Deputados repudiam favorecimento de pastores nas verbas do MEC
“Minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar, porque foi um pedido especial que o presidente fez para mim.” A declaração do ministro da Educação, Milton Ribeiro, divulgada pela imprensa, gerou forte reação de parlamentares nesta terça-feira (22) e aponta um esquema de favorecimento para liberação de verbas dentro do MEC a pedido de Jair Bolsonaro.
Na conversa gravada, Ribeiro admite que prioriza o atendimento a prefeitos que chegam ao ministério por meio dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Falando a dirigentes municipais dentro do ministério, Ribeiro disse que segue ordem do presidente.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) classificou o episódio como escândalo e afirmou que o “Brasil precisa juntar o que resta de seus pudores republicanos para enfrentar e varrer essa corja do poder”.
“Pesquisadores da Capes estão há nove anos sem aumento nas bolsas. O MEC comanda o desmonte, enquanto pastores abrem as torneiras dos cofres públicos e embolsam o “dízimo”. Bolsonaro quer transformar o Brasil numa teocracia dirigida por mercadores da fé. É um escândalo. O país não aguenta mais”, destacou.
Para a deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA) transformaram o MEC “em um trambique de igrejas”. “Então o Bolsonaro mandou o ministro da Educação dar verba para pastores? Transformaram o MEC, que deveria garantir e sustentar uma educação pública, gratuita e de qualidade, em um trambique de igrejas? Escute o áudio e me diga se isso não é mais um escândalo desse governo! Desviar dinheiro da educação para beneficiar pastores a pedido de Bolsonaro é corrupção! É dinheiro público de assistência estudantil, creche e transporte escolar indo para base eleitoral bolsonarista. Não vamos aceitar. Favorecer amigos com dinheiro público em uma administração pública é crime!”, disse Alice.
Vice-líder da Minoria, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), vice-presidenta nacional do partido, cobrou ação do procurador-geral da República, Augusto Aras sobre o caso. “Já faz quase 20 horas que o áudio do ministro da Educação foi divulgado e nada do PGR. Por onde anda? O que Aras pretende fazer sobre o pedido de Bolsonaro para priorizar verba da Educação a pastores? Uma coisa é certa: o presidente e seu ministro não deveriam estar onde estão”, disse.
Bancada evangélica
A repercussão do vazamento do áudio pegou tão mal para a base governista que mesmo aliados do governo estão estudando retaliações. A bancada evangélica da Câmara deu prazo de 24 horas para que o ministro da Educação explique os áudios.
De acordo com a coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, o recado foi dado para o ministro pelo líder da bancada, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). Os parlamentares exigem que Ribeiro convoque uma entrevista coletiva para esclarecer o ocorrido, pois não iriam “defender o indefensável”.
Explicações para todos os lados
Parlamentares da Oposição também cobram explicações e acreditam que o caso possa levar à queda de Ribeiro da Pasta. Deputados afirmam que vão acionar a Procuradoria-Geral da República (PGR) para que o ministro Ribeiro seja investigado por suspeita de improbidade administrativa e crime de responsabilidade, entre outras irregularidades.
Nas redes sociais o tema também ganhou destaque. Internautas e entidades ligadas à educação estão pedindo a demissão de Ribeiro.
“A existência de um gabinete paralelo é inadmissível. A atuação de Milton Ribeiro à frente do MEC sempre foi insuficiente. Porém, a revelação do escândalo da existência de um gabinete paralelo torna ainda mais vergonhoso e criminoso o comando do ministro. Favorecer pastores a pedido de Bolsonaro é o fim”, afirmou a presidente da União Brasileira de Estudantes (UNE), Bruna Brelaz.
Por Christiane Peres
(PL)