Dez prefeitos já denunciaram esquema de pastores no MEC
Prefeitos de dez cidades, de quatro estados diferentes, já relataram que os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos eram intermediários para reuniões com o Ministério da Educação e pediam propina para a liberação de verbas para os municípios.
Os prefeitos de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga, Bonfinópolis (GO), Kelton Pinheiro, e Boa Esperança do Sul (SP), José Manoel de Souza, relataram à imprensa como os pastores, amigos da família Bolsonaro e de membros do governo, pediram propina.
Um áudio obtido pelo jornal Folha de S.Paulo mostrou o ministro da Educação, Milton Ribeiro, admitindo que destinava, por um “pedido especial” de Jair Bolsonaro, as verbas do Ministério conforme mandavam os pastores Gilmar e Arilton.
O prefeito Gilberto Braga contou que Arilton pediu R$ 15 mil para que a demanda fosse registrada no Ministério da Educação e um quilo de ouro, que vale mais de R$ 300 mil, para que a verba fosse destinada para sua cidade.
“Ele [Arilton] disse que tinha que ver a nossa demanda, de R$ 10 milhões ou mais, tinha que dar R$ 15 mil para ele só protocolar [a demanda no MEC]. E, na hora que o dinheiro já estivesse empenhado, era para dar um tanto, X. Para mim, como a minha região era área de mineração, ele pediu 1 quilo de ouro”.
O pedido de propina foi feito na frente de outros prefeitos. “O negócio tava tão normal lá que ele não pediu segredo, ele falou no meio de todo mundo”, comentou Braga.
“Inclusive, tinha outros prefeitos do Pará e ele disse: ‘olha, para esse daqui eu já mandei tantos milhões’. Os prefeitos ficavam todos calados, não diziam nem que sim nem que não”.
A demanda do município de Luís Domingues foi entregue ao pastor Arilton, mas nunca foi registrada no Ministério da Educação porque os R$ 15 mil que o pastor exigia não foram pagos.
O prefeito de Bonfinópolis (GO), Kelton Pinheiro, relatou que o pastor Arilton disse que faria um “desconto” na propina. “(Arilton) falou: ‘vou lhe fazer por R$ 15 mil porque você foi indicado pelo pastor Gilmar, que é meu amigo. Pros outros aqui, o que eu estou cobrando aqui é R$ 30 mil’”, disse.
Kelton Pinheiro ainda falou que o pastor Arilton pediu que parte da propina fosse paga na compra de bíblias de sua igreja, em uma tentativa de lavagem de dinheiro.
José Manoel de Souza, prefeito da cidade de Boa Esperança do Sul (SP), disse que os pastores pediram um pagamento de R$ 40 mil para que as verbas do Ministério da Educação fossem liberadas. “Ele [Arilton] disse: Eu falo lá, já faz um ofício, mas você tem que fazer um depósito de R$ 40 mil para ajudar a igreja”.
Além dos três, outros sete prefeitos relataram que só conseguiram contatos com o Ministério da Educação através dos dois pastores. É o caso dos prefeitos de Jandira (SP), Doutor Sato, de Dracena (SP), André Kozan, de Guarani D’Oeste (SP), Nilson Caffer, de Israelândia (GO), Adelícia Moura, de Jaupaci (GO), Laerte Dourado, de Ceres (GO), Edmario de Castro Barbosa e de Ijaci (MG), Fabiano Moreti.
A atuaçao ilegal dos dois pastores evangélicos junto ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, vai ser investigada pela Polícia Federal. Os prefeitos serão chamados para prestar depoimento.