Ngozi, diretora-geral da OMC: “Só haverá segurança para todos se houver vacinas para todos em cada país”

“Eu acredito que a OMC pode contribuir com mais força para a resolução da pandemia de Covid-19, ajudando a melhorar o acesso e a disponibilidade de vacinas para os países pobres”, assinalou a recém eleita diretora da Organização Mundial do Comércio (OMC), a nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala.

“É do interesse de todos os países que todos sejam vacinados porque você não estará seguro até que todos estejam seguros”, afirmou Okonjo-Iweala.

Ela advertiu que, embora seja natural que os políticos busquem priorizar os seus próprios países, as cadeias de abastecimento estão estreitamente ligadas e não podem ser rapidamente desemaranhadas para criar uma produção totalmente nacional. Disse que a OMC deve trabalhar para evitar a tendência a restringir as exportações de produtos médicos e terapêuticos, incluindo vacinas.

Dra. Ngozi insistiu em que a OMC – ainda mais nesse período em que a recessão exacerbada pela pandemia – deve retornar à sua função original de ajudar os países a melhorarem o nível de vida de seus habitantes. “Trata-se de criar empregos, trabalho decente para as pessoas. É sobre (…) melhorar vidas”, declarou.

Será a primeira vez que o cargo será ocupado por uma mulher que também representa a África e, embora reconheça que o desafio é enorme, a ex-ministra das Finanças da Nigéria e ex-dirigente do Banco Mundial “Dra. Ngozi” – como ela pediu para ser chamada – tem muita experiência em superar dificuldades.

“Acredito que a OMC é importante demais para permitir que seja desacelerada, paralisada e moribunda”, declarou à AFP em uma entrevista. “Isso não está certo”, frisou, referindo-se à instituição cada vez mais sucateada, especialmente pela hostilidade do governo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Eleita pelos países-membros na segunda-feira (15), depois que o governo do presidente norte-americano, Joe Biden, respaldou sua candidatura, a diretora comprometeu-se a injetar uma vida nova no organismo que teria por função regulamenta o comércio internacional.

Antes mesmo de sua designação, a economista de 66 anos já tinha amplo apoio de membros da OMC, incluindo China, União Europeia, União Africana, Japão e Austrália. “A China parabeniza Ngozi Okonjo-Iweala por sua nomeação como a nova diretora-geral da OMC”, disse o porta-voz do ministério do Comércio da China, acrescentando que “a Dra. Iweala possui ricas experiências no gerenciamento de organizações internacionais”.

“A China apoiará firmemente o sistema de comércio multilateral, participará ativamente na reforma da OMC, apoiará o trabalho da nova diretora-geral, para que a OMC dê maiores contribuições para melhorar a governança global e melhorar o bem-estar do mundo,” disse o representante chinês.

“Definitivamente, o comércio tem um papel a desempenhar na recuperação” da crise econômica provocada pela pandemia, afirmou a Dra Ngozi.

A OMC precisa de “algo totalmente diferente” para mudar as coisas, insistiu, antes de rebater as críticas de alguns setores de que não teria experiência.

“Você precisa de fortes habilidades políticas, capacidade de manobra”, afirmou. Ela acrescentou que pode e vai servir como uma ponte entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, com base em sua carreira de 25 anos no Banco Mundial.

Também disse que pretende convocar para o fim do ano a reunião ministerial da OMC, adiada pela pandemia, o que permitirá abordar os temas mais críticos.

Okonjo-Iweala assume o cargo de diretora da OMC com mandato até 31 de agosto de 2025.

Ela admitiu que é um trabalho desafiador e ingrato, mas disse que a estimula ainda mais a mostrar resultados, para que no futuro ninguém questione a escolha de uma mulher para o cargo.