Familiares de Martin Luther King e ativistas marcham em Washington em defesa do direito do povo ao voto

Culto e marchas em várias cidades dos Estados Unidos foram realizados na segunda-feira (17), Dia de Martin Luther King Jr., feriado nacional comemorado na segunda-feira seguinte à data de nascimento (15 de janeiro) do homem que dedicou sua vida à luta pelos direitos civis e que foi vítima de um assassinato em 4 de abril de 1968 em Memphis, Tennessee, quando tinha 39 anos.

O filho mais velho do falecido ativista, Martin Luther King III, sua esposa, Andrea Waters King, e sua filha, Yolanda Renee King, lideraram a Caminhada pela Paz na Ponte Memorial Frederick Douglass na capital, Washington.

Os manifestantes ecoaram as demandas feitas por Luther King há mais de 60 anos expressando: “O que queremos? Direito ao voto! Quando queremos? Agora”.

Desde cedo, Martin Luther King viveu o apartheid imposto inclusive por lei no sul dos Estados Unidos. Aos 17 anos, tornou-se pastor assistente de seu pai.

Estudioso, formou-se em Sociologia, Teologia e cursou doutorado em Filosofia. Em 1953, casou-se com Coretta Scott Williams, com quem teve quatro filhos.

Uma de suas primeiras ações na militância aconteceu em 1955, depois que Rosa Parks, ativista negra pelos direitos civis, foi presa por se recusar a ceder seu lugar a um homem branco na parte da frente de um ônibus em Montgomery, no Alabama. Na época, com a segregação racial institucionalizada, os passageiros negros eram obrigados a ocupar apenas os últimos assentos nos ônibus e, atingida a lotação, dar seus lugares a passageiros brancos.

A movimentação política e social liderada pelo Dr. King, como ficou amplamente conhecido, incluiu boicote dos negros ao transporte público, provocando um deficit financeiro ao Estado, fazendo com que as normas segregacionistas começassem a ser questionadas e a ceder, em meio a confrontos, ameaças e prisões.

Desde então, Martin assumiu a vanguarda na luta contra a discriminação no que ficou denominado movimento pelos direitos civis. Suas campanhas, incluindo pregações e marchas pacíficas onde o agressor eram policiais ou hordas fascistas lideradas pela Ku Klux Klan, que iam se desgastando com o crescimento da movimentação em torno da causa da igualdade racial.

Foi assim que Luther King liderou muitas conquistas, como o fim da segregação racial no transporte público, o fim da segregação em bares e restaurantes e passou a estimular os negros a se alistarem para votar.

Neste quesito o movimento pelo direito ao voto teve que enfrentar dificuldades, agressões e ameaças impostas por brancos segregacionistas. Martin Luther King foi agraciado em 1964 com o Prêmio Nobel da Paz.

Exatamente um ano após ter tornado público em um discurso em uma igreja em Nova York sua oposição à Guerra do Vietnã, ele foi assassinado em um atentado em Memphis, Tennesse, aonde fora em solidariedade a uma greve de trabalhadores.

No momento atual, porém, várias das conquistas duramente alcançadas estão ameaçadas, principalmente a generalização do direito e do apoio legal ao voto. No ano passado, pelo menos 19 Estados controlados por direitistas republicanos aprovaram 34 leis que restringem o acesso ao voto particularmente aos negros e hispânicos, segundo o Centro Brennan para a Justiça da Faculdade de Direto da Universidade de Nova York.

“Pedimos diretamente ao Congresso que não defenda os ideais de meu pai da boca para fora sem fazer o que protegeria seu legado: aprovar a legislação de direitos ao voto”, disse Luther King III, exigindo dos parlamentares a aprovação da legislação federal – que limitará o alcance das leis estaduais recém instauradas – em defesa do direito ao voto, projeto que vem sendo obstaculizado por republicanos saudosistas das diferenças com base na cor da pele.

Luther King III e Andrea Waters King se reuniram com o presidente Joe Biden na Geórgia e se juntaram a mais de 150 organizações parceiras em campanha pela legislação que irá ampliar as oportunidades de votação para toda a população e aumentará a transparência do financiamento das campanhas.

A filha de King, Bernice, foi às redes sociais pedir que o Senado aprove a reforma eleitoral. “Se essas leis Estaduais de supressão de eleitores persistirem, os Estados Unidos com os quais meu pai sonhou nunca existirão”.

Referindo-se à questão, o presidente Joe Biden manifestou discordância com as restrições eleitorais que estão sendo impostas em redutos republicanos, como a rejeição ao voto colocado em caixas de correio.

O que, em um país onde as eleições acontecem em dias da semana que não são feriados, dificulta bastante o exercício do direito ao voto por imensos contingentes de trabalhadores, ameaçando o legado do Dr. King.

É amplamente conhecida a Marcha a Washington, que reuniu centenas de milhares ao lado do Memorial a Lincoln e na qual MLK fez o célebre pronunciamento “Eu tenho um sonho” (I Have a Dream), mas ele ainda viveria para dar um passo de enorme relevância e significado: ao final da sua vida de lutas o Dr. King percebeu a conexão entre a busca pelos direitos civis e a luta contra a pobreza e contra a agressão imperialista, o que se afirmou na luta contra a barbárie da Guerra ao Vietnã.