Os desembolsos – volume de empréstimos – do banco de fomento no primeiro ano do

governo Bolsonaro registraram uma queda real (já descontada a inflação) de 23,4% em relação
ao ano 2018. Foram apenas 55,3 bilhões desembolsados pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2019, segundo informou a direção do banco
na quarta-feira (11). É o menor volume desde 1996, quando somou R$ 38,85 bilhões (em
valores corrigidos pela inflação). Em 2018, os desembolsos somaram R$ 69,3 bilhões.
As quedas foram generalizadas: para a indústria, o desembolso recuou 28%, para R$ 8,816
bilhões; no setor de infraestrutura, a queda foi de -20%, para R$ 24,4 bilhões. Nos segmentos
de comércio e serviços, os desembolsos também desabaram: -48%, para R$ 6,222 bilhões. Só o
setor agropecuário cresceu: +8%, um total de R$ 15,87 bilhões.
Para as micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), que responderam por 48,4% do total
emprestado, a queda foi de 13% (somando R$ 26,78 bilhões). Entre as grandes empresas, os
desembolsos também caíram: -26%, para R$ 28,52 bilhões.
A aprovação de novos financiamentos, na mesma base de comparação, também despencou
em 34%. No total de R$ 63,1 bilhões, por setor, apresentou queda de 36% para a indústria,
39% para infraestrutura e 59% para comércio e serviços.
As novas consultas no mesmo sentido caíram 37%. Segundo levantamento do Valor, as
consultas por novos empréstimos encerraram o ano passado no menor patamar em 24 anos.
Todos os quatro grandes setores da economia mostraram recuo nas consultas em 2019 na
comparação com 2018.
Escalado por Paulo Guedes para transformar o BNDES numa “butique da Faria Lima”, o amigo
dos filhos de Bolsonaro, Gustavo Montezano, está cumprindo à risca as metas exigidas por
Guedes: transferir R$ 124 bilhões para o Tesouro Nacional e usar no pagamento da dívida
pública (devolução antecipada de empréstimo), desviar recursos para abrir uma “caixa-preta”
que não existia (com a entrega de R$ 48 bilhões do dinheiro público para uma empresa norte-
americana), torrar as ações da Petrobrás pertencentes ao BNDES e transformar o BNDES em
banco a serviço das privatizações.
“A Eletrobras é prioridade nossa”, declarou Montezano em jantar promovido pela Platinum
Investimentos, em dezembro do ano passado. “Das operações que já estão incluídas no
Programa Nacional de Desestatização, temos como destaque os Correios, que é uma operação
enorme, CBTU, Trensurb, as duas Ceagesp, de Minas e São Paulo”, completou o arrombador
de condomínios alçado a arrombador dos cofres do BNDES à serviço do capital estrangeiro.
Segundo o BNDES, em 2019, foram transferidos R$ 142,2 bilhões ao Tesouro Nacional, sendo
R$ 123 bilhões relativos à dívida com a União (R$ 100 bilhões de antecipação e R$ 23 bilhões
em pagamentos ordinários), R$ 9,5 bilhões a título de dividendos e R$ 9,7 bilhões na forma de
tributos. Grande parte dos recursos retirados do BNDES foram usados por Guedes para reduzir
a dívida do setor público, e a dívida aumentou.
Já os investimentos desabaram. No quarto trimestre do ano passado, ante o trimestre
anterior, os investimentos caíram 3,3%. E ainda que tenha tenha registrado 2,2% no
acumulado de todo o ano de 2019, ficou abaixo dos 3,9% de 2018.
Os péssimos resultados operacionais do BNDES no primeiro ano do governo Bolsonaro
refletem o propósito do atual governo de esvaziar o papel de fomento que a instituição
cumpriu desde sua fundação em 1952.
Função essa que garantiu durante várias décadas que as empresas conseguissem dinheiro para
investimentos de longo prazo a taxas de juros compatíveis, com linhas como o Finame,

especialmente dirigidas para indústrias.
Segundo Luis Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES, condenou o esvaziamento
do banco de fomento. “Estão tirando o BNDES num momento em que a oferta de crédito de
longo prazo é crucial para a volta do investimento”, declarou ao Valor após a divulgação do PIB
de apenas 1,1% em 2019.
Já Montezano minimizou o baixo volume dos desembolsos. “A gente não está nem um pouco
preocupado se desembolsou 55 ou 65 ou 50”, declarou.
O banco apresentou um lucro líquido de R$ 17,7 bilhões em 2019. Sua aparente exuberância,
apresentado inclusive como o maior que o banco já teve, não consegue esconder a decadência
dos dados de desembolsos e a queima de patrimônio.
Dos 17,7 bilhões de lucro do BNDES, R$ 16,25 bilhões foram resultado da alienação de ativos
feitas durante o ano. O banco se desfez de ações da maior estatal do país, a Petrobrás, além de
ações em outras empresas como a Vale, Fíbria/Suzano e Marfrig.
O lucro bruto de R$ 11,4 bilhões vem dos saldos dos financiamentos feitos de vários anos
atrás. A carteira de crédito em dezembro de 2019 totalizava R$ 441,8 bilhões. Em dezembro de
2018, era de R$ 520 bilhões.