Imbabura, Bolívar, Cotopaxi, Morona Santiago, Pastaza e Azuay. Além desse tipo de manifestação, ocorreram passeatas de trabalhadores, professores e estudantes em Quito, nas quais foram registrados confrontos com a polícia próximo à sede do Executivo. 37 pessoas foram presas.

Em entrevista coletiva em Quito, lideranças de diferentes sindicatos e movimentos sociais do país qualificaram o dia de “exitoso” e anunciaram para a próxima semana uma convenção nacional na qual buscarão promover uma greve nacional.

Os protestos de terça e quarta-feira ocorreram em meio a um estado de exceção de 60 dias decretado por Lasso em 18 de outubro com o argumento de combater crimes ligados ao tráfico de drogas. O governo posicionou soldados nas ruas para apoiar a polícia, o que resultou em ataques a camponeses e indígenas que se manifestaram cortando estradas.

Lasso decretou recentemente novos preços de combustível, elevando um galão (3,8 litros) de diesel para US $ 1,90, em comparação com 1 dólar um ano atrás. Na sexta-feira, na tentativa de conter a indignação de parte da cidadania, o presidente anunciou o congelamento de preços, o que não convenceu nem os sindicatos nem os setores sociais mais afetados pela crise no país. Eles exigem que o congelamento seja baseado nos preços de junho e não nos preços de outubro, que são muito mais altos.

O Equador, que exporta petróleo, mas importa combustível, enfrenta uma crise que se reflete em uma dívida externa de quase 46 bilhões de dólares (45% do PIB). Também acumula 47% de pobreza e 28% de desemprego. Como se isso não bastasse, Lasso enfrenta investigações na Promotoria e no Congresso por sua relação com o escândalo da Pandora Papers, que revelou os paraísos fiscais dos homens mais poderosos do mundo.

Pablo Iturralde, coordenador do ANC, afirmou que “enquanto continuar a imposição ortodoxa do modelo neoliberal por Lasso, o ciclo de protestos não só continuará como aumentará nestes meses e nos primeiros do ano 2022”. Na mesma

linha se manifestou o dirigente estudantil Mauricio Chiluisa, que assegura que “há um sentimento de indignação e impotência, mas também de luta entre aqueles de nós que, unidos, buscamos dias melhores para o Equador”.