Jornal ironiza 'conselho' de Hillary, a candidata derrotada, ao forjador Steele: "Minta, trapaceie"

O chamado Russiagate – a fraudulenta história de um complô de Moscou ‘para prejudicar Hillary e eleger Trump em 2016’ -, desabou de vez no início do mês com o indiciamento, pelo promotor especial John Durhan, de Igor Danchenko, principal fonte do ‘Dossiê Steele’, desmascarado em 39 páginas de novas evidências. A acusação de Durhan também demonstra que o FBI sabia das mentiras de Danchenko.

Como assinalou o historiador e articulista da RT, Paul Robinson, “o último prego no caixão da narrativa do conluio veio com a prisão neste mês do homem que compilou o dossiê” para Steele.

Ele acrescenta que a reação da ‘punditocracia’ ocidental – os sabichões que deitam opinião sobre tudo e todos na mídia – “ecoou aquela que se seguiu ao fracasso em encontrar as armas de destruição em massa do Iraque”: “negação de alguns”; outros dizendo agora que “nunca acreditaram na história”; e, por último, os que insistem em que foram “deliberadamente enganados” pela Rússia.

Na sequência, na mídia começaram as declarações buscando salvar a face, com os jornalistas Devlin Barret e Tom Jackman, dizendo que as acusações a Danchenko lançavam “uma nova incerteza sobre algumas reportagens anteriores sobre o dossiê por organizações de notícias, incluindo o The Washington Post.”

Artigo de opinião no The New York Times assinalou que “o Dossiê Steele indiciou a mídia”, acrescentando que “muitos jornalistas estavam demasiado ansiosos para provar o que eles pensavam que já sabiam sobre Trump”.

O vice-editor de opinião da Newsweek, Batya Ungar-Sargon, foi ao ar para discutir a “ironia de jornalistas americanos se apaixonarem pela desinformação russa em massa porque confirmou no que eles * realmente * queriam acreditar”.

Max Seddon, do Financial Times, disse pelo Twitter que “a lição mais notável da saga do dossiê Steele para mim foi a facilidade com que pode lavar fofoca do lixo na mídia que não passaria por um editor de jornal de universidade se você a camuflasse de inteligência bruta de espiões super-heróis”.

Como ironizou Robinson, porque você não falou isso antes?

Foi o ‘Russiagate’ que ajudou a levar o atual estado de relações entre as duas maiores superpotências nucleares – que podem destruir o planeta mutuamente várias vezes – ao desastroso estado atual, com a relação com Moscou desfigurada a uma querela de política intestina dos EUA, com milhares de joes, johns e marys no país inteiro acreditando que ‘Putin’ é um “parça” de Trump, como nos esquetes do Saturday Night Live, representado por Alec Baldwin, o do tiro infeliz na diretora de fotografia no set de filmagem de um bang bang.

De certa forma, o roteiro da fraude do “Russiagate” repete o roteiro da fraude que serviu de pretexto para a invasão do Iraque, feita sob as inexistentes “armas de destruição em massa de Saddam”.

Um dossiê, encomendado aos espiões britânicos, e reverberado pela mídia norte-americana, sob o lema de Goebbels de repetir mil vezes a mentira, até ser proclamada “verdade”.

A única base de realidade na avalanche de invencionices do Russiagate era que, depois do golpe da CIA com os nazistas em Kiev, apoiado por Hillary, Moscou não tinha a menor simpatia por ela. Aliás, o principal da pilhagem neoliberal da Rússia se deu durante os “bons anos” de Bill Clinton na Casa Branca.

A campanha à presidência de Hillary Clinton de 2016 pagou à firma de advocacia Perkins Coie para produzir sujeira sobre Donald Trump e esta contratou a Fusion GPS, uma obscura firma de ‘pesquisa’ dirigida por um ex-repórter do Wall Street Journal.

A Fusion GPS por sua vez contratou a empresa britânica de espionagem Orbis para encontrar (ou fabricar) a sujeira sobre Trump, com o “ex” espião britânico do MI6 Christopher Steele encarregado de parir o dossiê encomendado.

Steele convocou Igor Danchenko, um russo que mora nos Estados Unidos e atua no reacionário ‘think tank’ Brookings Institution, com o qual Hillary tem relação, para fornecer histórias para o enredo do Russiagate.

Danchenko apelou então, para Chuck Dolan, um operativo de Relações Públicas, há décadas ligado aos Clinton, e que tinha um relacionamento com o Kremlin, por atendido a Gazprom em episódio anterior, e que estava então envolvido na realização de uma conferência de negócios em Moscou.

As conversas com Dolan – “em meio ao álcool”, Danchenko diria depois a FBI – foram dramatizadas por ele e enviadas a Steele.

O ‘ex’-espião britânico revisou tudo, apimentou o enredo [o ‘chuveiro dourado’ de Trump com prostitutas em uma suíte de hotel em Moscou] e estava pronto o ‘dossiê’, que foi repassado pela Fusion GPS para a mídia e o FBI.

Em outubro de 2016, o FBI usou o dossiê Steele para obter um aplicativo de escuta telefônica para espionar a campanha Trump. Continuou a usar o dossiê Steele para renovar seu pedido de espionagem, mesmo quando já sabia que o dossiê não passava de um disparate.

No ano seguinte, Danchenko confessou ao FBI que a corroboração para as principais afirmações do dossiê era zero e que, ao invés de falar com funcionários do Kremlin, como Steele dizia, ele confiara em “boatos” em “conversas com amigos”.