Mulheres tomaram as ruas do centro. Fotos: Carol Ditbenner e Reginaldo Pires

No Brasil governado por Bolsonaro, o preconceito e a discriminação encontraram terreno fértil para se desenvolver. Mas, não sem reação. A todo momento, vêm à tona manifestações de rechaço ao machismo, ao racismo, à LGBTQIfobia e a todas as formas de opressão e desigualdade, seja nas capitais, seja nas pequenas cidades.

Lorrany acompanha manifestação

Foi o que aconteceu no último sábado (24) no município de Baixo Guandu, a 178 quilômetros de Vitória, no Espírito Santo. Cerca de 200 mulheres, vestindo camiseta preta e portando balões cor-de-rosa e cartazes, foram às ruas protestar contra declaração preconceituosa de um dos candidatos à Prefeitura, Lastênio Luiz Cardoso (Solidariedade), feita contra a candidata a vice-prefeita do PCdoB, Lorrany Rodrigues (foto), que compõe chapa liderada por Eloy Avelino Jr., do PDT.

De acordo com nota de solidariedade lançada pela Unegro — e assinada por 18 entidades, coletivos e instituições dos movimentos sociais, sindical e político — , em comício realizado no dia 20/10, Cardoso declarou: “Não quero desfazer de ninguém não, olha o vice deles, vamos comparar: prefeito pode ser cassado, pode renunciar, precisa se ausentar, pode até morrer. Aí quem assume é o vice”. A nota diz ainda que “após repercussão negativa nas redes sociais, o mesmo afirmou: “não me referi a todas as mulheres, mas a ela, é a minha opinião acho que ela não tem condições de ser prefeita”.

Mulher, negra e jovem, Lorrany diz que “já esperava isso dele porque ele sempre foi uma pessoa machista, o governo dele era liderado por homens, sobretudo brancos e com dinheiro”. Ela conta que o ocorrido “deu a mim ainda mais força para lutar por nossa gente e conquistar nosso espaço de voz”.

Lorrany, que faz parte da Unegro e da UJS e é formada em Pedagogia, diz que aprendeu muito ao longo da vida, militando nos movimentos negro e de juventude.”Temos de matar um leão por dia para garantir nosso espaço na sociedade e não é fácil, são muitos os desafios, mas não vamos baixar a cabeça”.

De acordo com Meirivan de Souza Bafica, vice-presidenta do PCdoB de Baixo Guandu e secretária de Cultura da direção estadual do partido no Espírito Santo, “as pessoas dizem que foi um movimento histórico na cidade. A manifestação de sábado traduz o repúdio da sociedade a esse tipo de coisa. Mesmo uma cidade do interior, que é mais conservadora, não quer mais esse tipo de atitude”.

Ela lembra que “conforme íamos passando, mulheres que não estavam no ato iam fazendo gestos de apoio. É uma manifestação que mostrou, de forma veemente, que a mulher, o negro, não aceitam mais esse tipo de atitude. É muito bacana a gente poder estar na rua dizendo: ‘olha só, nós mulheres, nós negros, temos voz’”.

Ainda de acordo com a nota lançada pela Unegro, “uma das características do racismo no Brasil é a subjetividade, é melífluo e gelatinoso, pois se esconde por trás de sua negação, como afirmou o escritor Clóvis Moura. Mulher, jovem, negra, de origem humilde, é uma legítima representante do povo, povo preto, pobre e periférico que em função do racismo estrutural está sub-representado nós espaços de poder”. A entidade apresentou, junto à Justiça, um pedido de notificação para explicações por parte do candidato.

Após mais uma atividade de campanha, animada com o apoio que tem recebido, Lorrany conclui: “Estou muito feliz por representar a juventude, a negritude, por poder falar do nosso povo, da nossa gente. A oposição achava que, desmerecendo a mim, como mulher, ia apagar meu brilho, foi o contrário: virei sol”.

Por Priscila Lobregatte