O avanço da agenda privatista do governo Bolsonaro intensificou a reação de parlamentares contra a venda dos Correios. Esta semana, em pronunciamento em cadeia nacional, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, defendeu a privatização da estatal e afirmou que o projeto (PL 591/21) deverá ser pautado ainda esta semana na Câmara.

Para o líder do PCdoB na Câmara, o deputado federal Renildo Calheiros (PE), os Correios cumprem papel fundamental para uma integração nacional, tornando os serviços essenciais até mesmo a áreas de acesso difícil. Segundo ele, o texto é inconstitucional e não deveria estar na pauta prioritária do governo.

“Estamos mobilizados para impedir a aprovação deste projeto. A proposta é inconstitucional. É inaceitável que o governo Bolsonaro estimule o desmonte da empresa. Já há sérios problemas surgem e de sustento agravados pela pandemia de coronavírus. Falta diálogo com a sociedade e os trabalhadores da empresa. O projeto cria o Sistema Nacional de Serviços Postais, permitindo múltiplos operadores sem exigir contrapartidas, fragilizando o seu faturamento. A Constituição Federal, no artigo 21, define que serviços postais e correio devem ser coletados pela União. É absurdo que o governo Bolsonaro gaste recursos públicos em propagandas mentirosas em defesa da privatização ”, afirmou o parlamentar.

Conforme dados divulgados pelo portal UOL, os Correios tiveram lucro nos últimos 20 anos, repassando 73% ao governo federal, seu único acionista. No total, a empresa acumulou mais de R$ 12 bilhões entre 2001 e 2020 e não depende do Tesouro para se manter. Mas, para além dos números, os Correios cumprem importante papel social, ao chegar onde diversos serviços privados não chegam.

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) também criticou a proposta e a campanha feita pelo governo para convencimento da população da necessidade de venda da estatal. “É difícil explicar o inexplicável: vender uma empresa lucrativa e respeitada. Lutaremos contra mais esse crime dos falsos patriotas”, disse.

O deputado federal Daniel Almeida (PCdoB-BA) reiterou a importância da luta contra a privatização dos Correios. “É uma empresa que chega em cada canto do país, do Norte ao Sul, e nos lugares de menor população e difícil acesso. Além de oferecer serviços como a distribuição das urnas eletrônicas, provas do Enem e serviços que outras empresas não realizam. O argumento de que os Correios onera o Estado é mentiroso! Se a privatização vingar, a medida causará impactos negativos na população. Vai enriquecer os mais ricos e maltratar os mais pobres, recrudescendo o isolamento de comunidades que já se encontram em vulnerabilidade social. É um caminho no sentido da exclusão do exercício da cidadania e a desresponsabilização do papel do Estado de promover a integração entre as pessoas”, explicou.

A deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA) também condenou a proposta do governo Bolsonaro. “Querem vender o Brasil a toque de caixa! A privatização dos Correios pode ser votada até sexta-feira. Será uma batalha difícil e toda mobilização é bem-vinda. Os Correios é uma empresa lucrativa, fundamental para o serviço de entrega e postagens em todo o país, que emprega mais de 100 mil pessoas. Privatizar os Correios é um erro!”

Mobilização

A proposta do governo também é criticada pelos trabalhadores dos Correios, que prometem mobilização para impedir o avanço da proposta.

Segundo o secretário de Comunicação da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), Emerson Marinho, o sindicato de Brasília já está organizado para realizar um ato de repúdio contra a privatização nesta quinta-feira (5), às 15h, em frente ao Congresso Nacional.

 

Por Christiane Peres

 

(PL)