Representante dos EUA, Stephen Biegun (d) e o negociador da Coreia Popular, Kim Myong Gil, se reuniram em Estocolmo, Suécia. (Kyodo)

Não se confirmaram as expectativas de que a demissão do maníaco de guerra Bolton facilitaria o fim do impasse nas negociações sobre a desnuclearização da península coreana, e o principal negociador da Coreia Popular (Norte, socialista), Kim Myong Gil, declarou no sábado (5) à noite a interrupção das conversações com Washington na capital da Suécia, Estocolmo.

Kim, que passara a maior parte do dia conversando com a delegação norte-americana, responsabilizou a “inflexibilidade nos EUA” pelo fracasso, e advertiu que os negociadores do outro lado não “abandonaram seu antigo ponto de vista e atitude”.

“As negociações não cumpriram nossa expectativa e finalmente pararam”, disse Kim a repórteres fora da Embaixada da Coreia do Norte, através de um intérprete, registrou a agência Reuters. “Os EUA aumentaram as expectativas ao oferecer sugestões como uma abordagem flexível, novo método e soluções criativas, mas nos decepcionaram bastante e reduziram nosso entusiasmo pela negociação, ao não trazer nada para a mesa de negociações”, afirmou.

A emissora sueca TV4 informou que o Representante Especial dos EUA para a Coreia do Norte, Stephen Biegun, que liderou a equipe dos EUA, havia retornado à embaixada do país no centro de Estocolmo. O Ministério das Relações Exteriores da Suécia se recusou a comentar.

O negociador Kim Myong Gil acusou os Estados Unidos de não ter a intenção de resolver as dificuldades por meio do diálogo, mas disse acreditar ser ainda possível uma completa desnuclearização da península coreana. O que aconteceria – acrescentou – “quando todos os obstáculos que ameaçam nossa segurança e emperram nosso desenvolvimento forem removidos completamente sem sombra de dúvida”.

A raiz do problema está na insistência de Washington de não ceder um milímetro nas sanções drásticas, particularmente as que afetam a população diretamente, isto é, tentar matar o povo coreano de fome como forma de submeter o governo de Pyongyang.

A abordagem que permitiu a cúpula Kim-Trump de Singapura, proposta por Pequim e Moscou, foi a de trocar a suspensão das manobras de guerra dos EUA no sul, pela suspensão de parte dos coreanos dos testes de mísseis e nucleares, e criar um espaço de confiança para chegar a um acordo mutuamente aceitável. Rússia e China têm defendido que as sanções comecem a ser aliviadas, o que Washington se recusa.

Bolton chegou, inclusive, a sugerir, em evidente provocação que o modelo de desarmamento nuclear da Coreia fosse o “da Líbia” – que todo mundo sabe aonde levou. A um ano das eleições, não é do interesse de Trump quebrar a única vitrine positiva de sua política. Enquanto o impasse prossegue, Pyongyang segue desenvolvendo seu poder de dissuasão e na semana passada ensaiou o lançamento de um míssil de curto alcance a partir de um submarino.

A reunião em um centro de conferências isolado nos arredores de Estocolmo foi a primeira discussão formal em nível de trabalho desde que o presidente dos EUA Donald Trump e o líder norte-coreano Kim Jong Un se reuniram em junho e concordaram em reiniciar as negociações que pararam após uma cúpula fracassada no Vietnã em fevereiro.