Em entrevista divulgada nesta quinta-feira (18) no jornal O Estado de S.Paulo, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) traçou o único cenário possível para vencer o atual presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Para Dino, “O centro democrático precisa estar junto para vencer a eleição. Se não der no primeiro turno, que seja no segundo”, avalia.

Flávio Dino foi questionado sobre o risco de ruir a frente ampla se Lula for o candidato. “Esse movimento de ampliação, no sentido de falarmos para além da esquerda, é imperativo. Para vencer Bolsonaro é preciso que nós façamos isso. E não vejo o Lula como obstáculo”, comentou. “Ele já fez isso em 2002, quando se elegeu presidente com o José Alencar de vice, um empresário liberal que representava um sindicato patronal. E já mostrou estar disposto a construir um projeto de nação que olhe para o futuro mais do que para o passado”.

Mas para o governador, a frente ampla é o único cenário para vencer o bolsonarismo. A seu ver, até mesmo nomes da direita – podem eventualmente apoiar um candidato de esquerda no segundo turno, se o adversário for Bolsonaro.

“Já houve essa união antes. Em 1989, Mário Covas (ex-governador tucano) apoiou Lula contra Collor. Depois disso veio a polarização entre PT e PSDB, e essa aliança não foi mais possível”, lembra. “Já em 2018, ela deveria ter ocorrido em torno do nome de Fernando Haddad. Não ocorreu, e temos hoje a tragédia que é o governo Bolsonaro. Agora, nesta eleição, é o bolsonarismo que deve ser batido. Temos de nos unir por esse objetivo e acredito que, aos poucos, estamos cicatrizando as feridas de 2018.”

Extrema-direita

Na visão do governador do PCdoB, os bolsonaristas já estão cientes das dificuldades que terão pela frente para reeleger o presidente de extrema-direita. “No fundo, eles sabem que perdem para o campo democrático unido – Bolsonaro sabe disso. Vem dando sinais cada vez mais claros de que sabe também que a pandemia e a alta na inflação de preços estão corroendo sua popularidade”, avalia.

De acordo com Dino, “o povo não acompanha se as ações da Bolsa subiram ou se o câmbio variou. Mas sabe que os preços dos alimentos estão cada vez mais altos, assim como o litro da gasolina. Ai, o que faz Bolsonaro? Joga a culpa em seus ministros ou nos governadores. Nunca assume qualquer responsabilidade”.

Liberais 

Para Flávio Dino, “é da natureza das coisas haver um candidato” no campo liberal. “Acho que esse centro liberal tem um ou dois nomes. Temos muitas diferenças programáticas, o campo deles e o nosso. O papel do Estado, por exemplo, é um deles. Mas, de fato, dialogo muito com muitos partidos”.

O governador ressaltou ainda que celebridades, como Luciano Huck e Felipe Neto, com ou sem pretensões eleitorais, podem jogar papel na denúncia do bolsonarismo. “Huck é um homem da mídia, não é um homem da política. Felipe Neto, a mesma coisa. Mas ambos são contrários ao Bolsonaro. Isso não é bom?”, indaga Dino. “Claro que é. Se estão dispostos a debater, melhor ainda.”

De acordo com o governador, há restrições para poucos nomes no campo anti-Bolsonaro, como o do ex-juiz Sérgio Moro. “Não tem ambiente para Moro na política. Ele é uma unanimidade negativa, não conheço mais de dez políticos que o apoiem para ser candidato. Nem sei se ele teria uma legenda para se lançar – o que é o resultado do conjunto da obra”.

Movimento de união dos governadores

Flávio Dino exaltou o empenho de governadores e parlamentares para compensar a negligência do governo Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia de Covid-19. “Nestes dois primeiros anos de governo Bolsonaro, o que garantiu o mínimo de organização no país foi uma aliança entre os governadores, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Houve, de fato, uma forte atuação dos governadores, que encontrou guarda no Supremo”, afirmou.

“Foram várias as decisões que nos permitiram agir, especialmente na pandemia. O Congresso, sob Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, também foi muito importante ao assegurar o auxílio emergencial de R$ 600, por exemplo”, lembrou Dino.

Ele ressaltou, porém, que a responsabilidade maior sobre a gestão da crise segue na Presidência da República. “Muitas coisas são de competência da União. Somos uma federação, não uma confederação, é bom que se diga isso. Os governadores fazem muito, mas não podem fazer tudo.”

 

Com informações O Estado de S.Paulo