Dinheiro de venda de ativos da Petrobras vai para bolso de acionistas
A cada resultado trimestral da Petrobras, a distribuição recorde de dividendos pela empresa surpreende os especialistas no setor enquanto observa-se a queda no patrimônio e nos investimentos. Na gestão Bolsonaro (do início de 2019 ao primeiro semestre de 2022), a petrolífera distribuiu um total de R$ 258,7 bilhões em dividendos, que correspondem a 102% do lucro líquido de R$ 252,8 bilhões registrado no período. Para se ter uma ideia, no governo Fernando Henrique Cardoso, a média foi 40%, e no governo Lula, 32%.
“Ao abrir mão de sua capacidade de geração de caixa para distribuir a seus acionistas, a Petrobrás reduz seu capital, seu patrimônio, e diminui sua possibilidade futura de investimento”, destaca o economista Cloviomar Cararine, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) subseção da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
Recorde
No segundo trimestre, a empresa distribuiu R$ 87,8 bilhões em dividendos, equivalentes a 8 vezes os investimentos realizados pela petroleira no período, de R$ 10,7 bilhões, e 162% maiores que o lucro líquido registrado no período, de R$ 54,3 bilhões. Segundo informações da Federação Única dos Petroleiros (FUP), tamanha relação entre dividendo/lucro/investimento jamais foi vista. O comportamento do segundo trimestre deste ano segue a trajetória observada nos primeiros três meses de 2022, quando a relação dividendo/investimento também disparou, atingindo 524,5% (dividendo de R$ 44,5 bilhões e investimentos de R$ 9,2 bilhões). Em anos anteriores, essa relação era de 25%.
“Esta relação desvantajosa para os investimentos da maior empresa do país e maior petroleira da América Latina vem sendo acelerada desde 2021”, observa Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP. Naquele ano, a relação mudou drasticamente de patamar, alcançando 214% (com dividendos de R$ 106,7 bilhões e investimentos de R$ 47,4 bilhões).
Em sua previsão para o resultado do segundo trimestre, o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (INEEP) já estimava o impacto de lançamentos não recorrentes, como o recebimento da última parcela da venda de 90% das ações da Petrobras na Nova Transportadora do Sudeste (NTS) (R$ 4,6 bilhões); recebimento da compensação de Sépia pago pela Total, pela Petronas e pela QP Brasil (R$ 14,55 bilhões); recebimento da compensação de Atapu pago pela Total e pela Shell (R$ 9,96 bilhões); e recebimento pelas vendas de campos terrestres na Bahia (R$ 1,26 bilhões) e ativo de E&P na Bacia Potiguar (R$ 3,08 bilhões).
Em suas redes sociais, o pesquisador do Ineep Eduardo Costa Pinto calculou que os R$ 136 bilhões que a Petrobras distribuiu em dividendos no primeiro semestre do ano é maior do que todas as seis maiores petroleiras integradas do ocidente distribuíram juntas. “Em um único semestre a companhia vai distribuir 31,7% do seu valor de mercado, proporção dez vezes superior à média das maiores petroleiras integradas do ocidente”, apontou o pesquisador, ressaltando que a liderança da Petrobras na distribuição de dividendos caminha lado a lado com os baixos montantes de investimentos, de US$ 4,1 bilhões, valor que representou apenas 15% dos dividendos distribuídos no primeiro semestre. “Esse menor investimento da Petrobras é fruto de uma estratégia deliberada, em curso desde 2016, de focalizar os investimentos na exploração e produção de petróleo no pré-sal e da venda de ativos em outras áreas.
Eduardo Costa Pinto menciona que, entre 2016 e 2022, a companhia vendeu cerca de 48 ativos, tais quais campos de petróleo, BR Distribuidora, NTS, TG e RLAM, que proporcionaram receita de R$ 153 bilhões (deflacionados pelo IPCA). No Governo Bolsonaro, R$ 104 bilhões entraram no caixa da Petrobras com a venda de ativos.
“Com as restrições do plano de investimentos, desenhado no plano estratégico, e com a venda de ativos, aumentaram os recursos sobrantes, após os pagamentos financeiros, para a distribuição de dividendos. O valor de dividendos, no semestre, compreende os investimentos de 12 semestres”, ressaltou o pesquisador do INEEP. “A estratégia de distribuição de dividendos, além de atender a interesses eleitoreiros do governo Bolsonaro/Guedes – o governo federal receberá US$ 9,4 bilhões -, beneficia os acionistas privados nacionais e internacionais que receberão US$ 17,8 bilhões, proporcionando enorme rentabilidade”, destacou Eduardo Costa Pinto.
Com informações das assessorias de imprensa da FUP e do Ineep